Os presos de ninguém
Não é de hoje que a violência dentro dos presídios brasileiros assusta a todos. O lugar construído para ressocializar, deseduca, frusta, aterroriza e mata homens e mulheres, jovens ou adultos.
Em Altamira um péssimo exemplo da situação caótica do sistema de carceragem é o Centro de "Recuperação". Este ano, dois internos foram assassinados dentro do presídio, e sempre que a pressão do lado de fora insiste em perguntar o que aconteceu, a resposta uníssona é: "conflito entre presidiários". Hora pois! Curioso é que os internos são internos e por o serem, deveriam estar longe de armas, ou qualquer tipo delas. Como então explicar a multiplicação dos pães, quer dizer, armas brancas, dentro do presídio?
Essa pergunta ninguém responde, e não responde porque não interessa. A vida de um interno só interessa a família dele, a mãe, pai, filhos e a mulher. Não fosse isso, como explicar tantas mortes e a participação de alguns em crimes do lado de fora dos portões?
Presos por cometer algum tipo de crime, deveriam estar estudando, trabalhando, produzindo e se preparando para voltar a sociedade. Mas como garantir trabalho para os internos, se nem mesmo a população externa consegue arrumar um. Quem conhece alguém que daria emprego a um ex-presidiário? Ninguém, e sabe por que? Simplesmente porque ao serem detidos e condenados, eles são automaticamente excluídos pelo sistema. Engolidos por uma pilha de papéis que dá a volta ao mundo, postos em uma fila maior que a população da Índia e que mutirão nenhum, por mais bem intencionado que seja, consegue por um fim.
Essa semana mais um interno do centro de Altamira foi encontrado morto. Não cumpriu a sua pena e, não teve a oportunidade de escolher entre continuar no mundo do crime ou retornar para o seio familiar e ser novamente um cidadão. Tirar esse direito é não só ferir a constituição brasileira, mas dizer que o único direito que ao povo cabe, é nada mais que uma obrigação: Votar, porquê amanhã começa tudo de novo.
Mas um detalhe vem causando desespero as cúpulas mais abastadas, a violência, sempre democrática, e a história mundial mostra isso, cansou de oprimir os pobres.Esse talvez seja o preço pago por toda a sociedade, por ter sido vítima de um poder público ausente e excludente durante décadas.