A UTILIDADE MARGINAL DO AMOR

Na Ciência Econômica, a Lei da Utilidade Marginal, grosso modo, reza que em uma relação econômica, a utilidade de um bem decresce, à medida que se consome uma unidade adicional dele. Um bom, simples e tradicional exemplo desta teoria reside na satisfação que temos, ao tomar água: se temos muita sede, a satisfação (utilidade) do bem água, no primeiro copo, será muito alta, mas, à medida que tomamos mais um copo, aquela satisfação (utilidade) do bem irá diminuir gradativamente, podendo até tornar-se negativa (inutilidade).

Entendo que com o que a maioria das pessoas identifica como “amor”, acontece o mesmo, mesmo que não o percebam, claramente. Se o indivíduo encontra-se sozinho, tendo como Norte de sua vida a busca de uma companhia, identificará uma enorme utilidade para o evento ou situação que identifica como “amor”. Por outro prisma, aqueles que percebem suas vidas como eventos maiores que a mera e socialmente fomentada busca por companhia e procriação, tendem a identificar pouca ou nenhuma utilidade no amor romântico, a cada dia mais propalado e quisto por bilhões, pelo mundo.

Percebo que, neste ponto – até por não ser o objetivo do texto- não há que se falar ou apontar, qual atitude é, por assim dizer, “mais correta” que a outra, mas apenas perceber que pessoas são, sim, diferentes, e que, por mais que uma maioria esmagadora aplauda e estimule determinados comportamentos ou pensamentos, não segui-los não deve ser (ou não deveria) tomado como algum “desvio” de personalidade ou algo que o valha. Vislumbro exatamente o contrário: exige-se muita personalidade de quem decide, por vontade e princípios, “violar”, ir contra o tácito código de conduta social, há tempos, vigente, que a maioria segue à risca - muitas vezes, em detrimento de suas próprias aspirações, e por receio dos dedos inquisidores de uma sociedade que, na verdade, se importa mais em julgar, que estimular a satisfação pessoal de cada um de seus componentes.

Perceber-se amado, assim como amar, até certa medida, pode ser algo saudável, se originados em genuína virtude, não pairando qualquer sombra de dúvida sobre isso. Acontece que a busca pelo amor o transformou, nas últimas décadas, em algo quase obsessivo, compulsivo, e isso, irônica e paradoxalmente, tornou-o trivial, reduzindo assim, sua satisfação e alcance. Ama-se tudo: desde um lápis n°. 2 de determinada marca, a “brothers” participantes de reality shows de qualidade (?) discutível. O mundo em que vivemos, habitado por nossa raça há milênios, é das coisas mais dinâmicas que temos conhecimento, e nossos comportamentos, enquanto grupo social organizado, seguem esta toada, felizmente ou não, a depender do caso em análise.

Este específico movimento contrário à maioria – os “não preciso/ quero tanto amor”- pode (como geralmente acontece) ser tomado como uma “anomalia social” por aqueles que acreditam e defendem que devemos ser máquinas pré-programadas para agir, pensar e viver estritamente da forma que ouvimos que deve ser; por meu turno, percebo-o como uma esperança para nossa evolução, um primogênito caminho para que, num futuro próximo, as diferenças sejam efetivamente respeitadas e exaltadas, não apenas neste sentido, e não porque dizem que devem ser, mas por mero e óbvio senso de justiça e absoluto respeito ao próximo e seus desejos. Uma vez que sonhos não são regidos pelas teorias econômicas – menos ainda pela Utilidade Marginal-, porque não acreditar?

Gustavo Marinho
Enviado por Gustavo Marinho em 19/05/2012
Reeditado em 22/01/2017
Código do texto: T3676250
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.