Por Carlos Sena



CENA 01 – A esposa (ex-garota de programa) mata o marido. Qualquer marido? Não. Além de marido dela era dono de uma grande empresa, a YOKI. Não bastando matar, a esposa deixa o corpo esfriar, espera o sangue coagular e reparte em pedaços, esquarteja. Coloca em malas de viagem, desce o elevador, e vai jogar os “pacotes” (sacos de lixo) nos arredores de São Paulo.

CENA 02 – O marido mata a esposa. Qualquer esposa? Sim e não. Além de esposa ela não era ninguém e era tudo. Era apenas uma nordestina que morava numa favela carioca e que tudo que tinha era a vida, enquanto durasse. Não bastando matar, o marido nem esperou o sangue coagular. Recortou-a em pedaços e colocou numa mala fuleira deixando-a em algum lugar do Rio. Depois correu pro nordeste onde depois fora descoberto e preso...

Nos dois casos, independente de posição social e financeira e cultural, são mortes passionais. Pelo menos é o que se noticia. O senso comum vaticina: frieza. O que nos encafifa: a forma com que muitos julgam os assassinos. A mulher sempre levando a pior no campo das avaliações: fria, interessada no seguro de vida do marido, “gaieira”, dissimulada, calculista. O homem, apaixonado, louco pela mulher que por sua vez deveria ser “gaieira” e coisas do gênero. Como ambos eram nordestinos (cena 02) e pobres e moravam na favela, o crime estarrece e serve de ibope alto para a mídia, mas depois cai fácil no esquecimento. Por outro lado o crime da cena 01 vai render mais do que mandioca mole. A mulher esposa do dono da Yoki vai ser sacrificada além do normal, certamente por ser mulher. Ou não?!
Independente de sexo, ser humano mata. Mas parece que na America Latina, principalmente, morte no casamento é mais aceitável quando quem pratica é o homem. Na cena 01 a mulher é fria como dissemos. Na cena 02 parece que o homem era apaixonado, como dissemos. Talvez nos dois casos a mulher seja vítima ou os maridos. A justiça tem que fazer sua parte, mas enquanto isto não é feito, ficamos com as interrogações acerca dos fatos e suas consequências. De uma coisa não se pode negar: o senso comum tem uma tendência a condenar a mulher que matou o marido rico e até mesmo absolver o homem que sua esposa pobre assassinou no Rio...
As duas cenas são, dentre outras, da natureza humana, especialmente do homem moderno – frágil, inconsequente, mata o semelhante com a mesma naturalidade com que toma um copo de leite. Valores fracos, machismo forte, talvez sejam os liames desses comportamentos, não fosse a falta de DEUS a maior lacuna. Como a morte é um “ai” que mal soa quem mais sofrerá com isto são os assassinos e familiares. Os mortos terão seu lugar onde a crença de cada um acreditar. Nós, pobres mortais continuamos, infelizmente, a conviver com uma sociedade violenta, de poucos valores sólidos, mas de muita falsa moral rondando nossas vidas.