O Brado Calado Das Brasileiras

Ser mulher... Questão difícil de descrever... Afinal o que é ser mulher? Seria fácil se analisássemos apenas pelo lado biológico, ou talvez nem tão fácil assim, uma vez que o corpo feminino com seus órgãos e detalhes que o diferenciam do masculino já apresenta tantas peculiaridades. O que podemos afirmar é que ao longo dos anos ser mulher não tem sido uma tarefa das mais simples, e isso qualquer pessoa esclarecida pode constatar, não precisando necessariamente ser uma árdua feminista.

Ser mulher brasileira ou ser mulher no Brasil (e isso não é a mesma coisa)... Outra questão bastante peculiar. No decorrer da história do nosso país esse grupo tem sofrido fortes repressões e preconceitos, e isso é uma história que começou há muito tempo.

Desde a chegada dos portugueses a essa nova terra quando encontram mulheres completamente distintas e exóticas, diferentes das européia não só na aparência como também em hábitos. Começa a história da desvalorização à mulher, sendo tratada como objeto. As índias que antes tinham liberdade passam a serem escravas sexuais dos homens europeus que usavam o corpo das indígenas sem preocupação nenhuma, numa fecundação desenfreada. Quando um português engravidava uma índia, ele se tornava parentes de outros índios e esses os ajudavam no carregamento de pau-brasil para sua nau, o que o ajudava para seu rápido enriquecimento.

A violência contra a mulher indígena e com as crianças que não eram portuguesas nem indígenas continuou durante muito tempo, e a situação começou a ficar incontrolável. As crianças que nasciam dessa violência foram chamadas de “zé-ninguém” ou “Maria-ninguém”, meninos e meninas sem identidade, pessoas que não pertenciam a nenhuma das duas raças ao mesmo tempo de pertencia a elas.

Vendo essa situação de miscigenação incontrolada, Portugal decide mandar mulheres brancas, portuguesas. Não importava qual fosse sua condição social, sua inteligência, beleza ou qualquer outro atributo, deveria ser muitas para poder reproduzirem filhos dos colonizadores.

A mulher assumiu o papel de reprodutora, como um animal que tinha a função de ficar “prenha” todo ano de sua vida. A sociedade colonial desprezava as mulheres brancas portuguesas que quisessem permanecer solteiras, elas não tinham espaço na vida social da colônia. É nessa época que surge o termo “encalhada”, para as mulheres que por diversos motivos não se casavam. O ideal era que toda mulher se casasse e tivesse muitos filhos.

Inicia-se então a produção de açúcar no inicio do século XVI, para utilizar como mão de obra nos engenhos os portugueses começaram a trazer negros africanos de suas colônias na África. Os escravos eram vendidos como mercadorias aqui no Brasil e o transporte da áfrica para o Brasil era feito nos porões dos navios negreiros.

Nas fazendas de açúcar e nas minas de ouro, os escravos eram tratados da pior forma, trabalhavam muito, passavam as noites nas senzalas acorrentados para não fugirem e eram constantemente castigados fisicamente.

Ser escravo já era ruim naqueles tempos, ainda pior era ser mulher escrava. A mulher escrava sempre esteve exposta como “coisa”, propriedade de seu senhor.

A escrava quando grávida, não recebia condições mínimas necessárias ao desenvolvimento do feto. A mulher escravizada sobrepondo-se aos naturais impulsos maternos escolhia interromper sua gestação ou eliminar o recém nascido. Elas preferiam matar seus filhos a oferecerem a eles o futuro de escravidão. E quando os deixavam nascer, ela sabia que estava ameaçada a ter que abandonar seu filho pra sempre caso fosse vendida.

Além da exploração de mão de obra das mulheres escravas, elas também eram exploradas sexualmente, faziam ponte entre a senzala e o interior da casa grande. As negras mais bonitas eram escolhidas pelo senhor para serem concubinas e domésticas. Objeto dos desejos sexuais bárbaros dos homens, do senhor de engenho ao menino adolescente, a escrava está livre da determinação para as mulheres de classe dominante onde sua sexualidade está a serviço da procriação da família. Para os senhores, a sexualidade da escrava está livre de todas as normas, tanto as morais quanto as religiosas, normas que estão sobre as mulheres brancas, então a mulher negra está apropriada para servir de objeto sexual.

