Os males crônicos da humanidade

Prólogo

Hoje acordei cedo... Mais cedo do que normalmente faço. O ritual costumeiro foi substituído por um espreguiçar forte e um bocejo demorado. Nesse exato momento veio-me à mente, como um facho de luz radiante, a questão proposta: Quais são os verdadeiros males crônicos da humanidade? Creio que o ser humano que não revê suas atitudes nem sempre será capaz de enxergar um único mal que se instalou, criou raízes em sua vida.

Para mim, salvo outro juízo, os males crônicos da humanidade, não necessariamente nesta ordem, são: cânceres, medo pela insegurança, doenças cardiovasculares, guerras, desamor, comodismo (ócio), orgulho, ansiedade, capitalismo selvagem, fome, egoísmo, intolerância, preconceitos, ilusões, cupidez, falta de sentimento religioso, ausência de respeito aos iguais e desiguais, descaso com a natureza, crianças, adolescentes, mulheres, idosos, animais etc. Algum leitor (a) mais perspicaz poderá perguntar:

“Você poderia resumir os males crônicos da humanidade em uma só palavra?”. Sim! Todos esses males supracitados e alguns inominados e negligenciados resumem-se na palavra PREOCUPAÇÃO, isto é, ESTRESSE.

EXPLICANDO MELHOR OS MALES CRÔNICOS DA HUMANIDADE

A PREOCUPAÇÃO ou ESTRESSE é um estado gerado pela reação do organismo à excitação emocional, com o aumento da secreção de adrenalina e a perturbação da homeostase. Provoca esgotamento físico e/ou emocional causado por uma situação difícil, ger. prolongada (doença, problemas financeiros, profissionais ou afetivos, desilusões de toda sorte etc.). Entendo que a evolução do estresse é a malévola depressão e vice-versa!

Renomados estudiosos afirmam que o estresse pode ser causado pela ansiedade e pela depressão devido à mudança brusca no estilo de vida e a exposição a um determinado ambiente, que leva a pessoa a sentir um determinado tipo de angústia. Quando os sintomas de estresse persistem por um longo intervalo de tempo, podem ocorrer sentimentos de evasão (ligados à ansiedade e depressão). Os nossos mecanismos de defesa passam a não responder de uma forma eficaz, aumentando assim a possibilidade de vir a ocorrer doenças, especialmente cardiovasculares.

Exemplos de estressores: desprezo amoroso; dor e mágoa; luz forte; níveis altos de som; eventos: nascimentos, morte, guerras, reuniões, casamentos, divórcios, mudanças, doenças crónicas, desemprego e amnésia; responsabilidades: dívidas não pagas e falta de dinheiro; trabalho/estudo: intimidação ("bullying"), provas, tráfego lento e prazos pequenos para projetos; relacionamento pessoal: conflito e decepção; estilo de vida: comidas não saudáveis, fumo, alcoolismo e insônia; exposição de estresse permanente na infância (abuso sexual infantil).

Existem situações que causam males irremediáveis à humanidade e sem duvidas trazem para o mundo a miséria e intolerância em todas as sociedades atuais. Sem duvidas que o ser humano é responsável pelos seus atos e pelo meio em que vive, infelizmente temos influencias negativas sobre nossas vidas e nossas escolhas que nos fazem ser mais egoístas e individualistas. A bondade e a tolerância são doces ilusões no mundo atual.

QUAL A MELHOR SOLUÇÃO PARA INIBIR O ESTRESSE?

A resposta mais simples seria: Combater as causas, isto é, os estressores! Como? Ora, ora, ora... Em pleno século 21 de tantas conquistas tecnológicas e cientificas é difícil de acreditar que ainda não acabamos com o esbanjamento dos recursos naturais (alimentos, água, outros), a corrupção, a impunidade, a fome, a miséria; com as guerras e com as intolerâncias que tomaram conta da humanidade e hoje nos direcionam para um abismo ou caminho sem volta.

O homem deixou de lado o ético e a moralidade e se entregou às coisas perversas do mundo. Os interesses individuais, em detrimento dos interesses coletivos precisam ser combatidos com a aplicação das leis. Criamos e banalizamos tantas coisas ruins que hoje sofremos as consequências desse mal que nos vem de encontro para destruir nossos mais coloridos sonhos idealizados.

