PARA ONDE CAMINHA A SOCIEDADE
A sociedade atual está sofrendo com um desajuste moral e ético.
A insegurança faz-se presente diuturnamente em nosso cotidiano.
O Estado, responsável por oferecer qualidade de vida, saúde, educação e segurança está falido moralmente, pois diariamente somos bombardeados por notícias de corrupção no alto escalão do poder.
Preocupa-nos, por isso, quanto aos governos constituídos, aos grupos liberais desesperadamente envolvidos no “enriquecimento imediato”, aos nossos semelhantes despojados da mais simples dignidade e fé, da insegurança da vida, do patrimônio, da família, do bem-estar, da felicidade e do amor ao próximo.
Quanto mais poder, dinheiro, volúpia, melhor, não importa como.
Não tem importância também os meios de se conseguir o intento.
Com isso, temos visto dados comparativos que tentam associar crise econômica e aumento da criminalidade, onde os dados estatísticos, nem sempre confiáveis, sugerem teorias para explicar as dificuldades que hoje enfrentamos com o aumento desenfreado da violência e da criminalidade.
Fatores que desencadeiam esse processo, crescente e até de certa forma incontrolável, podem ser detectados por uma análise cuidadosa, que deve estar isenta das paixões.
Cada indivíduo deve analisar sob o seu ponto de vista, sob o enfoque de sua formação e experiência, e principalmente com o seu grau de envolvimento afetivo com os problemas sociais.
A grande massa de manobra está mais preocupada com a sua própria sobrevivência e em satisfazer sua forte tendência consumista, para galgar um patamar de “status” dentro de uma sociedade que muitas vezes fede, cheira mal e até enoja.
Deseja a grande maioria aparentar ser mais importante do que o próximo, onde pretende a todo custo auto valorizar-se porque ainda não se encontrou e talvez nem saiba o que quer.
Todo homem têm um talento, uma tendência, e por intermédio dela se estrutura, mediante as informações que recebe, buscando colocar perspectiva em sua vida.
Muitas vezes, infelizmente, são dirigidos com uma grande sutileza para atividades que não refletem e nem ocasionam “no fundo de sua alma” uma satisfação, uma felicidade interior.
É público e notório que está havendo uma perturbação no comportamento humano, com efeitos que todos nós já estamos sentindo e por muitas vezes vivenciado, e que está comprometendo seriamente nosso equilíbrio social.
Em toda nossa tentativa de buscar classificar sentimentos em bons ou maus neste período conturbado, muitas vezes redunda em fracasso, pois são componentes de um sistema que funciona como um todo e que corresponde a estados naturalmente adquiridos.
Hoje, tem-se excesso de desconfiança, ódio, inveja, infidelidade, violência, vaidade, crítica, falta-nos amor, respeito, fraternidade e tanta outras virtudes que desejarmos. Por isso, todo excesso é prejudicial ao grupo e individualmente. Simplesmente, então, perdemos a ação reguladora e ficamos sujeitos a um equilíbrio instável e artificial.
O comportamento humano parece ter desenvolvido como função de um sistema que deve a sua existência e forma específica a um processo que teve o seu desenvolvimento nas diversas culturas e épocas.
Vive-se então uma perigosa perturbação de convivência individual, de grupo, de relações estruturais de governos, instituições e ordens, onde os mecanismos que regulam o comportamento não existe ou tornaram-se ineficazes.
Todos lutam então por seus direitos individuais ou dos grupos a que pertencem, perdendo-se então em um emaranhado de retórica, que torna-se improdutiva, vindo a distanciar-se brutalmente da noção de um todo.
O ser humano é verdade, alcançou considerável grau tecnológico aprendendo a dominar todos os poderes do seu meio.
A sua espécie, porém, sabe muito pouco sobre si mesmo.
Acredita piamente em Adão e Eva.
Deixa de lado a história do planeta, de milhões e milhões de anos.
O próprio homem, então, determina seu próprio desenvolvimento, e compete a ele mesmo, aniquilando com incrível brutalidade todos os valores que ele como ser humano criou através das civilizações, em nome de considerações puramente econômicas e religiosas, em detrimento de quaisquer valores reais.
Estamos culturalmente “doentes”.
“O que é bom e útil para a humanidade como um todo, ou mesmo para o homem isolado, já foi completamente esquecido devido à pressão dessa competição furiosa. Os valores apreciados pelo homem contemporâneo são aqueles que levam ao sucesso e à superação do próximo.” (Konrad Lorenz).
