Linguagem, Cultura, Discurso - O Brasil aos olhos da língua global

INTRODUÇÃO

É de se notar a influência da língua inglesa no mundo. Isso se deve ao forte poder americano que conquistou espaço econômico e político no quadro mundial. A língua inglesa passou a ter o status de língua global, como segunda língua em alguns países e como uma língua “franca”, ou seja, a língua que abre portas para todo tipo de interação mesmo entre países que falam línguas diversas. O inglês tem o status especial de língua oficial em aproximadamente setenta países, assim como tem alcançado prioridade no ensino de língua estrangeira em vários países, mesmo que ela não seja oficial (Crystal,1997).

O Inglês é agora a língua estrangeira mais ensinada em mais de cem países. Por causa do crescente desenvolvimento em ser a primeira língua e língua oficial em países do primeiro mundo, é inevitável que a língua inglesa, como língua global, seja usada por mais pessoas do que qualquer outra língua. Quase um quarto da população do mundo já é fluente ou tem competência em inglês, e esses dados estão crescendo dia-a-dia a língua marcha, alcança espaço, e quanto mais uma língua se move para tornar-se global, mais ela é requisitada pela mídia (Crystal, 1997).

Com o crescente poder político e econômico dos países que falam a língua inglesa, os principais fatos que marcam os diferentes países do mundo encontram-se notificados na língua global através da mídia internacional. Entre esses vários países, encontra-se o Brasil, alvo de especulação dos principais países do “primeiro mundo”. Sendo assim, essa pesquisa visa analisarmos discursos da mídia internacional sobre um importante fato brasileiro, em Alagoas, para verificar se a formação discursiva construída materializa uma formação ideológica que denigre a imagem do povo brasileiro fora de seu país; a formação discursiva construída pela mídia internacional materializa uma formação ideológica do Brasil como um país dependente economicamente, que tem sido alvo de especulação territorial em bens naturais.

O objetivo desta pesquisa é analisar como a imprensa britânica vê o nosso país à medida que tece opiniões sobre o Brasil em diversos aspectos como: violência, economia, política e educação.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta pesquisa utilizar-se-á de leituras relacionadas ao estudo da Análise de Discurso, fundamentadas nos pressupostos teóricos de Orlandi (2005), Pêcheux (1997), Bakhtin (2006) com os respectivos resumos, assim como leituras complementares ao tema pesquisado; documentação dos fatos veiculados na mídia britânica, em artigo publicado no dia 9 de junho de 2011 pelo periódico The Economist,

The Economist é uma revista semanal inglesa publicada por "The Economist Newspaper Ltd" sobre notícias semanais e assuntos internacionais. Criada pelos representantes da indústria têxtil de Manchester, na Inglaterra, The Economist tinha então como objetivo "a defesa do livre-comércio, do internacionalismo e da mínima interferência do governo, especialmente nos negócios de mercado", princípios que mantém até hoje. Está em publicação contínua desde a fundação, em 1843. No verão de 2007, sua circulação média superou 1,2 milhões de cópias por semana, sendo que aproximadamente metade é vendida na América do Norte. Por isso, é frequentemente vista como uma fonte de notícias transatlântica e não exclusivamente britânica (Wikipédia, 2012).

O objetivo do "The Economist" é "tomar parte em uma competição árdua entre inteligência, que move para frente, e uma indigna e tímida ignorância que obstrui o progresso". Os assuntos incluem notícias internacionais, economia, política, negócios, finanças, ciência, tecnologia e artes. A publicação é direcionada ao topo do mercado e conta em sua audiência com influentes tomadores de decisões públicas e privadas.

Possui uma posição editorial clara em vários temas, especialmente no seu suporte ao mercado livre e conservadorismo fiscal; é, portanto, uma revista que pode ser considerada como praticante do jornalismo cívico ou da advocacia jornalística, uma modalidade de jornalismo que intencionalmente, e de forma transparente, adota um determinado ponto de vista, geralmente com algum objetivo social ou político.

