Reduzindo a velocidade

Um grupo social (sem fins lucrativos) que demorou anos a ser montado e dividir confiança, que se reúne regularmente apenas para análises e registros de atas, com o passar do tempo tende a tornar tais encontros enfadonhos, provocando o afastamento gradativo de muitos integrantes e tornando muito difícil a agregação de novos adeptos. A turma se reúne em torno de 90 minutos e depois de um breve lanche se retira sem maior integração. Criando-se uma atividade posterior ao lanche (melhor que seja antes), o tempo restante de mais 90 minutos servirá para aproximar os participantes e fortificar o grupo.

Nos parece ser adequado criar algumas atividades atraentes a serem divulgadas e desenvolvidas no período que antecede tais encontros e a serem praticadas exatamente nestes eventos com a merecida pompa por mais modesta que possa parecer. Um diploma para ter valor não precisa ter bordas douradas. Melhor que tenha a rubrica dos amigos.

Claro que é preciso avaliar os recursos disponíveis (espaço, equipamento). Prevendo premiações simbólicas e diplomas confeccionados no computador. Tais momentos podem (e devem) ser documentados através de uma câmera digital para posterior distribuição aos que possuem micro para visualizar as imagens.

Dentre as centenas de possibilidades imagináveis, vamos observar algumas de fácil desenvolvimento e com investimento financeiro bem baixo. Se algumas vezes gastamos R$ 200,00 para assistir a um show que nem sempre nos empolga, certamente gastaremos com alegria R$ 20,00 para praticar algumas atividades que desenferrujem nossos neurônios, movam nossos esqueletos 5% acima da média diária, externem nossas potencialidades adormecidas, atraiam adeptos da própria família e criem interesses comuns que nos unam cada vez mais. Faz-se necessário eliminar barreiras para que outros possam se integrar gradativamente pois esta é a filosofia do mundo atual.

Se esta prática tiver sucesso dentro de um grupo de 20 ou 30 pessoas ao longo de seis meses, poderá ser copiada por grupos similares de igual porte e mais tarde, talvez, por um grupo maior que congregue todos estes núcleos que seguem a mesma filosofia de boa convivência em busca de uma melhor qualidade de vida para cada integrante e seus familiares e amigos.

Partindo do princípio que dentro de um grupo existem pessoas com as mais variadas habilidades para diversas atividades, parece ser positivo que cada evento proposto seja idealizado por cada um que possui o conhecimento para montar e conduzir tal prática. Este formato parece mais democrático pois não sobrecarrega uma única pessoa para coordenar todos os eventos ao longo do ano.

Para que cada atividade testada dentro do grupo possa ser melhorada gradativamente, sugerimos que ao final da prática seja efetuada uma breve enquete (via cédula) onde cada participante deve colaborar dando nota, citando pontos falhos e sugerindo adaptações que tornem tal atividade mais aprazível.

Agora vejamos algumas práticas possíveis e de fácil condução. A maioria delas deve ser divulgada no próprio lar para atrair familiares. E até vizinhos do condomínio. Vamos nos surpreender muitas vezes ao descobrirmos que nossos netos e outros familiares demonstrarão interesse no evento divulgado que devem ser montados de forma que a idade não seja um fator de distinção. As sugestões aqui lembradas agora estão apenas em ordem alfabética.

Apresentação artística – entre os próprios componentes ou familiares destes. Vamos descobrir alguém que toca violão, violino ou gaita com maestria. Bem como promissores dançarinos ou malabaristas. A melhor apresentação recebe uma honraria simbólica.

Concurso culinário – um desafio para quem se considera grande mestre dos quitutes que encantam os diversos paladares.

Concursos poéticos – poesias ou frases sobre temas específicos a serem declamados por cada participante. Também com premiação memorável.

Diversão coletiva – contratar uma pessoa para produzir e conduzir atividades lúdicas sob forma de gincana suave. Divide-se o grupo em dois e realiza-se uma competição saudável com artefatos que não tragam risco à integridade física, mental e moral.

Exposição de pintura – ou mesmo artesanatos, peças de tricô, bijuterias. Quantos familiares não gostariam de exibir suas obras que estão guardadas talvez por timidez? Eis a chance de enaltecê-las. Pode ser pintura em tela, em porcelana ou barro. Com uma premiação à obra mais votada.

Festas sociais – claro que dia das Mães, dos Pais, Páscoa e outras datas cívicas e religiosas são motivos para reunir o bando numa deliciosa confraternização inesquecível.

Show artístico – se tentarmos contratar um ícone da música, certamente ele vai cobrar mais de R$ 100.000,00 pelo show. Mas se convidarmos um mágico ou flautista que se exibe no Largo da Carioca, ele não vai cobrar mais de R$ 200,00 pela diversão.

Torneios esportivos – damas, dominó, bingo, sueca, palavras cruzadas, mau-mau, perde-ganha, jogo dos 7 erros, sudoku, bocha de salão, são fáceis de montar disputas de curta duração e com regras simples de entender. Ao vencedor, um prêmio tipo caixa de chocolates.

Vídeos diversos – estando disponível um “datashow”, é possível exibir alguns vídeos (disponíveis no Youtube ou da coleção de alguém – com menos de 15 minutos para não “cansar”) sobre temas específicos que poderão induzir alguns assistentes a projetarem uma excursão aos locais exibidos (praias, museus, cascatas, circos, hotéis campestres, restaurantes). Espetáculos de circo, dança, ginástica, mágica também cabem neste universo. Bem como peraltices de pequenos animais.

Conforme o volume de interesses externados, algumas atividades podem ser praticadas em paralelo num mesmo encontro. Tudo é uma questão de planejar a agenda com boa antecedência para que os responsáveis por cada evento se harmonizem e montem os esquemas de realização em paralelo sem atritos e sem atropelo.

Qualquer que seja a prática da vez, jamais deixar de fotografar/filmar tal evento (por um amador mesmo) para que tais momentos sublimes fiquem registrados para sempre. Feliz de quem tiver um micro para armazenar tal material para receber as cópias e relembra-las posteriormente junto aos seus entes queridos.

Toda esta explanação pode parecer uma utopia dentro do atual mundo agitado em que vivemos, onde cada vez mais as pessoas estão com pressa (para chegar aonde?) e se cuidam mal tanto na aparência física quanto na emocional. Onde nossa porta serve como um muro de concreto e nos impede de conhecer o vizinho que encontramos uma vez por quinzena no elevador e apenas trocamos um breve “-olá” (caso não esteja com o celular colado num dos ouvidos).

Será ótimo para a humanidade se cada comunidade conseguir dar um pequeno breque nesta corrida desenfreada sem tempo de saborear o que a Natureza nos proporciona e nem sempre sabemos lapidar e desfrutar.

Haroldo P. Barboza – Vila Isabel / RJ

Autor dos livros: Brinque e cresça feliz / Sinuca de bico na cuca