Caso Yoki – Psicopatia ou frieza existencial latente?

Prólogo

“A miséria humana não está na incerteza dos acontecimentos que ora nos elevam, ora nos rebaixam. Está inteira no coração ávido e insaciável, que incessantemente aspira a receber, que se lamenta da secura de outrem e jamais se lembra da própria aridez. Essa desgraça de aspirar a mais alto que a si mesmo, essa desgraça de não poder satisfazer-se com as mais caras alegrias, essa desgraça, digo eu, constitui a miséria humana.” (Espírito Georges – Revista Espírita de 1860).

O parágrafo acima se encontra como introito no texto “A MISÉRIA HUMANA” publicado no Recanto das Letras em 11/07/2010. Naquela ocasião Eu escrevi sobre o escabroso “Caso Bruno” que, até hoje tem dado muito que falar na imprensa televisiva, escrita e falada. Também naquele escrito urdi outro parágrafo onde aduzi sem emoção:

“Esse misto de dor e nostalgia que a todos causa desilusão e a mim frágua, é como uma espada de fogo que despedaça corações sangrentos e furam olhos inexpressivos e assombrados pelas mudanças repentinas de vidas jovens e promissoras.”.

O texto completo “A MISÉRIA HUMANA” poderá ser lido acessando o endereço:

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2371496

DEFINIÇÃO DE PSICOPATIA À LUZ DA PSIQUIATRIA

PSICOPATIA = Distúrbio psíquico caracterizado pela tendência a comportamentos violentos a antissociais e pela ausência de qualquer sentimento de culpa em relação aos atos praticados, o que torna o enfermo incapaz de se relacionar com os outros. [Uma das características marcantes de psicopatia é o egocentrismo extremo.].

Psicopata, a rigor designa um indivíduo, clinicamente perverso que tem personalidade psicopática. Contudo, essa última categoria nosológica em especial, dá o nome ao grupo conhecido como sociopatas. Estes por sua vez, na perspectiva psicanalítica são os portadores de neuroses de caráter ou perversões sexuais.

A psicopatia é um distúrbio mental grave caracterizado por um desvio de caráter, ausência de sentimentos genuínos, frieza, insensibilidade aos sentimentos alheios, manipulação, egocentrismo, falta de remorso e culpa para atos cruéis e inflexibilidade com castigos e punições.

Apesar de a psicopatia ser muito mais frequente nos indivíduos do sexo masculino, também atinge as mulheres, em variados níveis, embora com características diferenciadas e menos específicas que a psicopatia que atinge os homens.

O CASO DO EXECUTIVO DA YOKI

Já não é novidade o assassinato de Marcos Kitano Matsunaga ocorrido em 19 de maio deste ano em curso, pela mulher dele, a bacharel em direito Elize Araújo Kitano Matsunaga. Não escrevi antes de sair o resultado do Laudo Técnico, efetivado pela Polícia Técnica, para não incorrer em leviandade graciosa ou presunção lastrada na emoção enaltecida pela comoção pública e ampliada pela mídia.

Algumas pessoas leigas ou não, ao verem (lerem) uma reportagem sobre esse escabroso assassinato, com estilo cruel, frieza, talvez, planejamento antecipado, dirão entredentes ou darão um grito estridente: “Mulher psicopata”! Ora, isso é tudo o que uma defesa quer. Por quê? Não nos esqueçamos de que psicopatia é uma doença.

Se a assassina Elize Matsunaga for considerada uma psicopata deverá ser tratada e muito bem cuidada pelo Estado. Atenção! Escrevi: “Muito bem cuidada” e NÃO PUNIDA! Doente NÃO DEVE SER PUNIDO.

COMO OCORRERAM OS FATOS SEGUNDO A POLÍCIA

A tese de crime passional, cometida por ciúmes sob extrema emoção após discussão por conta da descoberta da traição, é uma das hipóteses trabalhadas pela polícia para explicar o crime. A outra é que a bacharel premeditou o crime.

A possibilidade de premeditação ganhou força após a divulgação do laudo dos peritos da Polícia Técnica Científica que aponta uma versão diferente da dada por Elize para o crime. De acordo com o documento do Instituto Médico Legal (IML), no momento do tiro, Marcos estava abaixado. Elize estava de pé quando atirou, de cima para baixo e à queima-roupa. Os vestígios de pólvora no rosto da vítima, vindos da arma, indicam que a distância era curta (À queima-roupa).

O laudo indica que Marcos morreu por choque traumático, causado pela bala, e asfixia respiratória por sangue aspirado devido à decapitação. Segundo policiais que participam da investigação, o resultado do exame revela que o executivo ainda estava vivo quando teve o pescoço cortado por Elize.

Embora popularmente a psicopatia seja conhecida como tal, ou como "sociopatia", cientificamente, a doença é denominada como sinônimo do diagnóstico do transtorno de personalidade antissocial. Não creio que esse seja o caso da assassina confessa Elize Araújo Kitano Matsunaga. Inclino-me para o entendimento da extremada emoção potencializada pelas recorrentes discussões entremeadas por mútuas ofensas verbais e físicas.

