Cabo Bruno – Vingança entre o êxtase e o horror
Prólogo
Esta é uma obra ficcional, fruto da livre criação artística e sem nenhum compromisso com fatos existenciais. Há quem diga que toda ficção se baseia na realidade e vice-versa. Para justificar essa assertiva informo que no contexto há verdades incontestáveis. A paridade contextual entre fatos e invenções pode e deve ser considerada circunstância imparcial.
Não adianta se escudar nos ensinamentos bíblicos, na caridade dos fiéis que contribuem com sorrisos, dinheiro, às vezes, suado e améns. “Quem com ferro fere, com ferro será ferido.” – Diz o ditado popular – será verdade? Sim. Às vezes esse provérbio se confirma mesmo com o prejuízo dos inocentes, sofridos e crédulos familiares.
Parece que há, no momento, um contentamento descontente dos que, igual a mim, se atrevem a escrever sobre o tema segurança pública. Claro que essa alegria advinda de uma tristeza é um paradoxo. Essa ideia aparentemente contraditória à estrutura lógica e ao senso comum não deveria ser tão enaltecida a ponto de causar certo frisson nos leitores pacatos e civilizados. Eis como a notícia do crime foi enunciada:
UMA CRIANÇA COMO TESTEMUNHA
Choramingava a criança mirrada com aparência doentia e paupérrima: – Mataram o tio Bruno! Mataram o tio Bruno! Mataram o tio Bruno! – A cantilena originava-se do menino de rua que se encontrava envolto em trapos na viela escura e malcheirosa situada no bairro Quadra Coberta de Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba.
O ex-policial militar Florisvaldo de Oliveira, conhecido como Cabo Bruno, de 53 anos, foi impiedosamente executado na noite dessa quarta-feira, 26 de setembro de 2012. Além do maltrapilho menino há quem afirme ter vislumbrado uma tênue luz escarlate, elevando-se acima das sombras e em direção ao céu, como um mau presságio, simbolizando a vingança entre o êxtase e o horror.
EXPLICANDO O CASO PARA OS LEITORES MAIS NOVOS
O pobre menino Henrique, portador de insuficiência na drenagem sanguínea na parte pudenda (A medicina moderna cataloga essa enfermidade como sendo priapismo), parecia estar em crise aguda pela expressão do rosto crispado, os olhos salientes e as pequeninas mãos protegendo a genitália sob o calção azul-claro.
Esse sofrimento psicofísico aumentou depois de a criança presenciar e ouvir os estampidos dos disparos de armas de fogo contra o carro do tio Bruno (assim era conhecido o ex-condenado Florisvaldo (Bruno) pelas crianças do bairro Quadra Coberta de Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba).
A professora Fernanda, mãe de criação do inocente menino que passava mais tempo na rua do que no casebre pobre da periferia de Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, perguntou de chofre:
– Onde você estava? Desde a boca da noite sumiu de casa sem banho, sem trocar de roupa, sem eu saber de seu paradeiro. Vou contar a seu pai suas peraltices e certamente ele haverá de tomar as devidas providências. – O menino se encolheu o quanto pode e disse num murmúrio que mais parecia o balido de um cordeiro, como um vagido cristalino.
O MENINO HENRIQUE (12 ANOS) OUVIU O DIÁLOGO MACABRO
À senhora Fernanda o menino respondeu: – Eu estava sentado com Zé Marcola (13 anos) e Tião Beira-Rio (14 anos) quando uns homens pararam um carro bonito perto da calçada do tio Bruno. De dentro do carro saia uma fumaça branca. Acho que eles estavam fumando. Uma voz fanhosa dizia estar sem dormir há duas noites enquanto outra voz, mais potente, falava:
– Daqui a pouco nosso trabalho terminará e amanhã tudo estará resolvido. Pegamos o restante da grana e nos mandamos pro Nordeste. – Uma terceira voz, esganiçada, dizia:
– Ouvi dizer que lá no Nordeste, principalmente no Ceará, Pernambuco, Alagoas e Paraíba também há uma turma da pesada fazendo uma limpeza. O cara cumpre cana braba e quando sai leva bala de Cal. 45, 40, 380 ACP, etc. Temos que ter cuidado!
