Vigiai e orai
Para os descrentes, pode até parecer coisa sem importância, mas a situação requer uma análise mais criteriosa. Estamos vivenciando uma guerra civil, onde criminosos agem livremente e provocam reações adversas na população? Ou um estado de sítio, onde a bandidagem anuncia o toque de recolher e nós fechamos os portões? A escolha é sua?
No último domingo de 2012, um colega foi surpreendido no centro da cidade de Altamira com um presente grego. Os vidros traseiros do carro da família foram totalmente quebrados e o veículo vistoriado criteriosamente, sem esquecer nenhum detalhe. O prejuízo antes do réveillon, R$ 450,00. Para muitos abastados pode parecer troco, mas para um pai de família, um rombo nas contas. Sem falar do emocional das crianças, e o constrangimento de ter um bem invadido dessa forma.
A situação alarmante e revoltante foi denunciada pela vítima à polícia em Altamira, que pouco poderá fazer já que "não houve" testemunhas do crime, e na cidade não há câmeras de segurança. Alguns pontos comerciais, geralmente agências bancárias, já fazem uso desse sistema externo de proteção, mas para infelicidade do meu amigo, o veículo estava bem longe de uma dessas engenhocas. Não estaria, se uma promessa de campanha tivesse se cumprido ainda em 2011.
Para quem não lembra, o ainda secretário de segurança pública do Estado, Luiz Fernandes, quando de sua visita em Altamira, para conhecer a região e anunciar investimentos, prometeu quatro pequenas câmeras em pontos estratégicos da cidade, o que segundo ele, daria início ao SIOPE - Sistema Integrado de Operações Especiais - que integraria as ações da Polícia Militar, Civil, Corpo de Bombeiros e SAMU. Integraria, já que passados dois anos, nenhuma das câmeras ou dos investimentos anunciados foi implantado.
Vale lembrar que a lista citada pelo secretário ainda incluía: reforma e ampliação do Centro de Recuperação de Altamira; retomada das obras da sede do Instituto Médico Legal; construção de uma ala feminina no presídio; readaptação da Delegacia da Mulher e recuperação do prédio da Superintendência de Polícia Civil, incluindo a carceragem da Susipe para presos provisórios, e a criação da DATA - Delegacia para atendimento de jovens em situação de risco.
Como veem, a listagem é grande, e se tivesse sido levada a sério, teria resolvido um número considerável de problemas na região. Dois anos depois, o presídio segue enfrentando crises, tentativas de fuga, apreensões de armas brancas (ainda bem que são só as brancas), celulares. A delegacia da mulher continua sem efetivo em número rasoável, sobrecarregando o trabalho das equipes. O prédio que deveria ser do IML está em ruínas, e as acomodações ao lado de uma UPA não atendem com qualidade aos serviços do Renato Chaves e ainda põem em risco a saúde de pacientes.
Enquanto isso nas ruas, o crack domina e dita as regras entre jovens cada vez mais jovens e adultos. A polícia trabalha, têm viaturas, apoio aéreo, homens treinados, mas assoberbados com tantos casos que poderiam ser resolvidos com uma ação mais eficiente do Estado e da justiça. Como dizem por aí, sem um olho em cada esquina, vigiai e orai, que um dia, a verdadeira justiça há de nos salvar.