Por Onde A Gente Passa... as teorias de Freud e Erickson
FASES DO SER
A teoria de sigmund Freud foi a primeira teoria sistemática do desenvolvimento da personalidade e a primeira a dar especial importância aos primeiros anos do desenvolvimento
do ser humano. Em cada fase do desenvolvimento psicossexual, a libido se direcionará para uma determinada região do corpo, onde ficará localizada a zona erógena
(fonte do prazer erótico). Freud atribuiu a gênese da personalidade à evolução da #pulsão sexual ou libido; entretanto a Teoria do Desenvolvimento Psicossocial
foi desenvolvida posteriormente por Erik Erikson. Erickson não focou seus estudos no ID e nas motivações conscientes como os demais psicanalistas de corrente freudiana,
mas nas crises do ego no problema da identidade. Freud desenvolveu sua teoria psicossexual enfatizando 4 fases do desenvolvimento da personalidade dando maior destaque
para as 3 primeiras que diz respeito a infância, o que veremos a seguir. Erick Erickson foi além da teoria de Freud; reconhecendo a grande importância dessa etapa,
porém valorizou também as demais como adolescência, idade adulta e velhice. A Teoria Eriksoniana do desenvolvimento humano é dividida em oito fases, mas com algumas
características peculiares.
Segundo a psicanálise freudiana, o desenvolvimento da personalidade se dá através de estágios. Em cada fase, uma determinada região do corpo vai ficando mais sensível
e carecerá de estimulação. A saúde mental de um indivíduo tem relação direta com o grau de sucesso que atinge ao atravessar esses estágios. Erick Erickson dividiu
as fases vitais do homem de acordo com o desenvolvimento psicossocial denominando as 8 "idades evolutivas"; as mesmas são ultrapassadas através das "crises experimentais"
que têm por fim o estabelecimento da identidade do ego. Em cada um dos 8 estágios o ego passa por uma crise que pode ter um desfecho positivo (surge um ego mais
forte e estável) ou um desfecho negativo (gera um ego mais fragilizado). Após cada crise do ego, que dá nome aos estágios psicossociais, ocorre a reformulação e
reestruturação da personalidade.
A primeira fase na teoria de Sigmund Freud é denominada de "fase oral" que vai do nascimento até entre os 12 e 18 meses de vida. A zona erógena é a boca e toda região
oral. Freud denominou esse período de narcisismo primário, porque não há ainda relações com objetos externos; o mundo é percebido através da "incorporação" da
realidade externa predominantemente pela boca("sou o que me é dado" na relação com a mãe). Esse estágio é dividido em duas etapas. A primeira etapa é denominada
de oral passivo, quando ainda não ocorreu a dentição; a outra etapa coincide com o aparecimento da dentição, é o período oral ativo ou agressivo.
A primeira idade na teoria de Erickson é a da "confiança básica X desconfiança básica". Análoga a teoria freudiana, esta idade está pautada na relação entre o bebê
e sua mãe; nesta idade a criança aprenderá o que é ter ou não confiança. A confiança consiste na aceitação em que a mãe pode se ausentar numa certeza de que ela
retornará. O bebê ganha experiência no contato com os adultos, aprendendo a confiar e a depender deles, assim como a confiar em si mesmo. sendo a desconfiança básica
, a parte negativa deste estágio causada pela ausência demorada da mãe acarretando-o um senso de abandono, que é equilibrada com a segurança proporcionada pela confiança.
A segunda fase em Freud é denominada de "fase anal" que vai dos 12 meses até os 3-4 anos. Caracterizada pela tomada de consciência da defecação por parte da criança;
a libido está localizada na região anal, sendo a zona erógena dessa fase. Também há duas etapas nessa fase. A primeira é denominada de anal expulsivo: quando a criança
sente prazer em controlar a expulsão das fezes; a etapa seguinte é denominada de anal retentivo: a criança já é capaz de controlar os esfíncteres e percebe que pode
controlar o mundo externo do mesmo modo que se controla internamente (a satisfação é sentida ao reter as fezes).
A segunda idade em Erickson é a "autonomia X vergonha e dúvida"; neste estágio a criança vai aprender quais os seus privilégios, obrigações e limitações ao iniciar
a atividade exploratória do seu meio. Há por ela, uma necessidade de auto-controle e de aceitação do controle por partes de outrem desenvolvendo nela um senso de
autonomia. O lado negativo deste estágio é a vergonha e a dúvida ao perder o senso de autocontrole. Tal idade é equiparada com a fase anal freudiana.