– "O senhor é o meu pastor e nada me faltará (...)”. Será que ele acredita nessa bobagem? – A voz mais forte perguntou.
– Ele quem? O religioso ou o cara, nossa caça, que já está quase chegando?
– Refiro-me a nossa caça! Sabe irmão... Queria sair dessa vida. Mais cedo ou mais tarde será a nossa vez. O cara ficou 27 anos preso. Não faz nem 40 dias que foi premiado pela lei e agora poderá descansar em paz.
– Mas a vida de criminoso é assim mesmo. Somos premiados por leis fracas e devemos dar graças aos homens incompetentes de Brasília. O problema é quando saímos da cadeia. Ai o bicho bandido igual a nós faz o serviço sujo que deixou de ser feito.
– Então estamos fazendo algo sujo? Mas se a gente for discreto e não fizermos propaganda dos nossos serviços... Talvez consigamos nos aposentar e não ser justiçado pelos companheiros de nossa laia. Se eu for preso não vou querer sair da cadeia de jeito nenhum. Lá a gente come mal e não há conforto, mas permanece vivo se souber ajeitar os homens.
– Ué! Quer sujeira maior do que apagar um cara sem lhe conceder o mínimo de defesa? Psiu! Ai vem o carro dele. Lembre-se o serviço é só para ele. Não atire em inocente. Desarmado, crente de que tudo foi esquecido, tudo será muito rápido. Só atire com a arma principal. Deixe a reserva para o caso de uma emergência. – Nesse instante mais um agourento e tenebroso piado de coruja foi ouvido sobre a árvore copada.
AO SE APROXIMAR O CARRO DO ALVO A CORUJA AGOURENTA PIOU
Com um grito rouco, que se assemelha ao ruído de tecido sendo rasgado, a ave agourenta conhecida pelo nome “rasga-mortalha”, flanou por sobre uma árvore cujos galhos pareciam tremerem ante o deslocamento de ar provocado pelas asas potentes da rapina notívaga. O relógio da matriz, neste instante, mostrava a hora local: 23h47min!
“Cabo Bruno” era apelido. O nome verdadeiro do ex-policial era Florisvaldo de Oliveira. Na década de 80 ele ficou conhecido como o principal matador da zona sul de São Paulo. O ex-policial foi preso e condenado a mais de 100 anos por comandar um grupo de extermínio que trabalhava para comerciantes da região.
Ele era acusado de assassinar mais de 50 pessoas. O ex-policial dizia que começou a matar porque não acreditava na recuperação dos bandidos. Entretanto, na prisão, se converteu e se tornou pastor de uma igreja evangélica. Cabo Bruno casou enquanto estava preso com uma pastora da igreja. Ele era muito respeitado como líder religioso do presídio. Ele cumpriu uma pena de 27 anos. Os últimos 10 anos na Penitenciária II de Tremembé.
Depois de tanto tempo atrás das grades, embora exíguo em virtude de sua condenação, foram apenas 34 dias de liberdade. Cerram-se os olhos daquele que provavelmente acabara de orar: "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam" – Salmos 23-4.
Fora da prisão, Cabo Bruno seguiu uma rotina como missionário. Todas as noites, o pastor Florisvaldo fazia cultos nas cidades do Vale do Paraíba. “Tudo o que ele falava dava uma credibilidade muito grande pela sinceridade dele”, fala a missionária Marli Sacramento.
O promotor de justiça Paulo de Palma que pediu a liberdade do Cabo Bruno ficou assustado com a execução. “Eu tenho para mim, assim como tenho certeza ocorre com a juíza que o liberou, que ele se encontrava absolutamente ressocializado e com plenas condições de retomar a sua vida, de acordo com a lei e a ordem”. Segundo o advogado do ex-policial, ele só foi condenado por nove assassinatos dos 50 que eram atribuídos ao grupo de extermínio.
CONCLUSÃO
O cabo Bruno havia ganhado liberdade no dia 23 de agosto, depois de ficar 27 anos preso – sendo que 10 foram cumpridos na penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, a P2 de Tremembé. Segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo, Florisvaldo de Oliveira tinha seis condenações por 10 homicídios, duas tentativas de homicídio e um roubo. A pena total somava mais de 100 anos.