Apesar do "The Economist" se chamar de um jornal e se referir a sua equipe como correspondentes, ele é impresso na forma de uma revista.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O discurso está na base da existência humana; “o discurso é assim palavra em movimento, prática da linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando” (Orlandi, 2005: 15). Os sentidos das palavras mudam de acordo com as posições daqueles que as empregam, e essas posições se inscrevem em formações ideológicas, que permeiam as diferentes maneiras com as quais se constroem os discursos. Toda palavra é ideológica e inscreve-se no discurso do indivíduo que é interpelado em sujeito; e é dessa maneira que a língua faz sentido. A Análise do Discurso trabalha com produção de sentidos e não meramente com transmissão de informação. Na Análise do Discurso, a língua não é considerada como simples sistema, mas um acontecimento inscrito na história. Segundo Orlandi, a Análise do Discurso,

Levando em conta o homem na sua história, considera os processos e as condições de produção da linguagem, pela análise da relação estabelecida pela língua com os sujeitos que a falam e as situações em que se produz o dizer. Desse modo, para encontrar as regularidades da linguagem em sua produção, o analista do discurso relaciona a linguagem à sua exterioridade (Orlandi, 2003, p. 16).

A Análise de Discurso trabalha a linguagem como uma mediação entre o homem e a realidade social que se transforma dia após dia. Ela trabalha com a linguagem e o homem no mundo (Orlandi, 2005). O homem faz parte da história, que é a transformação/reprodução de classes ao mesmo tempo em que se relacionam num processo econômico, jurídico, político, ideologicamente contínuo. Assim, um imenso sistema “natural-humano” movimenta-se impulsionado por uma “ideologia eterna” (Pêcheux, 1997).

Os sentidos não são determinados pela vontade, mas pela maneira com a qual o indivíduo inscreve-se na história através da língua. Ao nascer, o indivíduo situa-se em discursos que já se encontram em processo. À medida que vai entendendo o mundo ao seu redor, o indivíduo adequa-se a esses discursos construídos no processo sócio-histórico. Assim, o intradiscurso é a materialização das ideologias inscritas nesse processo, e o interdiscurso apresenta-se como matriz do intradiscurso. São os já-ditos que possibilitam o dizer, ou seja, a constituição do sentido e sua formulação.

A memória do interdiscurso manifesta-se no intradiscurso sob a evidência do indivíduo que se constrói como “eu sou realmente eu”, ou seja, com nome, família, amigos, lembranças, desejos, expectativas, intenções, compromissos, no processo da interpelação-identificação que produz o sujeito de direito no lugar reservado para ele, imposto pelas relações sociais jurídico-ideológicas. O sujeito ideológico é reduplicado, enquanto interpelado, constituindo-se, então, em um processo de identificação “mascarado” (Pêcheux,1997).

Bakhtin (2006: 32) considera que “todo signo está sujeito aos critérios de avaliação ideológica [...] Cada signo ideológico é não apenas um reflexo, uma sombra da realidade, mas também um fragmento material dessa realidade (Bakhtin, 2006, p. 33)”. Assim, a língua é a materialização das formações ideológicas construídas no discurso e formação discursiva é tudo o que pode e deve ser dito quando determinado por uma formação ideológica (Orlandi, 2005).

Essa pesquisa será fundamentada com base nas teorias da análise do discurso. Levando em consideração as diferenças econômicas, sociais, políticas e culturais entre o Brasil e falantes da língua inglesa juntamente aos seus veículos de comunicação.

1. IDEOLOGIA E DISCURSO

O discurso está na base da existência humana; “o discurso é assim palavra em movimento, prática da linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando” (Orlandi, 2005, p.15).Os sentidos das palavras mudam de acordo com as posições daqueles que as empregam, e essas posições se inscrevem em formações ideológicas, que permeiam as diferentes maneiras com as quais se constroem os discursos. Toda palavra é ideológica e inscreve-se no discurso do indivíduo que é interpelado em sujeito; e é dessa maneira que a língua faz sentido. A Análise do Discurso trabalha com produção de sentidos e não meramente com transmissão de informação. Na Análise do Discurso, a língua não é considerada como simples sistema, mas um acontecimento inscrito na história. Segundo Orlandi, a Análise do Discurso,

Levando em conta o homem na sua história, considera os processos e as condições de produção da linguagem, pela análise da relação estabelecida pela língua com os sujeitos que a falam e as situações em que se produz o dizer. Desse modo, para encontrar as regularidades da linguagem em sua produção, o analista do discurso relaciona a linguagem à sua exterioridade (Orlandi, 2003, p. 16).

