A Fábula das Verdades Absolutas

Embora não se saiba ao certo quando, como e qual a origem exata, é fato que existe em nossa sociedade as ditas "verdades absolutas" que permeiam o imaginário coletivo e acabam por se concretizar na vida diária. Dentre as quais podemos destacar:

'Todo militar é um herói em potencial'.

'Todo religioso é um padrão de comportamento ético'.

'Todo advogado é um engravatado esperto'.

E claro...

'Todo professor e professora incondicionalmente, é um mártir inabalável'.

É curioso constatar como ainda em nossos dias essas concepções são mantidas e difundidas entre a população em larga escala, a ponto de tornando-se incapaz de acreditar que o inverso dessas e tantas outras teorias, por mais surpreendente que seja, pode sim acontecer com mais frequência do que se imagina.

No presente momento nosso país encontra-se estagnado por uma onda grevista das Universidades Federais, cujos representantes alegam mais uma vez, estar à beira do colapso ante a falta de recursos não disponibilizados.

Obviamente que para todo e qualquer trabalhador, o direito a greve é legítimo, instituído e garantido, no objetivo de fazer despertar no poder público a iniciativa de suprir aquilo que está em falta, para o melhor andamento das atribuições no exercício vocacional a que se tem por mérito.

Mas quando o abuso desse atributo se torna algo latente, fica ainda mais evidente outras motivações que estão por trás do movimento grevista, como por exemplo, instaurar a comoção nacional a favor daqueles que assim se identificam como vítimas do Estado ditatorial, para os quais as torneiras dos cifrões em Brasília estão sempre fechadas.

Em artigo publicado no site do jornal Folha de São Paulo, referente a declaração do Ministro da Educação Aloizio Mercadante sobre a greve das Universidades federais, comentei de forma realista sobre a arrogância e prepotência com que muitos docentes universitários se portam, e a obscuridade do mundo acadêmico da qual pouco ou quase nada se comenta.

De certo, o artigo se destina a acender um debate sobre a realidade paralela da vida acadêmica, provocando também um questionamento ante a dualidade do ativismo educacional que atinge o país em cheio.

Com as reações mais diversas dos leitores - desde as declarações mais exaltadas e descabidas por parte daqueles que pretendem legitimar a figura imaculada do educador acima do bem e do mal, às mais lúcidas quanto ao fato de que nem todos os profissionais da área da educação no ensino superior são exatamente um modelo a ser seguido, o que ficou claro é que algo nas Universidades brasileiras precisa urgentemente ser mudado.

E aqui me refiro não somente a termos administrativos, financeiros e didáticos, mas sobretudo ao fator comportamental de seus integrantes como um todo.

Antes de mais nada, é interessante o leitor consultar dados colhidos em matéria publicada no jornal Folha de São Paulo, em 31/05/2012 sob o título: "Unicamp e Unesp são únicas brasileiras em lista de melhores universidades."

Por meio dessa matéria, surgem algumas indagações que nos remetem a refletir sobre quais os rumos da Educação à nível nacional, e as expectativas de mudanças a saber: O que os professores universitários tem feito na prática para melhorar a situação do país, além de repetir teorias alheias para seus alunos, ditar regras didáticas em sala de aula e exigir mais dinheiro do Governo?

E mais, além da greve, quais as outras propostas e medidas a serem adotadas para reverter o quadro negativo do índice de desempenho acadêmico em que historicamente vivemos?

É fato que existem problemas que precisam ser resolvidos. Mas as exigências de incremento também devem vir acompanhadas do compromisso e engajamento por parte de todos os envolvidos, que muitas vezes acabam contribuindo direta ou indiretamente para que as desigualdades e precariedades não só aconteçam, mas permaneçam no nível em que atualmente as encontramos.

Em minha trajetória acadêmica - na qual obtive êxito por mérito e esforço próprio - já era comum se ouvir falar nas 'panelinhas' que são formadas entre os valorosos docentes para promover e encaminhar seus representantes e aprendizes de feiticeiros ao curso de mestrado e doutorado, como uma amostra gratuita do seu poder de persuasão na instituição a que estão vinculados. Em detrimento de outros tantos bons alunos que por não poder contar com esse tipo de apadrinhamento, estão fadados a ficar fora da lista dos privilegiados.

Também muito se comenta sobre a situação de submissão a que professores adjuntos e temporários são submetidos, em contraponto aos efetivos que tem sua situação profissional já consolidada, e podem se dar ao luxo de, por exemplo, negligenciar suas aulas e carga horária.

Dialogando com estudantes de outras instituições em outros Estados do país, novamente o mesmo argumento foi confirmado, onde o popularmente chamado QI ( Quem Indique ) torna-se o fator determinante em boa parte desses casos.

Porém, como tudo na vida possui os dois lados e pontos de vistas variados, não é possível validar essas informações como regra, assim como medir a opinião de 1 milhão de alunos atingidos - segundo dados divulgados na impressa - sobre os efeitos colaterais que ainda serão sentidos pelo acontecimento grevista aqui citado.

De tudo o que já foi mencionado, o mais importante e certamente necessário, é que haja a promoção do debate, do diálogo aberto, civilizado, onde todos, professores, autoridades, alunos e sociedade em geral, possam sentar à mesa e transformar teoria em prática, engajados pela qualidade e eficiência, e não apenas condicionar o aumento de salário dos docentes acadêmicos como a única e imediata solução para todos os problemas - já que basicamente essa é, e sempre foi a retórica que resume e justifica as reinvidicações dos profissionais paralisados, que em comparação aos professores do ensino básico nas redes públicas estaduais e municipais, podem se considerar bem mais afortunados, uma vez que a disparidade salarial entre as categorias é um marco.

A greve é um direito dos trabalhadores, não resta dúvida disso. E em nenhum momento foi dito o contrário. Assim como não se generalizou a conduta de todo e qualquer docente indiscriminadamente.

O artigo inicial está bem claro para aqueles que se dispõe a ler e entender corretamente, sem apelar para a demagogia e a chantagem emocional na tentativa de minimizar os fatos.

E assim como do mesmo modo sabe-se que as exceções fazem parte da coletividade, pode-se admitir sim de livre conhecimento, que não são 100% dos grevistas que estão realmente comprometidos com as mudanças que esse país precisa.

Para muitos desses "ativistas" da educação, é o saldo da conta bancária que realmente interessa. O resto... não tem pressa!

Fique por dentro:

* Estudante dá lição de moral em professora e vídeo viraliza - http://administradores.com.br/noticias/tecnologia/arrogancia-ou-desabafo-estudante-da-licao-de-moral-em-professora-e-video-viraliza/75853/

* Leitura complementar: http://www1.folha.uol.com.br/saber/1098023-unicamp-e-unesp-sao-unicas-brasileiras-em-lista-de-melhores-universidades.shtml

* O ponto de vista de uma professora universitária: "E o que vem se constituindo entre alunos e professores, nas graduações, é uma situação de indigência mental decorrente, entre outras, da ausência de um estimulo à carreira universitária. Alunos encenam que estudam e professores fingem que ensinam. E isto há décadas". Por Marise Rocha Morbach http://blogflanar.blogspot.com.br/2012/06/professores-universitarios-sao.html

* "Não vai ter jeitinho e se o plano de melhoria não for muito bem elaborado, não há a menor possibilidade de abertura de vestibular. Vender aula não é vender sabonete, você está formando um profissional", comentou Mercadante. [...] Matéria completa:

http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/?Noticia=483537

Ito Msa
Enviado por Ito Msa em 02/06/2012
Reeditado em 10/05/2013
Código do texto: T3702413
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