A violência é democrática, a política e a justiça não
Cenas cinematográficas transformaram a rotina da cidade, que aparentava tranquilidade no final da noite de sábado (14). Uma perseguição policial que começou no bairro de Nazaré acabou na avenida Duque de Caxias, esquina da travessa Curuzu, no bairro do Marco. O texto do jornal Diário do Pará reproduziu o medo que paraenses, turistas e acreditem, autoridades sentem ao sair de casa em Belém.
Ouvir isso não só assusta como revolta. Ao ver na TV, jovens, que perderam o fio da meada, ameaçando pessoas sem nenhum motivo, não é só revoltante, é aterrorizador. Enquanto vemos a arma empunhada por alguém que mal chegou a maior idade, ouvimos homens e mulheres dizendo "mata ele, atira logo nesse vagabundo", ouvimos também os gritos da vítima "não atira, pelo amor de Deus". O que pensar nessa hora? O que fazer diante de uma situação onde tudo, inclusive a morte, pode acontecer?
Os paraenses, e isso inclui quem mora bem longe de Belém, passam por um momento que tardou, mas tido como certo, chegou. A violência sempre tão paulistana e carioca chegou à região Norte e se misturou a pobreza histórica. Juntando a fome com a vontade de comer, uniram-se os criminosos escolados e os jovens desocupados, criando uma legião de pessoas inescrupulosas que matam por diversão e roubam para alimentar vícios e por que não luxos.
Mas, como tudo no Brasil, a criminalidade tem suas particularidades e é democrática. Antes presa às favelas, agora a guerra tomou as ruas, os endereços badalados, os condomínios de alta segurança, os bares frequentados pelos filhos dos ricaços. O que dizer do publicitário que viu a família sob a mira de um revólver, ou aos gerentes de bancos. Não podemos nos esquecer dos magnatas da política, lembram quando a rua do Serra foi alvo de ladrões, do vice-presidente da república e da família de um ministro do supremo. Eles todos sabem explicar bem o que é ser alvo da ira de alguém.
O que ninguém sabe explicar é onde isso vai parar, e até quando vai perdurar. Ninguém duvida que esteja só no começo, que muita atrocidade ainda vai acontecer, e que lugares antes tidos como inatingíveis, hoje são invadidos a toda hora, vejam os quartéis da polícia, exército, eles entram, roubam armas e vão embora deixando os militares amarrados e porque não, assustados. Pelo que podemos ver, ainda vamos ouvir muitos gritos, como o da esposa do policial militar morto há alguns dias e deixado na calçada. Como eu disse, a criminalidade é democrática, e promete não perdoar ninguém.