Racismo: um país que se recusa a abandoná-lo
DIA DE "CONSCIÊNCIA" EM UM PAÍS QUE SE RECUSA A ABANDONAR O RACISMO.
Dia vinte de novembro se aproxima. Dia da consciência negra. Graças à data, recentemente tenho lembrado de afrodescendentes conhecidos, como por exemplo o novo grande herói declarado do Brasil, Joaquim Barbosa e também de dois jaboticabalenses que integram a classe política da cidade: Serginho Ramos e Carmo Jorge Reino.
Folheei há poucos dias as edições mais recentes das revistas Tribuna Região e André Maria (Nº 42, de Novembro/2012). Proponho a vocês um teste: contem quantas pessoas negras estão nas fotos. Isto falando não só dos entrevistados, mas colaboradores, modelos e mesmo funcionários das empresas anunciantes. Na revista de André Maria, localizei apenas uma moça negra, aliás, linda. Uma gestante sendo amparada por um médico branco num anúncio da UNIMED. Na revista da Tribuna, que fala sobre as eleições, encontrei os dois políticos negros já citados no texto. Há também algumas fotos de famílias entrevistadas em uma das matérias, que tem pele menos clara e que devem ter negros ou pessoas de outras raças entre os antepassados. Examinem também as revistas de prestação de contas impressas pela Prefeitura. A sensação que tive foi que as publicações passam a seguinte mensagem: "publicamos fotos de pessoas negras somente quando for necessário ou inevitável". Mais do que "duas cidades". Mais do que dois países distintos. A sensação é de haver nesta cidade dois mundos muito distantes um do outro.
Nos próximos dias, vou conversar com meus amigos negros a respeito. Colegas de trabalho, vizinhos, antigos colegas de classe da escola, do colégio e da faculdade. Espero que eles gargalhem muito. Que zombem da minha preocupação, dizendo que esta é desnecessária e que é tudo uma grande besteira. Espero que eles, assim como os leitores aqui na Internet repudiem estas palavras, tragam exemplos que mostrem o contrário e me façam enxergar que ao chegar a tais conclusões eu tenha sido nada mais que um grandissíssimo idiota (termo que peguei emprestado de "Ouro de tolo" do Raul). Se estou compartilhando estas palavras, é porque eu quero exatamente isto: que as sátiras, esclarecimentos, complementos, repúdios ou até mesmo insultos, me façam mudar de ideia. Que os manifestos cessem esta intriga que tanto me perturba.
Para terminar, amigos, vou deixar algumas perguntas:
1. Quantos e quais professores negros vocês conhecem? Eu conheço alguns da rede pública. Mas e de faculdades? USP. UNESP. UNICAMP. UFSCAR. Estaduais. Federais. Colégios particulares. Quantos médicos negros? Engenheiros? Juízes?
2. Depois de anos e anos de luta pela diminuição da desigualdade que inclui até mesmo soluções práticas e rápidas como o sistema de cotas - cujos resultados ainda não pude conhecer a fundo - pergunto: as mudanças já foram de fato tão grandes e tão significativas quanto era esperado?
3. No começo do ano, na escola, um garoto de dez anos, negro, pele bem escura, "arteiro", que estava de castigo, disse para mim que queria ser médico. Eu o abracei, dei os parabéns, aconselhei a estudar bastante e se comportar melhor. Será que eu fiz o certo?
PS: Vocês notaram que as capas das revistas tem anúncio? NAS CAPAS! Estranho isso...
PS: Escutei certa vez uma história de que em passado não tão distante, a entrada de negros não era permitida em clubes como o da Mascagni. Será que esta regra também se aplicava a músicos? Se a resposta for afirmativa e se não tivessem extinguido esta proibição, provavelmente o The Platters não poderia ter tocado no clube recentemente...