As opiniões nos jornais são, na maioria, sobre fatos políticos pessoais ou institucionais. Dá-se a impressão que é o fundamento único que move a história da humanidade. Por isso deixamos de discutir, até porque falta a especialidade, o homem, essa figura que emblemática que se apresenta com variedade de comportamentos. Não é em vão que o Sociólogo já sugeriu que se estudassem as manifestações públicas nos espaços destinados ao leitor nos jornais locais. Uma provocação aos que se consagram ao estudo sistemático e científico da personalidade humana.

O que é o homem? Qual a história das pessoas atrás de suas idéias, fora das aparências? Quem somos?

Agostinho de Hipona ficou famoso por ser o patrono da depravação total do homem. Escreveu que desde o momento da concepção a criatura é massa de perdição, irremediável, incapaz de escolher o bem, depravada moralmente, obtusa mentalmente e absolutamente apática ao bem. Salomão, rei de Israel, escreveu que ter respeito pela aparência das pessoas não é bom, porque até por um bocado de pão o homem prevaricará. O historiador Nelson Werneck Sodré diz que os grandes homens não são tão grandes quando vistos de perto, na sua intimidade.

Nenhum pensamento humano pode ser dissociado de sua história pessoal e a mesma tem que ser considerada pelos que tomam conhecimento das suas idéias. É preciso sempre inventariar um pensador ou alguma idéia simples. O homem atual é odioso, violento, falta-lhe caridade, anela incenssantemente construir seu nome pelo caminho da destruição do semelhante. Tornar-se herói pela sanguinariedade. Isso resulta do fato de nos olharmos tão benevolentemente para conosco mesmos, ao ponto de nos acharmos a verdade encarnada e temos tudo a dizer e a revelar sobre os outros, menos sobre nós mesmos.

Esse comportamento não emerge atoa, vivemos num mundo onde as pessoas simplesmente se diplomam, gabando-se depois disto do horror que têm a leitura e aos livros. Poucos lêem sobre o que opinam e nada lêem sobre si mesmos. Nessa deficiência combina-se o egoísmo, o exibicionismo, a pobreza de caráter. A insatisfação de errar sozinho leva-o a induzir os outros ao seu mesmo erro. Russell Champlin afirma que o homem é como uma víbora que esconde o veneno no céu da boca e toda a vez que deseja inoculá-lo utiliza-se da famosa liberdade de expressão. Acredita que a missão para a qual se nasceu é a de falar mal dos outros e dizer que ninguém no mundo, fora ele próprio, presta.

Que mundo que procuramos construir tem a ver com a preferência dos nossos temas. O homem desumanizado ocupa-se da evangelização da inimizade, do ódio, do rancor e da inveja. Em alguns segmentos profissionais é comum se derrubar um colega, deixá-lo sem condições de sobrevivência, sem comida e sem dinheiro para pagar moradia, desonrar o seu nome eternamente, sepultando-o na classe. Quem já não assistiu ou interviu numa situação dessas?

A maldade humana é tamanha que é capaz de prejudicar qualquer pessoa que não esteja na lista dos admirados pelo indivíduo odioso. É corrupção por natureza do ser. Somos frios, calculistas, grosseiros, traiçoeiros. Conseguimos com extrema tranqüilidade trair quem está próximo de nós, aquele que nos dá o pão diário. Cauterizamos nossa mente e nosso entendimento. Mas também nos voltamos contra nós mesmos. Adquirimos a capacidade de roubar a nós mesmos, prejudicando-nos, trocando nossos bens pelas porcarias da vida, e procedemos como a história do lobo e da ovelha que tomavam água na correnteza. Culpamos o próximo pelo que nós mesmos fizemos. O mais doentio é que acreditamos mesmo que os outros nos fizeram mal.

O mundo será melhor mas quando os homens transformarem seus corações. Quando a gratidão tomar conta do interior humano. Quando um homem avaliar o poço de miséria, de abandono, de mendicância em que esteve, e reconhecer o esforço, o sacríficio e o prejuízo que tiveram aqueles que lhe estenderam a mão e construir um coração humildade, grato, generoso e disseminador da solidariedade, do respeito e da maturidade. Só os porcos agridem os que lhe dão de comer, conforme o Mestre de Nazaré registrou. Que para sonharmos com um mundo mais bondoso a transformação, a revolução comece dentro de nós. Ninguém hoje oportuniza um lugar de destaque para figuras como Hitler, Busch, Mussolini e tantos outros.