DE LEVIATÃ A LOBA

Num país em que se fala tanto em cidadania, direitos humanos, direito das minorias e respeito às diversidades, tudo isto está à prova nos gestos e palavras de muitos que os defendem. Enquanto a mídia e o povo brasileiro estão de olhos nos salários dos servidores com muita polêmica e meias verdades, a classe média busca também, no setor privado, aumentar seu patrimônio, tornar-se emergente e ascender à classe “A”.

Difícil a projeção social sem o poder econômico. Dinheiro é carta de apresentação; uma espécie de passaporte de uma classe social a outra. Quem tem muito pode mais. Quem tem menos quase sempre a tudo se submete para tudo possuir. São poucos os que se contentam com o razoável e suficiente. Tanto no serviço público quanto no setor privado todos têm os mesmos objetivos: crescimento econômico e projeção social. O caminho em busca da riqueza talvez seja espinhosamente sacrificante, especialmente para os honestos. Mas o retorno à pobreza é mais doloroso e inaceitável para todos. Por isso quase ninguém reparte. Todos acumulam e poucos compartilham. E quando alguém divide alguma parte do seu todo, tal providência entre os seus pares torna-se duvidosa. Contratos, licitações e propinas se misturam entre o público e o privado.

Se dezoito mil reais constituem a "pequena"  pensão de uma ex primeira dama em relação às amigas que ganham quarenta, que dirão as mães cujos filhos recebem de pensão alimentícia 10% do salário mínimo? Quem sabe a Dona Ana Maria Braga tenha uma resposta para isso. Dona Xuxa e Dona Hebe Camargo também, elas que são pagas com milhões para o besteirol diário ou semanal. E ousam falar em “país mais justo”. Quanto ganha um professor, um médico, um engenheiro, um gari, um cobrador de ônibus, um motorista?

Bom, se for motorista de um coletivo, ganhará no máximo dois salários mínimos. Mas se for do Senado ou da Câmara, já inicia com um mínino de seis mil reais. Tirar fotocópia, servir cafezinho ou ser um ascensorista no Poder Legislativo é mais negócio do que ser um médico ou um professor da rede pública ou outra função no Poder Executivo. O Poder Judiciário, ao qual pertenço, também goza de privilegiada remuneração e invejável infraestrutura. Porém, por mais que ganhe um ministro do STF, a soma anual dos proventos dele é menor do que mensalmente fatura um Faustão. Vê-se por aí que a harmonia entre os três poderes, de que fala a nossa Constituição, compromete o princípio da igualdade e confronta-se com o  setor privado, poder à parte que, só dependendo do contribuinte como consumidor, é o maior gerador de impostos quando não faz algo para sonegá-los.

A justiça e a transparência não se resolvem apenas com o servidor público, mas sem as disparidades também existentes no setor privado. Todos que compõem a Nação têm direitos e obrigações, ao que suas remunerações correspondem ou deveriam equivaler-se. Há empresas que faturam milhões, mas pagam salário mínimo aos funcionários. A maioria da população assiste a tudo e a todos. E entre estes, há os que veem no Estado um padrinho, uma caixa beneficente. Os pequenos burgueses em ascensão, que criticam o assistencialismo, são os mesmos que dele se beneficiam e exigem das universidades públicas, além do ensino gratuito, moradia, alimentação e bolsa remunerada à prestação de serviço a que se negam fazer gratuitamente. Enfim, o Estado Leviatã transforma-se numa loba com muitos filhotes a lhes mamar as tetas.

Só há um bobo ludibriado no meio dessa farra: o contribuinte. Este, obrigatoriamente, “contribui” com o que lhe é imposto.

LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 25/07/2012
Reeditado em 28/07/2012
Código do texto: T3796685
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.