Os pobres são mais felizes?
Sempre que eu fazia meu roteiro forçado do portão do barraco onde eu morava, ainda muito jovem e trabalhando num emprego como Office boy, ao entrar nos ônibus eu me deparava com pessoas cantando, sorrindo, contando casos umas pra outras, como se aparentemente elas não tivessem os mesmos problemas que eu enfrentava naquele momento com meus 15/16 anos, ajudando meu pai a pagar o aluguel e comida e ainda sofrendo humilhação do patrão que me chamava de burro a todo tempo e me dizia que eu não seria nada na vida.
Eu morava em uma casinha simples – na verdade, um barracão de um ou dois cômodos –, quintal de terra batida, sombreado por uma grande mangueira e protegido por uma cerca estragada e com um banheiro fossa lá fora.
Intrigava-me aquela pobreza extrema contudo numa idade em que eu ainda tinha pouca noção do universo estrutural das diversas formas e caminhos da sobrevivência. Eu via pessoas bem vestidas, falando bem, tidas como importantes, inteligentes e eu o “burro” delas tenho pena hoje, pois estão em situação financeira e econômica, bem piores que a minha, muito embora, eu não esteja rico.
Mas vale dizer que com certeza naquele tempo, eu era muito mais feliz, não sei se pela pobreza ou se pela inocência ou falta de consciência do mundo cão que nos cerca e nos deprime.
Eu me perguntava como seria poder comprar um sapato novo sem um carnet mensal, ou uma TV Telefunken em 60 meses em que você ficava escravo daquilo, como escravos são aqueles hoje que compram um carro novo pra pagar em 5 anos e ficam arrotando o luxo e padecendo o bucho, parcelando gasolina e troca de óleo pelos postos de gasolina da vida.
Tive sorte de ter um pai e uma mãe que se preocupavam com segurança, saúde e educação e estudei até o curso Ginasial completo com bolsa da prefeitura, mas estudei.
Foi o tempo da poeira, da bolinha de gude, do uniforme de gala branco nas paradas de 7 de setembro, do dez com louvor, das festas juninas inocentes, dos carnavais com serpentina e confete e martelos de plástico que espirravam água.
Agora que sei muita coisa, que escrevo, que estudei mais um pouco, sinto que o tempo da inocência é bem melhor do que o tempo da consciência. De vez em quando penso que estudar muito pode nos fazer mal, nos deixar mais amargurados. A ignorância plena pode trazer mais tranqüilidade. Por que diabos fui inventar de conhecer tanta coisa? Agora quero voltar e não posso mais.
Quando se ampliam os horizontes, não dá mais para estagnar. É por isso que quanto maior o poder aquisitivo, menor o grau de felicidade. O bom passa a ser mediano se transforma em rotina. Lembro-me bem e numa pesquisa que fiz vi publicada na Revista Época, guardada aqui desde 2006 num quarto de despejo que tenho, mostrava que os brasileiros mais felizes têm renda familiar de até R$ 1.499. Apenas 2% dos que ganham R$ 9.000 estão satisfeitos Acabei ficando tenso, porque, afinal, eu era mais feliz antes quando ganhava dois ou três salários mínimos e andava de ônibus.