Foto - trapiche da Usina Termelétrica

POLO NAVAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - PARTE 3

A partir do que escrevi nos artigos anteriores, chego a uma conclusão óbvia: governos municipais, empresas, sindicatos e sociedade só lembram do Rio Jacuí quando precisam dele! Para ganhar recursos, impostos, lucros, juros, empregos e salários. Para financiar, organizar e militar voluntariamente por projetos públicos ou privados visando sua recuperação a disposição não é a mesma.

O esgoto não tratado que jogamos desde sempre no rio e o estado de poluição em que se encontra não me deixam mentir. Estamos, literalmente (já disse isso antes), de costas para o Jacuí, despejando necessidades fisiológicas e poluição industrial nele. E isso demonstra bem que o desenvolvimento econômico e tecnológico de Charqueadas sempre se deu contra o desenvolvimento sustentável. O que, aliás, que é a regra histórica de tal fenômeno em qualquer outro lugar na Terra.

Mas não deixa de ser irônico que ainda por cima deem o nome do rio a alguns projetos que o agridem. Por exemplo: Complexo Penitenciário do Jacuí. Além da Penitenciária Estadual do Jacuí, que também larga esgoto direto para o rio, temos outras casas prisionais, que mandam para o Arroio dos Ratos (outra vítima!) tudo o que escorre pelas suas latrinas penais, sem tratamento. E ali naquele espaço também temos indústrias poluidoras: uma que emite espessas nuvens de poeira no silêncio da madrugada sobre os apenados e moradores das redondezas, e outra que se vê às voltas com criadores de gado por suposto envenenamento de um córrego que levou algumas vaquinhas sedentas para os brejos celestiais.
Outro exemplo são as mineradoras, que homenageiam o rio e também já retiraram toneladas de areia.

E, suprema das ironias, o cartão postal da cidade, uma das fotos mais utilizadas em materiais publicitários e publicações sobre Charqueadas, é a do por do sol no trapiche da Usina. O algoz e a vítima, lado a lado, numa imagem de forte apelo poética. A agressão ambiental vinda do desenvolvimento econômico e tecnológico, paradoxalmente, pode gerar belas imagens!
Não podemos esquecer a “ossada” da Termelétrica Jacuí I. Essa parece que o próprio rio, desconfiado, pediu para Gaia falar com os deuses da natureza a fim de agourar o projeto, que ressuscitaria o ciclo do “ouro negro” em pó e pedra. E todas essas “homenagens” ao Jacuí parecem coisa de matar e lucrar no enterro.
E agora termos o Polo Naval do Jacuí. Será que vai pelo mesmo caminho? Em todos os marcos econômicos tivemos autoridades presentes e só o lado econômico foi levado em conta, sendo o meio ambiente vitimado.

Pelo que vi na campanha eleitoral até agora, os candidatos a prefeito não tocam nesta questão do desenvolvimento sustentável, que deve ter uma centralidade ao pensarmos o futuro da cidade ante ao fato consumado do Polo Naval. Aliás, alguém já viu publicado o programa de governo dos candidatos? Eu ainda não. Se já saiu, me avisem, por favor, que estou interessado em conferir o que tem sobre essa questão.

Charqueadas sempre foi a reboque do desenvolvimento, procurando primeiro uma atividade econômica para depois ajustar sua estrutura às demandas desta. Alguns candidatos à vereança colocam pontualmente projetos sobre o desenvolvimento sustentável. Já é alguma coisa, tendo em vista que a preocupação parece centrada no hoje, na campanha, no teste de DNA pra ver quem o eleitor vai indicar como o “pai” do Polo do que em saber como vai se garantir o leite do “garoto”.
Na próxima terça continuarei abordando esse assunto.


Artigo publicado no jornal Portal de Notícias em 11.09.2012
http://www.portaldenoticias.com.br/Colunas/jo%E3o/index/jo%E3o.htm