Um grupo de investigadores do setor de homicídios da Polícia Civil, em Taubaté, vai participar da investigação. Uma reunião deve definir qual a linha que será adotada para esclarecer o caso." “É um caso que deve ser complexo de esclarecer por conta do histórico da vítima”, afirmou ao delegado Lagiotto.
RESUMO DA CONCLUSÃO
No Velório Municipal de Pindamonhangaba. A viúva Daisy França, de 46 anos, ficou todo o tempo ao lado do caixão, que não estava lacrado, chorando muito. Ela esteve acompanhada dos três filhos - enteados de Cabo Bruno - e uma filha do ex-policial militar. Daisy não atendeu à imprensa.
Jane Trindade, irmã de Daisy, disse a imprensa que a família acreditava que Florisvaldo estava seguro desde quando saiu da prisão. "Essa foi uma triste notícia e pegou a família de surpresa. A gente não esperava esse fim", contou. Ora, ora, ora, como não esperar essa violência contra quem conviveu com a criminalidade durante tanto tempo?
A INSPIRAÇÃO DE FLORISVALDO DE OLIVEIRA (CABO BRUNO)
O fato é que o tio Bruno brincou de justiceiro e, até se espelhou em filmes interpretado por Charles Dennis Buchinsky (Charles Bronson – nome artístico) de quem era fã de carteirinha. O maior "empurrão" na carreira de Charles Bronson foi com o clássico "Desejo de Matar", de 1974, que o consagrou na pele de "Paul Kersey", um pacato arquiteto da cidade de Nova Iorque, que tem sua mulher morta e sua filha estuprada por três bandidos e passa a agir como um "vigilante", perseguindo os criminosos nas ruas à noite.
Com todo o respeito que o caso requer e a dor dos familiares exige, é de bom grado repetir parte do segundo parágrafo deste texto: Não adianta se escudar nos ensinamentos bíblicos, na caridade dos fiéis que contribuem com sorrisos fáceis, dinheiro, às vezes, suado e améns entre risos e trejeitos burlescos.
Não basta à boa-fé crer no esquecimento dos prejudicados. É preciso se proteger por conta própria porque o Poder Estatal a ninguém concede o simples direito de ir e vir, de viver em paz, de ter uma vida decente, pacífica e ordeira. Os ditos cidadãos de bem são estimulados a enganar o fisco pelo excesso de impostos que pagam e não têm uma contraprestação.
Os Órgãos de Segurança Pública estão mais preocupados com o aumento dos seus salários e bem-estar pessoal dos seus quadros. Basta acompanhar os noticiosos sobre as greves e seus reais propósitos para concordar ou não com o que ouso escrever fazendo uso de minha razão.
FLORISVALDO DE OLIVEIRA (CABO BRUNO) RESSOCIALIZADO
Eu acreditava na ressocialização do Cabo Bruno. Conheço bandidos que eram muito mais perigosos e hoje são homens de bem, mas eles vivem sempre alertas. Bem armados e municiados, vigilantes, jamais deixaram de cuidar de suas próprias seguranças extensivas às famílias. Todavia, é fato: Mais cedo ou mais tarde “Quem com ferro fere, com ferro será ferido.” – Diz o ditado popular. Estou escrevendo, há algum tempo, sobre essa barbárie que é a vingança privada.
Sendo uma espécie de justiça selvagem, a vingança consiste em ir contra uma pessoa ou grupo em resposta a algo que foi percebido ou sentido como prejudicial. Embora muitos aspectos da vingança possam lembrar o conceito de igualar as coisas, na verdade a vingança em geral tem um objetivo mais destrutivo do que construtivo. Quem busca vingança deseja forçar o outro lado a passar pelo que passou e/ou garantir que não seja capaz de repetir a ação nunca mais.
Essa vingança entre o êxtase e o horror é representada por uma linha inconsútil tão tênue que nem mesmo os que vivenciam junto aos seus familiares percebem a coruja que pia com seu pressagio de tragédias anunciadas. O augúrio de quem planta ventos é a colheita de tempestades tenebrosas.
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NOTAS REFERENCIADAS
– Todos os noticiosos falados, escritos e televisivos;
– Imaginação (Invencionice) do autor que deve ser considerada circunstância imparcial.