A terceira fase para Freud é a "fase fálica" que vai dos 3-4 anos até os 5-6 anos. Nessa época, as pulsões se fixam no aparelho genital. A criança descobre seu
sexo e começa a descobrir o prazer que pode obter graças aos toques: é o período da masturbação infantil direta ou indireta (obtida nas experiências de micção e
de ser lavado).
A terceira idade ericksoniana é denominada de "Iniciativa Versus Culpa": nesta etapa a criança encontra-se mais avançada e organizada tanto a nível físico
como mental. Comparada à fase fálica de Sigmund Freud é somada a iniciativa com à confiança e à autonomia, adquiridas nas etapas anteriores. O senso de responsabilidade
também pode ser desenvolvido durante esta terceira crise do ego. Nela, a criança sente a necessidade de realizar tarefas e cumprir papéis. No entanto
este estágio define-se também como perigoso, pois a criança busca fixamente atingir as suas metas que implicam fantasias genitais e o uso de meios agressivos a manipulativos
para alcançar essas metas. Na Teoria de Freud a principal fixação ocorre neste período com o Complexo de Édipo, caracterizado pela fixação genital pelo progenitor
do sexo oposto.
A próxima fase para Sigmund Freud, a "fase de latência" (de 5-6 anos até 12 anos), não muito considerado como a quarta fase do desenvolvimento psicossexual, mais
um período intermediário entre a genitalidade infantil e a adulta, uma vez que não há nova organização de zona erógena. Esses três primeiros estágios da personalidade
são denominados de pré genitais e foram considerados, por Freud, como decisivos na formação da mesma. Por fim chegamos ao real quarto estágio "fase genital":
é uma época onde os hormônios sexuais estão começando a agir, levando a um ressurgimento do instinto sexual e dos conflitos anteriores. A libido não estará localizada
no próprio corpo e o adolescente começa a procurar relacionamentos heterossexuais, ou homossexuais, que envolvam gratificações mútuas. "Alcançar a fase genital
constitui, para a psicanálise, atingir o pleno desenvolvimento do adulto normal".
A quarta idade na teoria do desenvolvimento psicossocial de Erick Erickson, aquela "fase de latência" que em Freud teve pouco destaque, é o estágio no qual a criança
aprende mais sobre as normas sociais e o que os adultos valorizam surgindo a necessidade de controle da sua imaginação visando dedicar-se atenciosamente a educação
formal. Um perigo existente que pode se caracterizar pelo sentimento de inferioridade quando há, devido a sensibilidade do ego, incapacidade de dominar as tarefas
que são propostas por pais e/ou professores. Entretanto, tarefas realizadas de maneira satisfatória remetem à ideia de perseverança gerando recompensa a longo prazo
e competência no trabalho.
Ultrapassando as "fronteiras teóricas" de Freud, Erickson vai além na sua teoria do desenvolvimento psicossocial estruturando outras 4 idades desse desenvolvimento.
A quinta idade denominada de "Identidade Versus Confusão/Difusão". Este estágio recebe uma grande importância, pois remete o adolescente a dúvidas quanto a sua identidade
quando O mesmo é facilmente influenciado pelas opiniões alheias fazendo com que ele assuma posições variadas em intervalos de tempo muito curtos. Esta quinta idade
vai aproximadamente dos 12 aos 18-20 anos de idade; aqui, o adolescente compreende a sua singularidade e caminha para adquirir uma idade psicossocial no mundo.
Quanto melhor resolvidas as crises anteriores com desfechos positivos na Confiança Básica, Autonomia, Iniciativa e na Diligência dando-lhe lealdade e fidelidade
consigo mesmo, mais facilmente será a superação desta crise do ego.
A sociedade fornece ao adolescente um espaço de experimentação das situações cotidianas, o que faz com que esses sujeitos, repletos de novas potencialidades cognitivas,
sejam levados a explorar e ensaiar novos papéis sociais. É fundamental que nesse período ocorra um dos conceitos eriksonianos chamado de "moratória psicossocial",
que ajuda a conferir tanta relevância a este estágio. Esta moratória é um período de pausa necessária a muitos jovens, de procura de alternativas e de experimentação
de papéis que permitirá ao adolescente um trabalho de elaboração interna. Pode-se fazer aqui também uma comparação deste conceito de"moratória" com o conceito de
"liminaridade" empregado pelo antropólogo Victor Turner, aonde os indivíduos ficam "suspensos" temporariamente da estrutura social que os cerca: as exigências socioculturais
e institucionais.