Então, não estamos abandonados, apenas nos abandonamos.
Todo esse desencadeamento de comportamento egoísta, isto é, cada um para si, e ninguém para ninguém, a qualquer custo, mostra o quanto nos afastamos daqueles princípios e virtudes que tentam manter o homem no caminho do seu destino em busca de uma melhor evolução.
Quantas agressões físicas e morais, diretas ou não, nos têm conduzido a sentir medo e acabamos alimentando uma ansiedade desmedida somatizando e produzindo reações de enfraquecimento que nos impede de analisar os fatos com a clareza necessária.
Nossa vida tornou-se difícil e perigosa, e somos penalizados por uma economia incerta e insegura, gerando com isso um estado de alerta e medo constantes. Toda prática considerada “criminosa” no passado, hoje torna-se atividade de sobrevivência, caminhando para prática comum e necessária de uma parcela de nossos semelhantes. E, essa parcela está perigosa, impulsiva e indisciplinada, não aparentando temor a nada.
Quando empresas que trabalham para o Estado falam abertamente que os famosos 10% existem mesmo, e eles são necessários para a concretização dos contratos vê-se claramente a podridão em que vivemos.
Estamos tão ameaçados que agimos com uma prudência de leão, mas que, ao mesmo tempo está nos levando ao limite da covardia para protegermos aqueles a quem mais amamos.
Nos centros mais populosos, indiretamente a superpopulação nos leva a fenômenos de desumanização pelo esgotamento das relações, onde acaba desencadeando todos os tipos de comportamento, inclusive os mais agressivos.
A falta de amor generalizada é diretamente proporcional à densidade das massas humanas acumuladas, e é causadora de inconveniências de relacionamentos com manifestações hostis, por vezes violenta e truculenta.
Nosso padrão para uma vida em sociedade está sendo alterada, ou já foi totalmente modificada.
Somos incapazes de lidar com os problemas de comportamento hoje?
Então o que nos espera o futuro?
O grupo encarregado de preparar o ser humano para uma vida em sociedade – a família – está em colapso, a instituição com o dever maior de formar o cidadão e fortalecer os laços morais – a escola – faliu, morreu e aos trancos e barrancos tenta-se reerguer, em bases duvidosas, e não sólidas.
Existe solução? Ou será melhor fazê-la?
Necessário repensar na educação, pilar maior de toda sociedade organizada.
Pois é dentro dela que residem todos os problemas, mas também todas as soluções.
Deve-se exigir uma tomada de consciência, responsabilidade pelo próprio destino, e um alto poder de decisão a nível operacional e governamental deve existir, cada vez mais sofisticado.
A escola moderna preocupa-se em formar o técnico, o profissional, baseado na necessidade de recursos humanos, jogando esse mesmo ser humano, cheio de paixões e vícios, como um objeto atuando como um processo de “linha de produção” de profissionais somente, e nada mais.
Devemos lembrar que o homem é um ser em trânsito, não uma realidade acabada, pois se estivesse acabado, pronto parea consumo, ou nosso planeta seria um paraiso ou tudo estaria sucumbido nas trevas.
Por isso, educar não é reproduzir um modelo, é parir um novo homem, na progressão genética de seu destino evolutivo, como dizia Lauro O. Lima.
E, ainda o mesmo Lauro Lima menciona que o direito à educação não é o direito de matricular-se numa escola, é o direito de desenvolver-se até o limite das possibilidades de ser racional.
Será que a expressão “preparar para a vida” que a escola sempre carregou, está fatigada?
Não há uma vida previsível para a qual se possa preparar alguém.
A todo momento estamos mudando, nos transformando, nos auto-regulando.
Devemos lembrar que somos membros da família humana mundial, e necessitamos dar um sentido de direção (aonde queremos chegar).
Por isso, devemos procurar cada vez mais conhecer-nos a nós mesmos, e assim fazendo poderemos sentir a fraternidade, usufruir do convívio, compreender as dificuldades individuais, afastar a intolerância (mal do mundo e mãe de todas as guerras), trabalhando nas consciências, amar ao próximo. Procurar realizar ações nobres, e não apenas determinar que sejam feitas, e que os frutos da ação meritória sejam colhidos por todos.
Nenhum esforço é perdido, cada causa produz necessariamente seus efeitos, bom ou ruim, depende da forma que é feito