A PERPETUAÇÃO DA IGNORÂNCIA

Estou cansado de ouvir pessoas dizerem que os nossos governantes não investem na educação porque eles preferem ter uma população ignorante e submissa a formar cidadãos críticos e autônomos. Essa afirmação até pode ser verdade, mas as pesquisas comprovam que está mais para um mito do que uma verdade absoluta. Pesquisas realizadas pelo Ibope apontaram que a educação aparece somente em 7º lugar entre as prioridades do eleitor brasileiro. Diante de um diagnóstico desses, que razão e estímulo teriam os nossos governantes para priorizar a educação se aqueles que deveriam ser os principais interessados estão pouco se lixando!

Há tempos o governo brasileiro já vem obrigando a população a estudar e mesmo diante das leis que obrigam as crianças e adolescentes a se matricularem e a permanecerem na escola, ainda se viu obrigado a criar a Bolsa–Escola e depois o Bolsa-Família como forma de “forçar” os pais a assumirem a responsabilidade de enviar os menores às escolas públicas. De fato, as famílias estão se preocupando mais em mandar os filhotes para as escolas, mas os índices de aprendizagem e as reclamações dos educadores mostram que ainda teremos um longo caminho a percorrer.

A princípio a ignorância do povo pode até favorecer os interesses de alguns políticos, mas os mandatários acabam sendo vítima da falta de conhecimento e da formação dos seus eleitores. Afinal, as estatísticas mostram que as pessoas com menor grau de instrução adoecem mais, estão mais propensas a serem usuárias de drogas e a lotar os presídios. As diferenças entre as pessoas que tem formação acadêmica e aquelas que são semi-analfabetas são alarmantes, prova disso é que as mulheres brasileiras com nível superior possuem em média 1,2 filhos, enquanto que aquelas que estudaram até a 4ª série possui uma média de 6 filhos. Na prática, quem reúne as condições ideais para ter uma família mais numerosa não o faz justamente porque tem consciência das responsabilidades. São também as adolescentes da classe mais baixa que são as maiores vítimas da gravidez precoce, dos abusos e da exploração sexual.

Todos os estudiosos sabem que o descontrole de natalidade é um fator de empobrecimento das famílias, entretanto, os governantes aliados a setores conservadores de algumas igrejas cristãs, evitam tocar no assunto. A competição por recursos familiares pode ser considerada mais intensa quanto maior é o número de filhos, ou o tamanho da família. Duas hipóteses podem ser colocadas para tentar explicar como o desempenho educacional dos filhos se relaciona com o total de irmãos que eles têm. A primeira foi desenvolvida por BLAKE (1981), e é considerada uma abordagem sociológica. Esta autora enfatiza que quanto maior o número de irmãos ou quanto menor é o espaçamento entre os nascimentos, menores serão os recursos de tempo e dinheiro, investidos em cada filho. Esta teoria admite que os investimentos feitos pelos pais, em seus filhos, são iguais. BLAKE (1981) cita alguns recursos familiares como o tempo, a energia física e emocional, a atenção e a habilidade de interagir com os filhos. Além destes, ela considera obviamente os recursos materiais.

Certa vez o médico Dráuzio Varella disse numa reportagem Fantástico: “Quando entramos numa rua e nos deparamos com crianças correndo seminuas é sinal de que estamos num bairro com moradores de poucas posses”. Em tese, a falta de controle de natalidade faz multiplicar a pobreza e a ignorância dos brasileiros mais carentes.

A ignorância causa enormes prejuízos em todos os aspectos possíveis de serem analisados. Uma pessoa com melhor formação certamente estará menos propensa a se envolver em conflitos físicos que terminam em lesões corporais graves ou mortes, também estará menos vulnerável a contrair doenças que dependam da profilaxia (emprego de meios para evitar enfermidades), sem falar que pessoas pouco escolarizadas são mais suscetíveis a cair nas armações dos estelionatários, charlatões e criminosos em geral, inclusive dos discursos dos políticos “milagreiros” que neste ano aparecerão apresentando soluções para tudo. Se depender dos políticos que se aproveitam daqueles que não tem nem pão nem livros, a ignorância se perpetuará pelas próximas décadas!