A Análise de Discurso trabalha a linguagem como uma mediação entre o homem e a realidade social que se transforma dia após dia. Ela trabalha com a linguagem e o homem no mundo (Orlandi, 2005). O homem faz parte da história, que é a transformação/reprodução de classes ao mesmo tempo em que se relacionam num processo econômico, jurídico, político, ideologicamente contínuo. Assim, um imenso sistema “natural-humano” movimenta-se impulsionado por uma “ideologia eterna” (Pêcheux, 1997).

Os sentidos não são determinados pela vontade, mas pela maneira com a qual o indivíduo inscreve-se na história através da língua. Ao nascer, o indivíduo situa-se em discursos que já se encontram em processo. À medida que vai entendendo o mundo ao seu redor, o indivíduo adequa-se a esses discursos construídos no processo sócio-histórico. Assim, o intradiscurso é a materialização das ideologias inscritas nesse processo, e o interdiscurso apresenta-se como matriz do intradiscurso. São os já-ditos que possibilitam o dizer, ou seja, a constituição do sentido e sua formulação.

A memória do interdiscurso manifesta-se no intradiscurso sob a evidência do indivíduo que se constrói como “eu sou realmente eu”, ou seja, com nome, família, amigos, lembranças, desejos, expectativas, intenções, compromissos, no processo da interpelação-identificação que produz o sujeito de direito no lugar reservado para ele, imposto pelas relações sociais jurídico-ideológicas. O sujeito ideológico é reduplicado, enquanto interpelado, constituindo-se, então, em um processo de identificação “mascarado” (Pêcheux, 1997).

Bakhtin (2006: 32) considera que “todo signo está sujeito aos critérios de avaliação ideológica [...] Cada signo ideológico é não apenas um reflexo, uma sombra da realidade, mas também um fragmento material dessa realidade (Bakhtin, 2006: 33)”. Assim, a língua é a materialização das formações ideológicas construídas no discurso e formação discursiva é tudo o que pode e deve ser dito quando determinado por uma formação ideológica (Orlandi, 2005).

2. O BRASIL AOS OLHOS DA MÍDIA BRITÂNICA

A crise econômica mundial tem afetado os países do primeiro mundo principalmente no que concerne ao crescimento econômico. O Brasil passou a ser alvo de investimentos das principais empresas multinacionais do mundo. Com isso, o Brasil que já era visado por seu potencial econômico, acabou ganhando destaque na imprensa mundial.

O Brasil continua sendo o destino de muitos turistas, o que proporciona um impulso constante na economia brasileira. Outro fato que podemos destacar são as recentes notícias de que a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 serão disputadas no Brasil, o que faz despertar os olhares do mundo inteiro. Inevitavelmente, o nosso país torna-se alvo das atenções e a imprensa é a principal fonte de divulgação de opiniões, muitas vezes críticas, que constroem o Brasil aos olhos internacionais.

No dia 9 de junho de 2011, foi publicada uma matéria no periódico britânico, The Economist, com a seguinte manchete: Violence continues, but in different places (Violência continua, mas em lugares diferentes) , que chama a atenção para um grave problema em Alagoas, que tem sido muito debatido na mídia brasileira. Podemos notar, então, que o Brasil agora passa a estar presente na opinião internacional.

Ao afirmar que “A violência continua”, o periódico deixa pressuposto que existe violência no Brasil, a qual tem se expandido, e, ao usar a pista lingüística de uma idéia adversativa “mas”, encontramos uma ideia de adição, o que leva o leitor a entender que a violência tem alcançado outras regiões do país.

3. OS APARELHOS IDEOLÓGIOCS DO ESTADO DE ALAGOAS

Murder in Brazil

Always with us

Violence continues, but in different places

Jun 9th 2011 | MACEIÓ | from the print edition

THE road from Maceió, the capital of Alagoas state, to its airport passes luxury-car showrooms and shops selling outsize Jacuzzis. In the central reservation, indigent families live under plastic sheeting. Even by the standards of Brazil’s north-east, Alagoas is scarred by poverty and extreme inequality. With 107 murders per 100,000 people, Maceió is also the most violent state capital in Brazil, just as, with 60 murders per 100,000, Alagoas is the country’s most violent state (see chart). It is a place of sugar and cattle, where the sugarcane cutters settle scores with fists and knives and the well-connected escape punishment by using contract killers instead.

