Ideologia – quem vai querer?
A consciência humana, segundo Marx, se dá a cada instante, a cada momento, a cada vivência, a cada experiência. Não deve estar associada a grandes eventos ou a atos heroicos, muito menos por mitos, lendas, nem sequer se ater a tradições. Está diretamente ligada à concretude da nossa existência.
A princípio, isso parece ser muito simples. Contudo, a própria sabedoria popular afirma que “na prática, a teoria é diferente”. O que de fato acontece é que vivemos de aparências, cumprindo cada um o papel ou papéis a nós incutidos pela sociedade na qual estamos inseridos. Portanto, transformamos e somos transformados pelo meio em que vivemos.
As ideias nos são apresentadas de forma controvertida. As explicações muitas vezes não são satisfatórias, mas nos são empurradas goela abaixo, como aquele vermífugo semestral que tomávamos na infância sem nem sabermos para que servia. Diziam que tinha gosto bom, que era um leite com sabor, e nós acreditávamos, e tomávamos mesmo sem querer. Até porque a alternativa, quando existia, era a chinelada. E nem era “ou isto ou aquilo”. Os resistentes recebiam isto e aquilo.
Assim vai sendo formada a consciência social, numa realidade de conceitos truncados (às vezes trucados), em meio a mitos, maquiagens e ideias preservacionistas, não da natureza, mas do poder, pelo poder.
Por falar em natureza, na aplicação desse conjunto de ideias, tudo deve parecer natural. Os pobres devem permanecer pobres, pois o próprio Jesus Cristo disse que “pobre sempre tereis entre vós”. Os que sofrem ficam até felizes, porque “muito mais sofreu nosso Senhor Jesus Cristo”. É como aquele homem que desabafa, na música Cidadão, de Lúcio Barbosa, que não pode nem olhar o prédio que ajudou a levantar, mas que tem um padre que o deixa entrar na igreja, onde o próprio Cristo diz para ele:
A princípio, isso parece ser muito simples. Contudo, a própria sabedoria popular afirma que “na prática, a teoria é diferente”. O que de fato acontece é que vivemos de aparências, cumprindo cada um o papel ou papéis a nós incutidos pela sociedade na qual estamos inseridos. Portanto, transformamos e somos transformados pelo meio em que vivemos.
As ideias nos são apresentadas de forma controvertida. As explicações muitas vezes não são satisfatórias, mas nos são empurradas goela abaixo, como aquele vermífugo semestral que tomávamos na infância sem nem sabermos para que servia. Diziam que tinha gosto bom, que era um leite com sabor, e nós acreditávamos, e tomávamos mesmo sem querer. Até porque a alternativa, quando existia, era a chinelada. E nem era “ou isto ou aquilo”. Os resistentes recebiam isto e aquilo.
Assim vai sendo formada a consciência social, numa realidade de conceitos truncados (às vezes trucados), em meio a mitos, maquiagens e ideias preservacionistas, não da natureza, mas do poder, pelo poder.
Por falar em natureza, na aplicação desse conjunto de ideias, tudo deve parecer natural. Os pobres devem permanecer pobres, pois o próprio Jesus Cristo disse que “pobre sempre tereis entre vós”. Os que sofrem ficam até felizes, porque “muito mais sofreu nosso Senhor Jesus Cristo”. É como aquele homem que desabafa, na música Cidadão, de Lúcio Barbosa, que não pode nem olhar o prédio que ajudou a levantar, mas que tem um padre que o deixa entrar na igreja, onde o próprio Cristo diz para ele:
Meu rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar.
(música Cidadão, Lúcio Barbosa)
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar.
(música Cidadão, Lúcio Barbosa)
Assim, é natural que uma pessoa mal vestida parada diante de uma loja está com intenção de roubar. É natural que pessoas que moram nas favelas (ou vilas e aglomerados, como estão preferindo chamar atualmente) nasçam e morram ali mesmo, se não por uma bala perdida, pelas condições precárias de vida e por colocarem tanto menino no mundo, sem condições. É natural que os políticos pratiquem ilícitos, administrem mal a res publica e desviem verba, porque se nós estivéssemos no lugar deles teríamos que fazer a mesma coisa por causa do sistema.
Nessa pseudonaturalidade, caminha a sociedade, mais ou menos moralista, dependendo de quem está no poder ou das pressões de quem quer estar no poder. A maioria vivendo de acordo com o que lhe é ditado. No caso do Brasil, às segundas-feiras, sentindo os sintomas, ou conhecendo alguém que os sente, da doença rara descrita no Fantástico ou no Domingo Espetacular.
A ideologia é, portanto, um meio de controle das massas, seja através de explicações vermífugas com cara de fortificante e com manual fantástico (saudade do Almanaque Sadol...), seja através das novelas que ditam a moda, as músicas, os usos e os costumes, seja através dos canais oficiais de comunicação, estilo voz do Brasil no nosso caso, que fazem com que odiemos política, ao ponto de sequer nos lembrarmos em quem votamos nas últimas eleições e muitos chegarem à urna eletrônica sem nem mesmo saberem o cargo para o qual estão elegendo o candidato. Essa é a pior classe, a do analfabeto político, segundo Bertolt Brecht, poeta e dramaturgo alemão:
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.