Creio que a melhor forma de acabar com os males da humanidade seja a educação, a conscientização, e, principalmente, o amor ao próximo que hoje esquecemos totalmente e que muitos enaltecem em suas campanhas de falso moralismo nato, em que a generosidade e a bondade se tornaram apenas “Marketing” e tudo é feito com base em interesses pessoais e não em sinceridade.

Desse modo fica claro e evidente a frase de Einstein que dizia em fortes haustos o quanto, às vezes, somos desprezíveis. Educação, tolerância e amor ao próximo já seria um excelente começo para inibir os males da humanidade, o crescimento do estresse (preocupação).

CONCLUSÃO

No texto escrito e publicado aqui no Recanto das Letras, sob o tema: “Elevada decadência social” escrevi sem receio de estar cometendo excessiva heresia: “(...) Preciso sair dessa cabotinice e mesmice de querer ser “a palmatória do mundo” e consertar o que não tem jeito. (...)”.

Contudo, não quero gritar, por escritos, só pela indignação ao vivenciar desmandos e descasos. Quero espernear para dificultar essas idiossincrasias crescentes pelo comodismo, esses desperdícios dos recursos naturais pela ignorância ou descaso com o porvir. Não quero ser conivente pela omissão e tampouco abusar da anáfora ao repetir palavras de textos meus anteriores.

Não me escusarei, jamais, por não dar a devida atenção ao que preestabelece o “caput” do artigo 4º, do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA:

“Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.”.

Ora, esses direitos podem e deviam (devem) ser estendidos a todos os seres humanos e aos animais (com as devidas ressalvas pelas peculiaridades das espécies). Por que isso é impossível? Pelo fato de os interesses individuais sobrepujarem os interesses coletivos. Existe o Estatuto da Mulher: LEI Nº 7.353, DE 29 DE AGOSTO DE 1985. Cria o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher - CNDM e dá outras providências. (Alterada pela LEI Nº 8.028/12.04.1990 já inserida no texto).

Há o Estatuto do Idoso: LEI No 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003. Por que se dão tantos direitos, nas leis, no papel, se não se consegue ao menos o simples direito de ir e vir? O direito a uma assistência médica digna e em outras áreas é utopia: Segurança, por exemplo? É um engodo. Tudo engodo e nada mais!

RESUMO DA CONCLUSÃO

Dois entre cada três idosos vítimas de violência no Distrito Federal são agredidos pelos próprios filhos, segundo uma pesquisa da Central Judicial do Idoso. O órgão, ligado ao Tribunal de Justiça, ao Ministério Público e à Defensoria Pública, realizou o estudo com base em 2.379 casos coletados entre janeiro de 2008 e dezembro de 2011.

A violência contra a pessoa idosa está se tornando um lugar tão comum que não se percebe mais isso. O filho parte do seguinte pressuposto: meu pai e minha mãe já são velhos e por conta da idade não têm mais condição de decidir sobre o patrimônio deles. Então eu vou cuidar de tudo, vou me apossar de tudo e vou decidir o que fazer.

Isso é uma violência, só que muitas vezes esse filho não entende isso como uma violência. E muitas vezes o próprio idoso não consegue visualizar. Ele entende que está sendo desrespeitado na sua liberdade de decisão, mas não consegue encarar que isso é uma violência.

A pesquisa também apontou que 60% dos casos de violência são cometidos contra a mulher idosa. É mais marcante contra ela justamente por causa dessa relação de maior fragilidade e dependência.

Qual era o contexto dessa mulher idosa de hoje? De que época ela é? Qual era o papel dela na sociedade? Era o papel de cuidadora dos filhos, de cuidar do lar, do marido, muito pouco saía para o mercado de trabalho, vivia em uma relação de dependência do provedor. E essa relação muitas vezes é reproduzida hoje.

A VIOLÊNCIA CONTRA AS NOSSAS CRIANÇAS

Não há o que se comemorar no dia quatro de junho o Dia Internacional das Crianças Vítimas de Agressão. É o momento, isso sim, de unir os homens de bem e refletirmos sobre algo terrível: a violência contra os menores, inocentes e incapazes.

É preciso ficarmos atentos para o significado dessa agressão e nos questionarmos de que tipo de agressão, afinal, estamos escrevendo. É certo, não seria só a agressão física, a mais comum e a mais dolorosa do ponto de vista biológico. Estamos escrevendo sobre a violência que molda e/ou transforma caracteres refletindo-se de forma perversa em toda a humanidade.