Year-round sunshine, beautiful beaches and coral reefs mean tourism offers Alagoas’s best chance of development. But its status as Brazil’s crime capital puts that at risk. State officials are desperate to point out that Alagoans kill each other, not outsiders, and in slums, not beauty spots. Victims and murderers are often indistinguishable: unemployed, illiterate, drug-addicted young men, says Jardel Aderico, the state secretary for peace, whose job title represents an aspiration.

Brazil’s murder rate barely budged during the past decade, at around 26 per 100,000. But the geography of murder changed, notes Julio Jacobo Waiselfisz of the Instituto Sangari, a think-tank in São Paulo. In 1998 São Paulo and Rio de Janeiro were more violent than average; Alagoas was not. Better policing and economic growth have seen the murder rate fall by nearly two-thirds in São Paulo and two-fifths in Rio over the decade. Criminals squeezed out of long-held strongholds followed the money to areas of new industrial development and tourist destinations. Illegal logging and land grabs, together with new cross-border routes for guns and drugs, stoked crime in the Amazon. And Alagoas, its state government debt-ridden and police force weak, corrupt and often on strike, was at times close to lawless.

Things are starting to improve in Alagoas. The World Bank, which in 2009 lent the state $195m to stabilise its finances and improve its management, says the loan targets have been met. It is now working with the state on a plan to eradicate extreme poverty. Alagoas’s governor, Teotônio Vilela Filho, recently re-elected for a second term, has bought the police new cars and guns, and ended the practice of appointing police chiefs according to their political connections. Mr Aderico hopes that “peace lessons” in schools will create a less violent generation of Alagoans.

But in the short term the state’s best hope of moving down the murder rankings is for others to move up. Local politicians want to split Pará, a large Amazonian state, into three. If they succeed, Brazil’s map of violence will change once more. Marabá, which would become capital of south Pará, would inherit the title of murder capital and spare Maceió its shame.

Logo no primeiro parágrafo da matéria publicada, o periódico enfatiza a desigualdade social existente no estado de Alagoas com as seguintes palavras: “(...) To its airport passes luxury-car showrooms and shops selling outsize Jacuzzis. In the central reservation, indigent families live under plastic sheeting”. (A caminho do aeroporto, vemos carros luxuosos, grandes lojas onde vendem jacuzzis. Na parte central, famílias indigentes vivem em casas de lonas.), é um alerta contra a pobreza e uma crítica em relação a luxúria existente no mesmo estado.

Se tudo que dizemos é produzido a partir de outros dizeres que circulam ao longo do tempo, podemos voltar um pouco ao passado quando Alagoas ficou conhecido como “A terra dos marajás”. Pessoas que recebiam altos salários, que, no entanto, só apareciam nas repartições para assinar seus nomes, enquanto os desempregados multiplicavam a pobreza no estado. “O autor também enfatiza a diferença de classes sociais ao contrapor a imagem da riqueza a de uma pobreza indigente”, largada à sorte (Foucault, 1970), (Althusser, 1985), Pêcheux (1997), como determinante nas relações econômicas.

O periódico usa uma estatística elaborada por um renomado instituto de pesquisas brasileiro e alerta sobre o índice de violência no estado de Alagoas: “[...] With 107 murders per 100,000 people” (“107 homicídios por 100.000 habitantes”). Mais abaixo, uma justificativa da violência ter crescido em Alagoas, a impunidade, que está nítida no trecho a seguir: “It is a place of sugar and cattle, where the sugar cane cutters settle scores with fists and knives and the well-connected escape punishment by using contract killers instead” (É um lugar de açúcar e gado, onde os cortadores de cana acertam as contas com os punhos e facas e os bem relacionados escapam de punições utilizando assassinos contratados) aponta, sobretudo, a miséria dos boias-frias em relação ao seu trabalho árduo nas plantações de cana, contrastando assim, com seus patrões que, segundo a reportagem, são pessoas influentes e, por isso, seus possíveis crimes passam despercebidos.