Um outro ponto que confere a grande importância desta etapa está na construção da sua própria identidade (o Sentimento de identidade) o qual é, segundo Erick Erickson,
o sentimento de ser o mesmo ao longo da vida ao atravessar mudanças pessoais e situações diversas, ou seja, um senso de identidade contínua. Vale frisar aqui, a
importância de se passar positivamente pelas fases anteriores, uma vez que essas etapas a priori podem deixar sinais que vão influenciar na superação dessa crise
desvencilhando uma perspectiva histórica na qual o adolescente vai se perceber e integrar elementos
identitários adquiridos nas idades anteriores. Fazendo aqui,
uma analogia com o conceito de "trauma" empregado por Sigmund Freud nas primárias fases do seu desenvolvimento pscicossexual quando ocorre um recalque de uma determinada
situação para o inconsciente vindo a refletir posteriormente na vida social e afetiva.
O desfecho negativo desta quinta idade pode culminar numa identidade difusa a se caracterizar pela noção do "eu incoerente" desarticulada e incompleta causada pela
não permissão do período normal de moratória advindas de questões sociais, familiares e/ou pessoais. Isso se reflete no sentimento de confusão/difusão de quem ainda
não se descobriu a si próprio e não sabe o que pretende tendo assim dificuldades de escolhas. desembocando então, numa identidade negativa, em que o adolescente
seleciona identidades que são indesejáveis para a família e seu meio social. "A ritualização correspondente a este estágio é a ideologia em que a perversão da mesma
é o totalismo, traduzindo-se a primeira pela solidariedade de convicção e a segunda na preocupação pelo que parece ser inquestionável". Assim, no trajeto final da
adolescência é que se obtém a chamada "identidade realizada", isto é, aquele que adquiriu verdadeiramente a sua própria identidade.
Na sexta identidade, denominada de "intimidade X isolamento", aonde os jovens, agora adultos e com a identidade estabilizada, encontram-se preparados para unir-se
a outras pessoas num relacionamento íntimo de parceria e associação: "Os indivíduos encaram a tarefa desenvolvimental de construir relações com os outros numa comunicação
profunda expressa no amor e nas relações de amizade". Havendo desfecho negativo nas etapas anteriores, e consequentemente um ego enfraquecido, o indivíduo tenderá
a um isolamento, aonde a pessoa não consegue compartilhar afetos nas relações íntimas e privadas, que, por sua vez, pode ter um caráter breve ou estendido. O período
curto desse isolamento não pode ser considerado necessariamente negativo, uma vez que o ego precisa desse momento reflexivo para sua evolução. No entanto, quando
tal período se torna longo pode culminar em sérios problemas de personalidade gerando assim um desfecho negativo desta crise.
Na "Generatividade Versus Estagnação", a sétima idade na teoria ericksoniana, caracterizada pela necessidade do indivíduo em gerar qualquer coisa em diversas esferas
da vida que o faça sentir-se produtor de algo, ou seja, a geração de algo que o sobreviva pelas gerações seguintes. O desfecho negativo desta crise do ego gera o
que Erickson denomina de "estagnação" o que pode ser considerado, muito radicalmente, um estado de "ineficácia e de decadência vital precoce" refletida numa espécie
de egocentrismo.
Oitava e última idade na teoria ericksoniana "Integridade Versus Desespero", também chamada por alguns professores de "culminância ou avaliação",marcada por uma
análise
retrospectiva das fases da vida. Esta fase final do ciclo psicossocial ocorre frequentemente a partir dos 60 anos e tem por característica duas possibilidades de
desfecho pautadas num questionamento «Teve a minha vida sentido ou falhei?»: o positivo, aonde o indivíduo visa organizar seu tempo e se utilizar das experiências
colhidas em prol de viver gratificantemente seus últimos dias de vida; ou o negativo, que se dá na estagnação diante da morte inevitável, quando a carência se faz
presente juntamente com o desespero de esperar o fim da vida com a terrível sensação de não tê-la desfrutado.
referências
GONSALVES, Silvia: "DESENVOLVIMENTO E ESTRUTURA DA PERSONALIDADE NA PERSPECTIVA DA PSICANÁLISE FREUDIANA"
SCHAEFER, Lucia - 2006: "Correlação entre os conceitos básicos de Sigmund Freud, Erick Erickson e Jean Piaget sobre a Psicologia do Desenvolvimento".
"A Teoria Do Desenvolvimento Psicossocial De Erik Erikson" (05/07/2011):
http://www.webartigos.com/articles/8668/1/A-Teoria-Do-Desenvolvimento-Psicossocial-De-Erik-Erikson/pagina1.html
"Teorias da Personalidade" (06/07/2011):
http://teoriaspersonalidade.no.sapo.pt/indice1.htm
Maximiniano J. M. da Silva - terça, 12 de julho de 2011