O DIA SANTO DO MÉDICO
Sérgio Martins Pandolfo*
Em Outubro festeja-se, aos 18, o Dia do Médico, cuja efeméride coincide com a dedicada pela Igreja Católica a São Lucas, que também exerceu a Medicina, foi pintor, evangelista e santo, sabem-no quase todos.
Em texto que produzimos sobre Médicos Escritores, apresentado no Congresso Nacional da Sobrames realizado em Bento Gonçalves-RS (maio, 2004) e publicado em seus primorosos Anais, chamávamos a atenção para a notável, quase imanente – mas pouco ressaltada – relação dos médicos com a literatura, seja ela técnica (científica) ou artística, esta aviada em prosa e/ou verso em publicações afeitas.
Nasceu a primitiva Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Sobrames aos 23 de abril de 1965, do sonho e da determinação de Eurico Branco Ribeiro, brilhante cirurgião paranaense de Guarapuava radicado em São Paulo, de méritos profissionais indiscutíveis, mas que também cultuava a literatura e tinha especial predileção pela vida e obra do patrono de nossas categorias, o médico, pintor, escritor e santo São Lucas, sobre quem publicou vários livros e fundou em São Paulo o Hospital São Lucas, tendo sido o idealizador do Dia do Médico em 18 de Outubro, dia consagrado ao referido santo, razões pelas quais veio a ter seu nome escolhido para patrono da Sociedade.
Com efeito, há que se pôr em causa que a inerência da escrita entre os praticantes da “arte de curar” vem, pelo que se sabe, desde a mais recuada Antiguidade, ao longo de toda a História, até nossos dias.
Já se chamou a atenção, por exemplo, para a formidável obra escrita deixada por Hipócrates – o “pai da Medicina” -, reunida no Corpus Hipocraticum, compreendendo mais de uma centena de livros sobre sua vivência, conceitos, doutrinas, meizinhas e os famosos aforismos, maioria deles válidos até hoje, a par de seu sublime Juramento, ainda nos dias correntes atualíssimo e repetido “in orbis” pelos formandos em Medicina.
Também muito já se falou – e continua a fazer-se – acerca da revolucionária contribuição do extraordinário cirurgião francês Ambroise Paré, cirurgião-mor da Corte e dos exércitos de França nas primícias da Renascença, cognominado o “pai da Cirurgia Moderna”, que por ser cirurgião-barbeiro (prático, sem formação acadêmica) e não dominar o latim (língua culta e científica da época) escreveu toda sua experiência, suas técnicas e descreveu novos instrumentos por ele criados, em francês, reunidas em volumoso Tratado Geral de Cirurgia. Dois expoentes médicos, dois escritores admiráveis.
Mas sobre São Lucas, nosso Patrono, que além de sua proteção como santo nos legou a data de sua festa, pouco se tem escrito ou feito referência à relevante aptidão literária e cultura doutras artes. Lucas foi, além de médico, primoroso escritor, inscrevendo em seu Evangelho, o terceiro, assim como nos Atos dos Apóstolos, páginas de rara beleza, sob o aspecto da literatura universal, em que se percebe a erudição e o refinado trabalho com as letras postos a serviço de seu apostolado missionário. À análise de expertos e pesquisadores das santas escrituras, seu Evangelho sobressai aos dos outros evangelistas que eram, de língua e de saberes, pouco instrutos.
Nosso padroeiro foi, também, saliente cultor da arte pictórica, razão por que é igualmente patrono dos pintores, por isso que nos legou quadros preciosos, alguns deles guardados como relíquias em museus e igrejas e consta ter esculpido imagens sacras, a pôr em evidência sua cerebração polifacética.
Muitos outros argumentos poderíamos ainda ajuntar à profícua e exuberante atividade de São Lucas, “médico de homens e de almas”, mas nos limitaremos a assinalar ter sido ele um piedoso e judicioso servo de Deus que bem cumpriu seu ministério, ademais de, como se qualificaria hoje, um notável escritor e artista plástico de refinado esmero.
----------------------------------------------------------------------------*Médico e Escritor . ABRAMES/SOBRAMES
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