Ser ou Ter?
Vai-se longe o tempo em que valorizávamos mais o ser do que o ter. Perguntávamos quem é ele, numa referência aos atributos. Hoje, pergunta-se o que é ele, o que faz ou o que tem, no sentido utilitarista. Vale-se quanto pesa. A importância não está no caráter, na honestidade ou no modo de ser, mas, como na contabilidade, no seu ativo ou passivo. O valor patrimonial e não o valor pessoal.
O mais importante é aquele que chega em seu carrão de luxo e não aquele que ainda chega no seu fusquinha. O mérito está no fungível e não no infugível. O concreto sobrepõe ao abstrato, coisa que depende do ser: o amor, a consciência, a espiritualidade, a solidariedade humana.
Isto sim que não depende do ter. É ai que se consubstancia a doutrina cristã que há mais de dois séculos ecoa por todo o mundo: “Amais-vos uns aos outros”.
E os exemplos têm mostrado que quanto mais humilde o ser humano, mais amor tem para dar. A arrogância do ter quase sempre endurece o coração, quando dele se espera o mais sublime sentimento humano: o amor. Pode-se, portanto, como na contabilidade, promover-se o equilíbrio do SER e do TER, considerando que o segundo é uma conquista do primeiro, pela inteligência do homem, que é faculdade de pensar, querer e agir. Eis aí a razão do progresso da humanidade, capaz de produzir o TER. Se este é uma consequência, então é ao SER que devemos reverenciar, colocando-o em primeiro lugar.