Podemos notar, nesse trecho, elementos relacionados ao poder aquisitivo, que nivela as classes sociais em Alagoas. Segundo Althusser (1985), o Estado é uma “máquina” de repressão que permite as classes dominantes assegurar a sua dominação sobre a classe operária, para submetê-la ao processo de extorsão da mais valia, quer dizer, à exploração capitalista. São esses mecanismos que com frequência sustentam, reconduzem e dão o máximo de eficácia aos poderes do Estado, sejam eles repressivos ou positivos (Foucault, 1970)

No segundo parágrafo, o periódico britânico exalta as belezas naturais de Alagoas, cita as belezas do estado e o turismo como fonte de desenvolvimento, porém volta a enfatizar a violência, “Victims and murderers are often indistinguishable: unemployed, illitirate, drug-addicted Young men, says Jardel Aderico, the state secretary for peace, whose job title representes a aspiration.” (Vítimas e assassinos frequentemente inconfundíveis: desempregados, analfabetos, homens jovens toxico dependentes, diz Jardel Aderico, o Secretário de estado para a paz, cujo cargo representa uma aspiração).

Ao expor a violência que cresce em Alagoas em seu artigo, o periódico constrói opinião sobre nosso estado, quando retoma, em seu discurso, outros discursos antes veiculados na mídia brasileira. Segundo Orlandi (2003),

O interdiscurso é definido como aquilo que fala antes, em outro lugar, independentemente. Ou seja, é o que chamamos de memória discursiva: o saber discursivo que torna possível todo dizer e que retorna sob a forma do pré-construído, o já dito que está na base do dizível, sustentando cada tomada da palavra (Orlandi, 2003, p. 31).

No parágrafo seguinte, o foco do periódico são as estatísticas de criminalidade no Brasil. Segundo dados nacionais, a taxa de crimes segue estacionada: “Brazil’s murder rate barely budged during the past decade, at around 26 per 100,000. But the geography of murder changed, notes Julio Jacobo Weiselfisz of the Instituto Sangari, a think-tank in São Paulo”(Taxa de homicídio do Brasil, mal se mexeu Durante a última década, em torno de 26 por 100.000. Mas a geografia do crime mudou, observa Julio Jacobo Weiselfisz do Instituto Sangari, um grupo especialista de São Paulo.).

Mais adiante, o periódico prossegue contrastando a violência em Alagoas, que aumenta com o passar dos anos, com a de São Paulo e Rio de Janeiro, principais cidades do país, que inversamente, diminui. Os gráficos mostram que em São Paulo a violência caiu para 2/3 (dois terços) e no Rio de Janeiro para 2/5 (dois quintos).

Neste mesmo parágrafo, o periódico cita a exploração de madeira ilegal e o tráfico de armas e drogas. Da mesma maneira, critica a força policial alagoana com adjetivos como fraca e corrupta, e ressalta as greves muitas vezes ilegais. (Illegal logging and land grabs, together with new cross-border routes for guns and drugs, stoked crime in the Amazon. And Alagoas, its state government debt-ridden and police force weak, corrupt and often on strike, was at times close to Lawless. (A exploração madeireira ilegal e grilagem de terras, juntamente com novas rotas transfronteiriças de armas e drogas, o crime aumentando na Amazônia. Em Alagoas, o governo do estado endividado e força policial fraca, corrupta e muitas vezes em greve, era às vezes um lugar sem lei).

Para convencer o leitor de que a violência em Alagoas está se agravando, o autor utiliza o gráfico, instrumento de pesquisa estatística e informação. Dessa maneira, ele prova para o leitor através de números e linhas que sua informação é fidedigna.

No quarto parágrafo, o jornalista prevê uma mudança positiva para o estado, pois com a ajuda de $195 milhões oriunda do Banco Mundial, em 2009, espera-se estabilizar as finanças e melhorar a gestão de governo, além de erradicar a pobreza extrema do estado. Dessa maneira, a ideologia do renascimento da paz no estado é construída e reforçada com as melhorias nos equipamentos da policia, estratégias de poder, com ligações políticas, que podem trazer mais segurança para o estado.

“Teotônio Vilela Filho, recently re-elected for a second term, has bought the police new cars and guns, and ended the practice of appointing Police chiefs according to their political connections”(Teotônio Vilela Filho, recentemente reeleito para um segundo mandato, comprou os novos carros da polícia e armas e nomeou comandantes de policia de acordo com suas ligações políticas).

