Pontualidade Brasileira
Antigamente, dizia-se que “o trem não espera por ninguém.” Uma forma de advertir-nos sobre a pontualidade no horário, sob pena de perdê-lo. Felizmente, ainda hoje, no que diz respeito aos meios de transporte, ainda prevalece esse costume, com pequenas exceções. Mas, quando se trata de alguns eventos, como reuniões, palestras e shows, o atraso torna-se uma prática abusiva.
Frequentemente, leio em jornais ou vejo na televisão o descumprimento do horário de algum evento, causando aborrecimentos aos participantes ou espectadores.
Recentemente, fui eu o próprio a sentir na pele o quanto é desgastante esperar longamente por quem não honra o compromisso com horário.
Num passeio por uma determinada capital do país, tomei conhecimento de um show que seria realizado bem próximo ao hotel onde me encontrava hospedado. Num local aprazível, um parque onde cabia um mar de gente, não titubeei: ali compareci exatamente no horário marcado. Postei-me a certa distância do palco, evitando assim o sufoco das grandes multidões. O tempo vai passando, passando, a multidão crescendo e nada de aviso sobre o atraso. Passa uma hora, duas horas, três horas, e eu já na iminência de desistir. De longe, via, de vez em quando, um tumulto na frente do palco. A impaciência da galera, àquela altura com o efeito etílico na cabeça, explodia em brigas.
Passadas três horas e alguns minutos, alguém chega ao microfone. Pronto, deve ser agora o início do show. Em vez de pedir desculpas pelo atraso, faz um agradecimento pela paciência.
Que paciência?
E os tumultos sucessivos não eram exatamente a falta dela?
Fiquei imaginando o que ocorreria com a multidão enfurecida, se fosse em outro país, onde o povo não admite a falta de pontualidade.
E eu, já dominado pelo cansaço e pela impaciência, só vi o início do show. Perdi a parte principal, em que as estrelas de maior brilho iriam se apresentar.
Teria assistido a tudo se tivesse ido três horas depois do horário marcado. Esqueci-me de que era em horário brasileiro. Mas, saí pensando: “Se eu fosse uma autoridade do governo, instituiria uma multa para quem não cumpre horário”.