Inversão de Valores

Onde Fazer?

Atualmente, em meio ao sobe e desce no interior da favela durante os finais de semana, podemos assistir a um verdadeiro desfile de modas, loiros, loiras, maioria esmagadora de brancos e porque não dizer 99,99%, ou seja, classe média. Não a nova classificada pelo governo com renda aproximada de mil reais, mas aquela velha e elitista classe média brasileira.

Durante o dia (manhã) alguns falam idiomas outros que não o português e portam máquinas fotográficas com lentes cada vez maiores. Turistas, sobre estes falamos em outra oportunidade.

No final da tarde ou noite mudam as caras, os trajes, mas as cores continuam as mesmas, esses, vem buscar o que conhecemos aqui na cidade do Rio de Janeiro como "A BOA", uma forma do carioca de maneira popular identificar a melhor opção para o seu divertimento conhecido por alguns como night, balada ou até noitada. Como quiserem.

Divertimento?

Exatamente, divertimento!

Loiros, loiras, maioria esmagadora de brancos, classe média dentro das favelas em busca de boas?

(Claro que existem brancos e loiros dentro das favelas, mas é fácil identificar quando a pessoa não é do local.)

Não parece nada racional ou lógico o trecho à cima citado.

Seria o fosse, se escrito há pouquíssimos três anos anteriores a este. Quando a favela era considerada impenetrável por qualquer segmento da sociedade que não os próprios moradores.

Embora pareça “viajação” para os mais desavisados, o enredo supra narrado já foi até capa do jornal o globo, trazendo uma foto de uma laje da Favela Santa Marta, mundialmente conhecida como laje do Michel Jackson e destarte no texto o novo “point” da cidade.

Assim como o Santa Marta que está com a agenda da quadra da escola de samba lotada para eventos, outras comunidades também pacificadas já começam a ocupar grande parte da programação com festas daquelas cuja entrada varia entre 50 e 120 reais, podendo os mais organizados comprarem por 30 ou 40 reais dois meses antes do evento.

Alguns empresários exploradores deste mercado, satisfeitos que estão com o novo sucesso, indagados sobre tais iniciativas, incluem em seu discurso o grande “Q” da questão, pelo menos para esse humilde cidadão que vos escreve. Pois bem, o Q da questão é o discurso de que esses eventos nas comunidades pacificadas estariam trazendo integração social entre o morro e o “asfalto” ou pelo menos diminuindo a exclusão evidente entre as duas localidades.

Outros empresários não muito preocupados com o social apenas realizam o evento e vão embora levando suas fortunas. Certos de que não estão fazendo nada de errado.

De fato não estão. Ao menos legalmente falando.

Embora nada seja ilícito, e aí não nos cabe entrar no mérito da preparação, realização e pós-realização, essa parte deixo para as autoridades competentes, entendo que essas festas mereçam no mínimo uma análise MORAL.

Por quê?

Voltando a movimentação pela favela nos fins de semana. Além de roupas, bolsas, sapatos, bebidas e carros caríssimos, estes subindo.

Percebo que os jovens moradores da favela estão descendo e buscando alternativas para suas “BOAS” já que os espaços da comunidade estão sendo ocupados por eventos e pessoas de fora do morro. Alternativas estas: Clubes próximos que promovam bailes, pagodes ou shows com preços ainda acessíveis, além de outras favelas que ainda não tenham se tornado “point” da classe média.

O que “eles” consideram integração alguns vem considerando exclusão, visto que os jovens moradores da favela, na sua maioria esmagadora porque não dizer 99,99% não participam desses eventos. E não participam por vários motivos, ou seja, não curtem a mesma atração que os “playboys”, não se sentem bem, não ficam à vontade diante do choque cultural, não tem dinheiro para pagar entrada ou as bebidas que são caríssimas, não sabem do acontecimento ou quando sabem não tem informações de onde adquirir o ingresso. Infelizmente isso ocorre na maioria dessas festas, além de nenhuma divulgação interna, se quer vendem ingressos dentro da comunidade.

O modelo adotado, na minha opinião é notadamente discriminador e excludente, acuando cada vez mais o jovem favelado e dominando um território que historicamente foi da juventude da favela, infelizmente, esse é um seguimento que muito vem sofrendo com diversas abordagens adotadas como regra para nossa sociedade.

Com tudo, como se não bastasse perder espaço para pessoas que ali nunca estiveram esse padrão de evento vem dificultando o convívio e impondo barreiras para que os jovens moradores da favela se encontrem, se vejam, se esbarrem, namorem, se conheçam, estreitem suas relações ou simplesmente se olhem.

Importante salientar que todos querem a cidade integrada, sinceramente não sou contra os eventos, porém, o formato adotado está interferindo e prejudicando diretamente a toda uma juventude, mesmo que de forma velada e em prol da “integração”.

O texto é apenas uma reflexão não existe certo e errado, haja vista, que as festas só ocorrem com autorização de moradores das favelas que talvez não enxerguem com a mesma ótica que alguns críticos ou simplesmente acreditam que estejam promovendo a tão falada integração.

O fato é que precisamos ficar antenados. Considero importante o assunto em questão.

Quando a coisa acontece de forma velada e por trás de algum discurso politicamente correto é que temos dificuldade de debater e esclarecer a verdade aos moradores. No entanto, fica a dica para que os grupos comunitários e principalmente os jovens, fiquem ligados.

Para quando acordarmos num futuro que pode estar mais próximo do que imaginamos, querendo simplesmente nossas festas e confraternizações, não estarmos nos perguntando:

Onde fazer?

Rafael Meireles Silva,

Grupo Eco.

Rafael Meireles
Enviado por Rafael Meireles em 25/10/2012
Código do texto: T3951964
Classificação de conteúdo: seguro