VIOLÊNCIA ATÉ NA NOVELA GLOBAL: “Lado a Lado”

Elias (Cauê Campos) encasquetou que quer estudar e não para de pedir isso para a mãe de criação, mas Zenaide (Ana Carbatti) não está disposta a deixar que ele fique zanzando de um lado para o outro. O menino sugere que a mãe (Elias não sabe que ela não é sua mãe biológica) peça ajuda à moça bonita que ele sempre vê durante os passeios na Rua do Ouvidor.

Zenaide corta o sonho dele, dizendo que a “madame” não sabe sequer quem ele é. Determinado, Elias dá outra opção para Zenaide e pede para estudar na escola que será inaugurada no morro. ”Na escola daquela Isabel (mãe biológica do Elias) é que você nunca vai estudar! Vai morrer ignorante, entendeu agora?”, diz, irada.

Elias não se dá por vencido e quer saber o que significa isso, isto é, a palavra "ignorante". A discussão é interrompida por Olavo (Jorge Amorim), que avisa que já está na hora da aula de capoeira. Elias segue os irmãos, mas Zenaide o segura aos safanões e grita:

“Você só vai fazer o que eu quero, onde eu quero, do jeito que eu quero”, ameaça, pegando um vidro de pimenta. “Vai começar aprendendo a ficar calado”, diz e passa a pimenta na boca do menino. Sem dó nem piedade, ela sai do barraco, bate a porta e tranca por fora. Elias chora, mas fica lá dentro sozinho.

Dá para imaginar uma maldade dessa natureza contra uma criança? A cena foi ao ar na segunda-feira, 14/01/2013. Sou noveleiro, mas com a cena fiquei indignado! O pior é a certeza de que isso acontece por esse mundo afora de forma banalizada.

Seria essa violência a mais absurda? Claro que não. Todos os tipos de agressão, sejam elas quais forem, trazem danos ao indivíduo, e, quando se trata de crianças, aí o problema se agrava porque o agredido hoje poderá se transformar, NÃO NECESSARIAMENTE, no agressor do futuro. A criança raivosa poderá, por trauma, se transformar no adulto furioso e criminoso pela forma como foi admoestado.

OUTRO EXEMPLO DE VIOLÊNCIA CONTRA INCAPAZ

“A licença de funcionamento da escola onde a diretora foi flagrada agredindo crianças foi suspensa pela Secretaria Municipal da Educação de São Paulo. A mãe de um ex-aluno mostrou à polícia o laudo que mostra que o filho dela sofria algum mal-estar físico ou emocional na escola quando estudava lá, há 11 anos.” – (Jornal Hoje - Edição do dia 07/12/2012).

VIOLÊNCIA CONTRA ANIMAIS

“Imagens gravadas há cinco meses por uma testemunha mostram que animais eram maltratados no Pet Shop Quatro Patas, que fica na Rua Pernambuco, no Engenho de Dentro, no subúrbio do Rio. Segundo a testemunha, que ficou indignada com as agressões, os maus-tratos eram constantes e os animais gritavam de dor. Alguns saíam machucados e traumatizados com as pancadas que levavam.” – (Reportagem publicada pelo G1 e outros noticiosos escritos e televisivos).

Enfim, o ser humano precisa sair desse rumo alienante, adquirir senso crítico, decidir-se e participar. Não se pode transferir sua responsabilidade ao tempo. Em todo ser humano existe potencial emancipatório. Há que se cultivar a reflexão.

Leis, organizações, programas governamentais, tramas políticas, desemprego, privilégios de uns e carências de outros, reformas e medidas protecionistas são produto de decisão e ação das pessoas, de grupos e nações.

Setores organizados lutam ferozmente para impedir mudanças sociais, para sobrepor seus lucros às necessidades da população. Não há fatalismo cronológico. Pode haver e está havendo banditismo social, político e econômico no plano nacional e internacional. Lamento e ouso afirmar, sem receio de errar: Esses são os males crônicos da humanidade.

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NOTAS REFERENCIADAS

– Wikipédia, a enciclopédia livre;

– Fragmentos da Obra: ARDUINI, Juvenal. Ousar para reinventar a humanidade. São Paulo, 2002, p. 13-19;

– Parte do capítulo (Exibido em 14/01/2013) da novela Lado a Lado, atualmente em exibição na Rede Globo de Televisão;

– Papéis avulsos, rabiscos, fragmentos e outros textos do Autor Wilson Muniz Pereira.