OS AMIGOS QUE SE FORAM

Nascemos nesse universo, nesse mundo, sem sabermos exatamente o que estamos fazendo aqui. Vamos crescendo, envelhecendo, desde o nascimento e pessoas e lugares vão entrando em nossas vidas.

Me lembro de locais que me são as sete maravilhas do meu mundo, e que nunca esqueci. Acho que dependendo do tempo, da disposição, do bolso, enfim, de um conjunto de fatores, como a tarde ensolarada e modorrenta, o passarinho a brincar por ali, piando de vez em quando, o som da criança pequena e a esperança de um futuro, tudo isso e mais a interiorização pessoal de nossas vivências, fazem com que aquela localidade e aquele dia, fique marcado como especial. Formam-se assim as minhas sete maravilhas do mundo. Que não são sete, mas são um a tonelada delas. Nisso, no descobrimento de locais, descobrimos também pessoas. A descoberta do escritor novo, a revelação absoluta, é quando ele percebe que escrevemos sobre pessoas e para as pessoas. Talvez a tentativa maior do universo da escrita, seja não só indagar o ser humano, mas interpretá-lo. As perguntas do outro, são minhas também. E nesse descobrimento de locais e pessoas, ou locais com pessoas, ou ainda, pessoas que estão em certos locais, vamos nos descobrindo. Encontrei, por ai, pessoas pobres com um espírito magnífico; encontrei ricos pobres; e crianças sábias, além de adultos tolos. Me lembro de tanta gente, que me ajudou a chegar aqui. Alguns se foram, pra sempre, só existem, agora, na memória, mas ainda estão vivos, na memória. Alguns se desgarraram por ai e deles ouço ao longe, talvez, ainda balidos. Sinto saudades de uns olhos que me olhavam, de uma criança que me abraçou, como se eu tivesse sido, naquele momento um herói, pra ela. Sinto saudades do amor, que se foi ...da minha mulher. Sinto saudades daquela que não foi, mas que sobrou no ar, um respiro cheiroso, do que poderia ter sido. Há um êxodo, um vai e vem, um desgarramento nas pessoas. Pessoas entram em nossas vidas, sem pedir permissão; algumas se vão e deixam uma ferida maior que o mundo. Voltei a lugares que fui, faz tempo, entretanto, sem aquelas pessoas, sem aquela disposição, e decepcionado notei que aquele tempo se foi, aquele momento era único. Se vamos viver bem, que seja agora, é uma conclusão. Se é para quebrar o pau, vamos descer o barraco também. Queria deixar a minha marca: “por aqui passou alguém”. Talvez ela já esteja sendo deixada, de forma sutil, nos que temos contato, nos que interagimos.

De vez em quando vem uns dejavu, naquele rosto, naquele sorriso, dando-me a impressão que já o vi, e sei quem és. Mas a memória agora, tão abarrotada, precisando ser formatada, zerada, pra começar de novo, me trai e penso que conheço alguém hoje, mas são rostos do passado, trejeitos de fantasmas. As memórias passadas se vão, e vão se formando novas. Novos rostos, novos sorrisos e novos olhares vão se desenhando, formando outras sete maravilhas do mundo. Minhas maravilhas, locais belos, não por serem belos em si, mas porque gente bela, mesmo não sendo modelos de grife, vão aparecendo, aos montes, surgindo, a cada dia e cada vez mais. Hoje, uma nova menina me abraçou e não resisti e dei um beijo em seus cabelos. Enxerguei ali, pelo menos durante um flagrante de tempo infinitesimal, que eu era o herói pra alguém. E isso, faz tão bem!

pslarios
Enviado por pslarios em 15/08/2012
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