CONCLUSÃO

Podemos colocar esse caso (Assassinato de Marcos Kitano Matsunaga) ao lado de outros que horrorizaram o Brasil nos últimos tempos: Eliza Samudio envolveu sequestro, agressões, tortura e uma morte trágica. Depois de assassinarem a atriz Daniella Perez, Guilherme de Pádua e Paula Thomaz foram abraçar a novelista Glória Perez, mãe de Daniella. A jovem Suzane Richtofen foi fotografada aos prantos no enterro dos pais, mortos com a sua colaboração, por seu namorado. O casal Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, hoje condenados pelo assassinato de Isabella Nardoni, de cinco anos, foi quem avisou à mãe da menina que sua única filha havia caído da janela. São atitudes estarrecedoras pelo que representam: a crueldade em estado bruto, fenômeno que põe em xeque todos os valores da condição humana. “Nenhum de nós quer pertencer à mesma categoria que esse tipo de criminoso”, diz o psiquiatra Talvane de Moraes, estudioso das motivações que levam o indivíduo ao crime.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS CRIMINOSOS PSICOPATAS

1. Indiferença e insensibilidade pelos sentimentos alheios.

2. Atitude flagrante e persistente de irresponsabilidade e desrespeito por normas, regras e obrigações sociais.

3. Incapacidade de manter relacionamentos, embora não haja dificuldade em estabelecê-los.

4. Muito baixa tolerância à frustração.

5. Baixo limiar para descarga de agressão, incluindo violência.

Igual ao texto “A MISÉRIA HUMANA”, onde fiz comentários sobre o ex-goleiro do Flamengo, Bruno, esse assassinato do Executivo Marcos Kitano Matsunaga dará, ainda, muito que se falar. O embate jurídico será levado de um lado a outro baseado em provas materiais, laudos técnicos, depoimentos de testemunhas, etc.

Acusação e defesa se digladiarão com suas teses buscando: esta diminuir e até livrar a acusada da pena cominada na lei penal, enquanto aquela buscará a maior punição possível.

Não haverá novidades maiores para quem vivencia nos corredores forenses a exaltação da miséria humana banalizada. Houve um ou mais de um crime com o concurso (afluência) de outras pessoas? Se a resposta for SIM haverá que se dar início a uma rigorosa apuração, por meio de um Inquérito Policial, dos indícios sem esse “rufar de tambores”, sem pirotecnia onde a ética é desprezada em detrimento do brilho artificial de alguns operadores do direito, mídia, curiosos e assemelhados.

As vidas pregressas da vítima e do assassinado serão devassadas. Do lamaçal e lodo imundos sairão (surgirão) histórias opostas ao decoro, às conveniências. No meio desse turbilhão de sofrimento e desgostos os familiares dos envolvidos, atônitos, se sentirão impotentes e sem privacidade ao menos para chorar e se maldizerem ante a tragédia que se lhes frustram a alegria de viver.

Não vejo NENHUMA NECESSIDADE dessas vidas serem chafurdadas e esse lamaçal de horrores vir à baila. Refiro-me ao passado dos envolvidos, à libido considerada excessiva do assassinado, à vida leviana que vivenciava e tantos outros existentes e decantados com o propósito de denegrir o caráter dos envolvidos e seus familiares.

Essa propagação de fatos passados, irrelevantes e alheios ao caso concreto é, no mínimo, antiético e irresponsável. Isso é típico da miséria humana, da escória social ansiosa e à espera da queda do castelo de areia que não teve o alicerce fortalecido pelos laços resistentes de uma família coesa. Os componentes da sociedade acreditam que os oriundos da lama devem voltar para a lama.

Discordo desse entendimento. Vai de encontro a minha crença, pois creio firmemente na evolução dos seres humanos pela benevolência do criador. No meu entendimento a gênese (Motivação) do homicídio, no caso em comento, esta na extremada emoção potencializada pelas recorrentes discussões entremeadas por mútuas ofensas verbais e físicas. A assassina não vislumbrou ganhar uma herança ou outra vantagem financeira. O tempo dirá se tenho ou não razão.

MINHA FUNESTA CERTEZA

A ciência conseguiu avanços consideráveis no estudo da mente criminosa. Descobriu-se que existem indivíduos portadores de um distúrbio classificado pela Organização Mundial da Saúde como “Transtorno de personalidade antissocial”, ou psicopatia. Novas técnicas de mapeamento cerebral permitem associar esse transtorno a um atraso no desenvolvimento da área do cérebro chamada córtex pré-frontal, que é responsável pelo julgamento moral. A lista de características desses indivíduos cai como uma luva em assassinos contemporâneos.

Crimes dessa monta estão banalizados não apenas pela crescente miséria humana, pela dissociação familiar, pela perda do sentimento religioso, mas principalmente pela benevolência das nossas leis e injusta certeza da impunidade.

Tudo isso se repetirá, como um carrossel espúrio, quando o medo do escuro, na representação do desconhecido, travestido de vizinho, visita inesperada, carteiro, leiteiro, padeiro, açougueiro, encanador, entregador de pizza, policial, oficial de justiça, funcionário da Fundação Nacional de Saúde – SUCAM, bater à sua porta para lhe fazer um aterrorizante, tenebroso e, às vezes, irreversível mal em forma de injustiça, clava ou espada da lei.

Não tenho dúvidas: A criminologia, um dia haverá de minimizar essa desoladora MISÉRIA HUMANA. Essa ciência empírica que se baseia na observação, nos fatos e na prática, mais que em opiniões e argumentos, é interdisciplinar e não só se ocupa do crime, senão também do delinquente, da vítima e do controle social do delito.

Como interdisciplinar, a criminologia por sua vez é formada por outra série de ciências e disciplinas, tais como a biologia, a psicopatologia, a sociologia, política, etc.

Enquanto isso não acontece (Minimização da miséria humana pela evolução da espécie), pela absoluta ausência do Poder Estatal e benevolência das leis, ninguém (Nacional ou estrangeiro, pobre ou rico, magro ou gordo, bonito ou feio) estará livre desse carrossel recorrente do medo. Nesse oceano das maldades, eivado de loucos, nós, pessoas do bem estamos à deriva.