ÊXODO RURAL

ÊXODO RURAL

Na elaboração desta matéria, neste dia 11 de setembro de 1993, meu objetivo maior é oferecer ao leitor uma visão mais ou menos crítica da realidade brasileira, no tocante ao fenômeno êxodo rural, que se apresenta de forma bastante acentuada no Nordeste, quando grandes contingentes de populações rurais, em busca de melhores condições de vida, deslocam-se para os centros urbanos, sobretudo para aqueles dotados de um parque industrial desenvolvido..

Portanto, êxodo rural, como sabemos, nada mais é do que a transferência ou o deslocamento do indivíduo do campo para as cidades. Pode ocorrer, é claro, dentro de um mesmo estado, de um estado para outro, ou, ainda, de uma região para outra, como acontece, por exemplo, com os nordestinos que se deslocam continuamente para o Sudeste do País, especialmente para São Paulo, que é, na realidade, o estado mais rico e mais industrial, não apenas do Centro-Sul, mas de todo o País. E por isso mesmo tornou-se um importante centro de atração populacional a partir dos meados deste século XX, oferecendo melhores perspectivas ou possibilidades econômicas para os indivíduos. Mas, em conseqüência do avanço na área educacional aqui em nossa região, a situação tende a se inverter cada vez mais, uma vez que muitos cursos superiores aqui oferecidos levam grande parte dos formados oriundos de diversas classes sociais a um patamar relativamente elevado, conseguindo assim sua desejada ascensão social. Por isso, migração em grande escala para o sul do País, como São Paulo, por exemplo, é, na realidade, coisa do passado.

Não se pode negar que os fluxos migratórios inter-regionais sempre foram uma constante na história brasileira. E o Nordeste é a principal região de repulsão populacional, destacadamente para o Sudeste. Todavia, é importante saber que os nordestinos migram para todas as regiões brasileiras, sendo, por conseguinte, o brasileiro que mais migra.

Segundo informações, a primeira grande migração de nordestinos ocorreu por ocasião da grande seca do Século XlX: 1877- 1879, quando melancolicamente estes elementos se deslocaram em grande número para a Amazônia, em virtude da exploração da borracha naquela região. É triste, mas é verdade que o nordestino é um indivíduo em constante migração, e não poderia deixar de dizer que a grande maioria é composta de trabalhadores sem qualificação, empregados nos setores da economia que sempre oferecem as piores remunerações.

Ao contrário do que ocorria antigamente, a nossa população brasileira é atualmente mais urbana que rural, em virtude das lamentáveis e precárias condições em que vive nossa população rural, obrigando-a a sair em busca das grandes cidades. Portanto, o melhor fator que justifica o fenômeno do êxodo rural, são, indubitavelmente, tais condições, associadas aos drásticos efeitos causados pelas secas que assolam inevitável e temporariamente a região.

Cumpre destacar que essa permanente saída de pessoas do campo para as cidades envolvem anualmente milhões de indivíduos, e, por esta razão, as cidades estão "inchando", ou crescendo num ritmo assustador, surgindo, consequentemente, os mais variados tipos de problemas para a população, como o desemprego, subemprego, delinqüência, favelização, mendicância, entre outros. A situação nas cidades fica terrivelmente deplorável.

Essa urbanização descontrolada vem gerando uma grave crise urbana que se verifica, uma vez que o crescimento da população, em ritmo acelerado, dá-se bem mais rápido do que a solução dos inúmeros problemas, incluindo-se também aqueles ligados aos serviços públicos e infra-estrutura, que são extremamente precários na grande maioria das cidades dos países subdesenvolvidos.

O certo é que, para diminuir o contínuo e acelerado crescimento das cidades, algumas medidas necessitariam ser tomadas com urgência. Fixar o trabalhador rural no campo, através da implantação de eficientes programas de irrigação, procurando utilizar a mão-de-obra disponível e as terras agricultáveis que existem no Nordeste semi-árido, seria uma das alternativas cabíveis.

Deve-se dar também uma maior proteção ao trabalhador rural, assegurando-lhe diversos direitos, no sentido de amparar as tão sofridas massas camponesas.

