SUBLIMAÇÃO - Trocando o prazer proibido pelo aceitável
Sublimação: “Mecanismo de defesa emocional, pelo qual tendências ou sentimentos que se julgam inferiores, ou socialmente reprovados, se transformam em outros que não o sejam”. (Dicionário Michaelis)
Nosso ancestral precisava de pouco para viver bem: comida, agasalho, teto, amigos e diversão. E a melhor das diversões, podemos deduzir, era o sexo. Conforme ensinam os especialistas, o homem primevo não conhecia o ciúme sexual, de forma que copulava com todas as mulheres do bando, e elas com todos os homens.
Essa farra acaba aos poucos, na entrada do período Neolítico, quando a monogamia, por vários motivos (o principal é o surgimento da sociedade patriarcal) começa a ser introduzida no seio da comunidade. O sexo, que era praticado com total liberdade, começa a ser policiado por intermédio dos mecanismos repressores impostos pela nova forma de civilização e mais tarde essa fiscalização recrudesce, com o advento do judaísmo e, em seguida, o cristianismo.
Em nome da civilização, o prazer sexual foi submetido a regras que o tornaram enfadonho e sem grandes atrativos. Exceto entre as sociedades primitivas que ainda permanecem, o homem contemporâneo vive cercado por um muro de regras morais, que o impede de exercer sua sexualidade do modo que gostaria. Por isso muitos homens e mulheres tentando resgatar o prazer primordial, acham um meio de driblar a vigilância dos moralistas em casos extraconjugais, no casamento aberto ou no suingue, em materiais pornográficos, no sexo solitário, etc.
No entanto, a maioria das pessoas reprime sua libido, por medo de ofender a Deus ou pelos seus princípios morais, que obviamente não são delas, foram nelas incutidos. Essa repressão aos instintos básicos, conforme ensina a Psiquiatria, vai gerar uma série de problemas psíquicos e, em muitos casos, depressão e neurose.
Para se livrar da angústia de não poder ter o prazer que deseja, o indivíduo busca sublimar seu desejo procurando atividades aceitáveis (em sua maioria) pela sociedade. As formas mais procuradas, inconscientemente, para fazer a mente esquecer seu instinto básico é o trabalho em excesso, as artes, a leitura, o colecionismo, as drogas (incluindo o cigarro e as bebidas alcoólicas), o esporte, etc.
Contudo, essas atividades apenas camuflam o desejo, que permanece nos porões da mente, louco para saltar para fora. E o ser humano sofre porque, por mais que sublime, não consegue evitar aquelas paixões consideradas erradas pela sociedade.
Que a sociedade anda doente, qualquer psicólogo sabe. A depressão será a doença número um em 2030. A cada ano aumenta o número de vendas de ansiolíticos e dos antidepressivos. A depressão não é causada apenas por regras morais que tolhem nossos desejos sexuais e impedem de sermos o que realmente desejamos, mas contribui em muito.
Vislumbramos, daqui a cinquenta anos ou mais, quando os interditos sexuais se tornarem mais frouxos – eles ficam mais fracos conforme aumenta o grau de instrução de um povo –, as pessoas vão poder enfim exercer sua sexualidade com prazer e sem peso na consciência, de forma inteligente e saudável. E as relações homem e mulher serão menos conflituosas e mais felizes.