DENTE CARIADO, MAS HÁLITO DE HORTELÃ
Nunca se viu academias tão lotadas, tantas fórmulas milagrosas de emagrecimento e inúmeras cirurgias plásticas. Fazemos quase o impossível para nos moldar num padrão de vida estabelecido pelos tempos modernos. A busca incessante pela perfeição das formas físicas transforma homens e mulheres em verdadeiras mercadorias. Como sabemos, mercadorias têm preço, qualidade e tempo de vida útil.
Nas baladas os belos corpos são exibidos em vitrines e um tumultuoso desfile de silicones, de roupas cada vez mais minúsculas, transparentes, pessoas se mostrando das mais variadas formas, esquentam as “noites quentes das mercadorias”. Exibem-se em posições que chegam a ter formas ginecológicas, mas isso tem explicação: fomos transformados em produtos, e para o mesmo fim, os mais atraentes e desejados são os mais “consumidos” e depois descartados. Com a mesma proporção, nunca se viu tantas pessoas em depressão, com síndrome do pânico, fobias... Tem gente que tem medo até de sentir medo.
As pessoas estão cada vez mais sozinhas. Não digo isso em relação a sexo, mas sim, a respeito da companhia. Falo sobre um simples passar à noite abraçadinho sem se preocupar com aquelas posições malabarísticas e lindas performances de um atleta olímpico realizadas na cama. Fomos transformados em máquinas. Quando queremos voltar ao estágio humano, o sistema no qual estamos envolvidos não permite. É como se fosse uma arapuca: se encostar o pé, já fica preso.
Quem não se enquadra nesse modelo de vida, torna-se invisível para o mundo. Atente para o que falam quando seus princípios não condizem com o “padrão”. Se não estamos na moda, logo ouvimos – nossa que cafona! Por fora um corpo modificado e refeito, que tenta ocultar o que falta por dentro. Resultado: já há fórmula para adquirir felicidade: “Ter + Estar = felicidade”. Hoje, ser moderno é se esvaziar por dentro e se encher por fora, é ter “dente cariado, mas hálito de hortelã”. Creio que haja ainda uma minoria que prefira parecer desatualizada para o mundo a ser infeliz consigo mesma.