4. A EDUCAÇÃO COMO APARELHO IDEOLÓGICO DO ESTADO

O periódico acrescenta mais uma possibilidade de retomar a paz com uma nova proposta pedagógica nas escolas, para que a criminalidade seja eliminada desde sua raiz, ou seja, na infância: “Mr. Aderico hopes that ‘peaces lessons’ in schools Will create a less violent generation of Alagoas” (Sr. Aderico espera que "lições de paz" nas escolas vão criar uma geração menos violenta de Alagoas). O Pesquisador francês Althusser (1985) inclui a instituição escola como um dos Aparelhos Ideológicos do Estado. A Educação é uma estratégia empregada para veicular a ideologia de poder, que controla o comportamento das pessoas. Percebemos que o autor do periódico tenta construir a imagemdo Estado de Alagoas em processo de melhorias para a população, fazendo emergir a ideologia da educação como uma arma de combate à violência. Segundo Althusser (1985) “a ideologia é um sistema de ideias, de representações que domina o espírito do homem ou de um grupo social.”

No último parágrafo, o periódico ironiza o estado de Alagoas com um novo fato que poderá tirar o estado do topo da lista dos estados mais violentos, fazendo com que os holofotes mudem de Maceió para Marabá, lugar atualmente especulado como a capital do assassinato “[...] but in the short term the state’s Best hope of moving down the murder rankings is for others to move up. Local politicians want to split Pará, a large Amazonian state, into three. If they succeed, Brazil’s map of violence will change once more. Marabá, which would become capital of south Pará, would inherit the title of murder capital and spare Maceió its shame”. (mas em curto prazo, existe uma esperança para o estado de Alagoas de mover-se para baixo no ranking de assassinatos, enquanto outros se movem para cima. Políticos locais querem dividir o Pará, um grande Estado amazônico, em três. Se forem bem sucedidas, o mapa do Brasil de violência vai mudar mais uma vez. Marabá, que se tornaria a capital Pará do Sul, iria herdar o título de capital do assassinato, poupando Maceió de sua vergonha).

CONCLUSÕES

Podemos perceber durante esta pesquisa, que o autor emprega o interdiscurso, materializado no intradiscurso, construindo a sua opinião sobre o Brasil. Esta análise mostra como a imagem do Brasil vem emergindo aos olhos da mídia britânica, que traz à tona uma população sofrida marcada por fatos violentos.

O autor do periódico, mesmo encontrando-se afastado da experiência interdiscursiva brasileira, emprega recursos linguísticos que lhe proporcionam autoridade discursiva. Para isso, ele utiliza instrumentos que comprovam sua argumentação. O periódico britânico ressalta a crescente pobreza de Alagoas, o tráfico de drogas que assola o estado, a impunidade alarmante que caracteriza o poder de classes privilegiadas, e reforça com certa ironia a visível diferença entre as classes sociais.

Percebemos, também, que o autor britânico ironiza o fato do secretário estadual da paz ser uma aspiração para um estado em que a violência toma o poder. Segundo o periódico, a educação em Alagoas irá sofrer um processo de reconstrução pedagógica, para tentar eliminar o crescente analfabetismo, origem de desemprego e, consequentemente, da violência.

Nossa análise evidencia como o Brasil tem sido alvo de especulações da mídia global como país de terceiro mundo. A imprensa tenta denegrir a imagem do nosso país, em um momento em que os olhos do mundo estão sobre nós mediante os próximos eventos mundiais sediados no Brasil, a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Dessa maneira, o periódico britânico não se apropria dos interdiscursos brasileiros referentes ao nosso privilegiado ecossistema amazônicos, assim como, não menciona as inúmeras pesquisas científicas que têm sido realizadas e podem contribuir para o desenvolvimento do nosso e de outros países.

REFERÊNCIAS

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CRYSTAL, David. English as a global language.Cambridge: CUP, 1997,

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PÊCHEUX, Michel. Disurso e ideologias. In: ______ Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. UNICAMP: Campinas, 1997, p. 143-183.

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http://www.economist.com/node/18805840. Acesso em 07/07/2011.

Fillipe Lima, Rosânia Almeida de Lima e Laís Calado da Silva Leite
Enviado por Fillipe Lima em 09/10/2012
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