O uso sexual da escrava pelos senhores faz com que elas também passem a ser iniciadoras sexuais dos seus filhos. A escrava era obrigada a ceder aos desejos de seu senhor para não sofrer torturas mais tarde, a escrava não podia guardar a honra de sua filha, e nem o homem escravo poderia se queixar da infidelidade de sua mulher.

A mulher negra também sofria por parte da mulher branca de seu senhor. Se a beleza de seus dentes a incomodava, a sinhá mandava que eles fossem arrancados, se elas fizessem a vontade de seu senhor, recebiam chicotadas por ordens da sinhá, e outros castigos também.

A escrava também era conhecida como mãe preta, ou escrava leiteira. Essa é mais uma forma de exploração pela casa grande. Para que a escrava se transforma mãe preta de uma criança branca, ela teria que deixar de ser mãe de seu próprio filho, e mesmo estando em contado direto com a família branca, a ama escrava não recebia nenhum beneficio, nem mesmo cuidados mínimos para lhe garantir boa saúde.

Na metade do século XIX a situação dos escravos negros começou a mudar, a Inglaterra aprovou a lei Bill Aberdeen, que proibia o tráfico de escravos, e lhes dava o poder de prender navios de países que faziam essa prática. Em 1850, o Brasil aprovou a lei Eusébio de Queiroz que acabou com o tráfico negreiro, em 28 de setembro de 1871 foi aprovada a lei do ventre livre que dava liberdade a todos os filhos de escravos que nascessem a partir dessa data, no ano de 1885 foi aprovada a lei dos Sexagenários e fim do século XIX, no ano de 1888, no dia 13 de maio, graças à princesa Isabel foi promulgada a lei Áurea, que abolia definitivamente a escravidão.

Avançando um pouco na história vemos que as mulheres começaram a ficar cansadas de terem que ser submissas ao homem e começaram a lutar por seus direitos, não para serem maiores que os homens, mais para serem iguais. Durante o império, algumas juristas tentaram legalizar o voto feminino.A constituição de 1891 continha uma medida que dava direito de voto as mulheres, mas na ultima versão essa medida foi abolida, pois a sociedade machista acreditava que a política era uma atividade desonrosa para a mulher.

Em 1922, Berta Lutz fundou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, que luvata entre outras coisas ainda pelo direito ao voto.

Finalmente, em 1933 foi elaborado o código eleitoral que dava direito ao voto e a representação política as mulheres, em 1934 houve uma representação do sexo feminino, a primeira deputada do Brasil: Carlota Pereira de Queiróz.

As ativistas feministas tanto lutaram que conseguiram o direito ao voto para as mulheres, um crescimento das oportunidades de trabalho e um salário mais próximo ao dos homens, direito ao divorcio e direito sobre o seu próprio corpo.

Hoje, a descriminação contra a mulher e a sua desvalorização ainda existe, apesar de avanços conquistados por elas, a sociedade em que vivemos ainda é machistas e traz consigo alguns pensamentos dos nossos antepassados.

Com o crescimento das oportunidades de trabalho, e o avanço industrial no Brasil, as mulheres começaram a ganhar espaço no mercado de trabalho e de pouco a pouco vão ganhando seu espaço, conseguindo chegar a lugar que antes eram conciderados impróprios para uma mulher. Transformando-se em cientistas, romancistas, históriadoras, motoristas, taxistas, frentistas, e muitos outros cargos, mostrando ser tão capaz que o homem. E o maior exemplo de uma profissão ocupada hoje por uma mulher que com toda certeza seria impossível a alguns anos atrás é o cargo de presidencia de um pais, que por um acaso é a nossa realidade, fato esse que, infelizmente, ainda ofende o ego de muitos homens.

Não é apenas uma questão de ser feminista ou não, é uma questão de ser humano, ser pessoa integra ser cidadão. E poder reconhecer os preconceitos que as mulheres têm enfrentado ao longo da história no nosso país, e mais do que apenas reconhecer, agir para tornar o futuro mais igual entre homens e mulheres, já que não temos o poder de mudar o passado.

Karina Benevides
Enviado por Karina Benevides em 15/11/2012
Reeditado em 13/09/2015
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