É bem verdade que as condições ainda pouco satisfatórias de vida da sociedade rural exigem o planejamento e a intervenção do Estado, seja na educação, na saúde, na alimentação, nos transportes, e que, conseqüentemente, modifiquem os seus padrões tradicionais de vida. O que realmente importa é dinamizar de maneira eficiente a nossa economia para que o crescimento demográfico seja sempre suplantado pelo crescimento econômico, para que todos tenham o direito de nascer e de viver com dignidade e cidadania em seu meio social.

É correto afirmar que atingir a maioridade e mudar-se para o "Sul Maravilha", particularmente São Paulo, ainda é um sonho incutido na cabeça de muitos indivíduos do interior no Nordeste, pensando melhorar de vida naquela região. O certo é que apenas uma pequena minoria consegue realmente o seu intento, ou seja, melhorar de vida e ocupar uma posição social mais ou menos privilegiada, com base na elevação do seu poder aquisitivo. Nesse caso, houve uma mobilidade social do tipo vertical ascendente. Mas mobilidade social desse tipo nem sempre ocorre. Por outro lado, a grande maioria vive, infelizmente, marginalizada e amontoada em insalubres favelas, que é, como se sabe, um tipo de habitação onde as condições ambientais e higiênicas são inadequadas à saúde. São habitações típicas do Terceiro Mundo, construídas muitas vezes nas proximidades relativas de modernos edifícios, o que nos dá uma visão clara e real dos contrastes ou desigualdades econômicas e sociais em que se encontra envolvida e mergulhada a sociedade brasileira. Já uma outra parte dos migrantes acaba se decepcionando e voltando ao seu estado de origem, ocorrendo assim a chamada migração de retorno. E a cada dia é grande o número de migrantes que retornam para sua terra natal.

Convém destacar também que ao chegar a São Paulo, muitos desses nordestinos, na maioria humildes e modestos cidadãos, ficam perplexos diante da grandiosidade e da intensa agitação daquela estonteante e gigantesca metrópole impregnada de arranha-céus, sendo considerada uma verdadeira selva de pedras. E ficam a recordar com nostalgia a quietude das plagas pacatas e serenas de onde um dia partiram, muito embora as injustiças sociais ou as adversidades das secas os tenham afugentado de sua terra natal. Percebe-se diariamente um barulho ensurdecedor de fábricas, veículos e pedestres num vaivém incessante; e homens e meninos pingentes agarrados e pendurados em ônibus urbanos e em trens em disparada; são coisas de cidade grande. São coisas de metrópole. É o progresso! E o ser humano individualmente se sente minúsculo diante daquela imensidão urbana. Infelizmente, a consciência dos povos foi despertada um dia para a visível ambição de progresso que se verifica em todos os sentidos. E, consequentemente, as zonas urbanas estão se expandindo paralelamente aos seus múltiplos problemas, enquanto o campo vai gradativamente se esvaziando. É impressionante como crescem as cidades!

Frisando bem, a maioria dos migrantes nordestinos é composta de trabalhadores desqualificados, empregados nos setores da economia que oferecem as piores remunerações. Muitos deles se submetem aos mais árduos serviços; já outros, infelizmente, enveredam no caminho da criminalidade.

Cumpre lembrar que no tocante às secas do Nordeste, as soluções são, na grande maioria, mais emergenciais que planejadas. Poderíamos até indagar: se as secas nordestinas sempre se repetem com relativa freqüência, por que não investir antes, procurando efetivamente encontrar meios para amenizá-las, ao invés de serem tomadas apenas medidas consideradas paliativas quando elas aqui eclodem?

Em última instância, é importante ressaltar que indiscutivelmente o Nordeste é viável, inclusive o nosso Piauí, é claro, e, por isso, medidas deverão ser tomadas no sentido de agilizar e propiciar o desenvolvimento sócio-econômico da nossa região, contribuindo decisivamente para a diminuição, e talvez quem sabe, para a erradicação desse tão discutido fenômeno do êxodo rural.

*Obs. Hoje, como se pode ver, esta situação vem se alterando gradativamente, graças a medidas adotadas nos últimos anos da primeira década do século XXI, deste terceiro milênio. (Observação e modificações feitas no dia 02/02/2010).

Edimar Luz é escritor/cronista, articulista, poeta, memorialista, compositor, professor e sociólogo formado em Recife – PE.

Picos, 11 de setembro de 1993.

Edimar Luz
Enviado por Edimar Luz em 07/12/2012
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