As pessoas são tudo o que importa

Nessa vida a gente primeiro ganha e depois vai perdendo. Tipo: um dia nasce, outro dia morre. E por aí vai, sempre nessa lógica, ao infinito.

E assim também é com as pessoas que passam pela nossa vida. Nós as ganhamos e depois as perdemos, muitas delas. Umas perecem, outras seguem novos rumos. Todavia, todas saem de nosso cotidiano, deixam de coexistir conosco num espaço físico comum. Igualmente saímos da vida de muitas pessoas, até o dia em que inexoravelmente vamos sair desta vida.

Algumas dessas pessoas gostaríamos de tê-las conhecido melhor; outras a gente conheceu bastante e, depois que elas se vão, só então percebemos que não as tivemos por perto tempo suficiente. Mas o legal é que todas elas marcaram a nossa vida de um jeito importante.

Existem as pessoas que ficam e isso é ótimo, pois as pessoas são tudo o que realmente importa nessa vida. As pessoas, todas elas, eu que escrevi e você que lê incluídos. Conviver... Partilhar... Momentos... Horas... Dias... Anos...
Ah, existem tantas pessoas que eu gostaria que tivessem ficado mais tempo na minha vida, que nunca tivessem ido... Mas a vida é o que ela é e não o que ela não é. Isso, “óbvio ululante”, como escrevia na sua coluna de jornal o Paulo Francis. De qualquer forma, foi muito legal elas terem entrado na minha vida, “foi um privilégio ter estado com” elas, como falava no rádio e na TV o Mendes Ribeiro (o pai, não o filho).
Talvez até tenha sido melhor elas terem ido, embora eu não concorde com isso. Mas o que eu sei? Mas o que nós dois sabemos, né leitor? “Há mais coisas entre o céu e a terra...”, já disse Shakespeare pela boca imaginária de Hamlet. Eu só sei com certeza que as pessoas são tudo o que importa nessa vida. E que o amor não permite blefe.

Isso mesmo, o amor não permite blefe. A paixão o permite, o amor não. Paixão é desejo puro, amor é necessidade vital. E ninguém pode brincar com a vida, não é mesmo? Com o fogo a gente pode brincar, embora seja algo perigoso, que pode fugir do controle. Mas com a vida, assim diretamente, não se pode brincar de jeito nenhum, visto que sempre acabará mal para alguém!
Logo, viver é sobreviver, correndo riscos calculados, pois só o amor dá cor pra vida. O resto é preto e branco. No máximo, escala de cinza. Discorda? Então eu digo que tu não sabes ainda o que é o amor, vivente.

Amor é quando tu não tens mais nada o que fazer pela pessoa além de segurar a mão dela e tu estares lá no momento necessário fazendo isso. Tipo assim quando tu estavas doente no hospital, os médicos batendo cabeça na tua volta e você desesperado só querendo a mão da tua mãe, aquele calor querido, aquela proteção incondicional, aquele... Amor. O amor é a mão bendita da nossa mãe nos momentos em que estamos completamente soltos no vazio da vida.

A vida é dura. “Viver é muito perigoso”, escreveu Guimarães Rosa. E quando ela resolve se virar contra a pessoa, esta chama a mãe, chama o pai, pede por uma mão amiga, por amor. E amor não é desejo, não tem sexo, é necessidade vital, não admite blefe, pois só ele dá cor pra vida.

“Cuide bem do seu amor”, cantou o Herbert Viana. Concordo com ele. As pessoas são tudo o que importa nessa vida. E essa vida é dura, viver não é para os fracos, mas sim para os fortes. Viver é sobreviver, e a estrutura social permite aos fracos sobreviverem. Bendita sociedade! Benditas mães! Benditos pais! Bendito amor! Que este ano de 2013 seja cheio de saúde, amor e paz para você e para todas as pessoas que nós conhecemos e não conhecemos, caro leitor, pois elas são tudo o que realmente importa nessa vida.


Texto publicado no jornal Portal de Notícias em 04 de janeiro de 2013