SEM PASSAPORTE, "NA MORAL!"
OPINIÃO:
Há poucos dias a imprensa nos noticiou que durante o nosso último "mega" encontro sobre ecologia, a conferência RIO + 20, uma participante do evento, a nigerana Hadijatou Aboubacar Anadou, sofreu um tamanho contratempo para retornar ao seu país.
Durante um passeio pela cidade maravilhosa, mais precisamente dentro dum shopping ali do Rio, a nigerana foi vítima dum furto e lá se foram seu dinheiro e seu passaporte. Nada de novo para nós, mas...
Aí começava o seu drama.
Sem representatividade diplomática nigeriana aqui no Brasil a cidadã africana se viu em maus lençóis, já que não tinha como se manter na cidade, então, foi gentilmente hospedada por uma professora até que seu novo passaporte fosse emitido pela embaixada do Niger nos Estados Unidos. É o que contam as notícias.
Um drama turístico, sem dúvida alguma, afora o endêmico do nosso drama social, principalmente como anfitriões do evento.
Que mico para nós, não?
E por que escrevo sobre o ocorrido?
Para exemplificar o quanto, por aqui, toda tragédia vira festa pela simples distorção do olhar do interlocutor.
Se eu pudesse rodar o VT da reportagem talvez conseguisse com total precisão aqui manifestar minha indignação ao ver o drama da Nigeriana ser transformado numa MEGA festa, numa super história de final feliz, pelas telinhas que tudo maquiam.
Durante a reportagem de volta para o Niger, Hadijatou Aboubacar Anadou, que mostrava uma nítida expressão de alívio já com o devido passaporte em mãos, ainda foi questionada pela jornalista se voltaria ao Brasil...como se ela tivesse vivido as férias mais maravilhosas da sua vida por ali...
Com um simpático mas super assustado sorriso na face, claro que ela respondeu que "sim", afinal, a moça é educada.
"Gente, olha que incrível, ela está dizendo que volta sim!"-gritava a entrevistadora.
Incrível mesmo...também acho.
E eu também teria respondido o mesmo, diante de tanta saia justa.
Saibam, o episódio foi grave e pré-anuncia um alerta social para os nossos próximos eventos internacionais que aqui serão sediados, pois não há situação mais terrível para um estrangeiro do que a de se ver sem passaporte fora so seu país.
É como existir sem provar existência alguma. Sem moeda então, é o caos.
Não há como aliviar as tensões dum fato tão sério quanto esse que ocorreu com a Nigeriana da Rio + 20, principalmente num evento internacional no qual fomos os anfitriões oficiais de Estado.
E mais sério ainda é perceber, através dos fatos previamente maquiados, como somos manipulados pelas reportagens que colorem com tons pastéis todos os nossos quadros aberrantes.
Cabe aqui as nossas brasileiras desculpas a Hadijatou Aboubacar Anadou: primeiramente pelo todo do seu transtorno, que de certa forma, também é representante do cotidiano nosso, e claro, uma derradeira super desculpa pela insensibilidade da mídia que banalizou o seu percalço em terras brasilis.
É assim que caminhamos, da Rio + 20 para os nossos outros tantos "mais" A SE PERDER DE VISTA, superlativamente cada vez mais...menos.
Se liga Brasil, E NA MORAL!-porque por aqui todas as luzes se desligam aos mágicos toques dum sonoro "plim, plim".