MINHA AMIGA FICOU VIÚVA E EU FUI AO ENCERRO.
Por Carlos Sena
Por Carlos Sena
De repente minha amiga fica viúva. Não conhecia seu marido, mas ela, pela sua grandeza e pela nossa amizade me compelia ao enterro. Fazia anos que eu não participava do encerramento de uma vida. Prefiro dizer assim: encerro. Melhor que enterro. Acho que a gente enterra um cão, um gato. Gente a gente encerra, a gente leva ao término como uma peça de teatro que termina e os expectadores não podem ficar no recinto.
Com a vida é assim. Um dia a gente vai ao encerro dos amigos. Ou apenas vai ao encerro independente de ser amigo, podendo apenas ser gente independente do grau de amizade. Gente é assim: nasce, constrói símbolos, edifica família, sofre, diverte-se e depois vira “estrela”... Virar estrela bem que poderia ter sido a forma dos homens se referirem aos semelhantes quando eles se fossem pro outro dado da eternidade. Foi com esse sentimento que fui ao encerro do marido da minha amiga. Encerrar alguém é triste porque não é quem está “indo” quem toma a iniciativa. A “sentença” de encerro é misteriosa e nem sempre a gente alcança seus motivos... Certo é que tudo que tem início tem fim. Todo início do existir convém risos, comemorações, festas. Assim é quando uma criança nasce. Encerrar uma vida implica ruptura de sentimentos, símbolos compartilhados entre os entes queridos. Por isto, a gente chora, mas, prefiro acreditar que é por nós mesmos que a gente o faz. Algo como: “chorando pelos outros é por nós que choramos, principalmente pelo encerro da vida”.
Interessante é que a “plateia” que se acotovelava diante do caixão, comportava-se como se aquilo ali fosse uma coisa distante da realidade deles. É o que me passou na mente, pois se percebia a clara definição de um cumprimento de obrigação social por parte da maioria que ali estava. Fato é que para o falecido ou o encerrado nada mais lhe restava dessa existência, exceto os filhos, esposa e os sentimentos constituídos coletivamente entre eles.
Retirei-me antes da lápide ser completamente coberta de terra (“Tu és pó e ao pó retornarás, lembrei”), mas imaginei que a solidão estava a tiracolo mesmo era na família. Retornar do encerro é dos piores momentos desse ritual. É quando a roupa, a cama, a vida reclamam sem mais sombras de existência. Os amigos, os parentes, os conhecidos seguem suas vidas. Poucos aproveitam o ritual do encerro para se melhorarem, para diminuírem o orgulho e as vaidades interiores. Saí pensando nisto. Saí inclusive imaginando se alguns daqueles que foram se despedir do marido da minha amiga se imaginaram sendo encerrados... Isola, isola (betem três vezes na madeira), como se isto fosse coisa que só acontecesse com os outros. Engano bobo de quem pensa ser eterno numa vida passageira.
É assim a vida. Irônica, ao nascermos nossos pais comemoram. Ao morrermos, nossos filhos choram. Quem nos ama chora. Porque quando choramos pelo outro que se vai é por nós que choramos...
Com a vida é assim. Um dia a gente vai ao encerro dos amigos. Ou apenas vai ao encerro independente de ser amigo, podendo apenas ser gente independente do grau de amizade. Gente é assim: nasce, constrói símbolos, edifica família, sofre, diverte-se e depois vira “estrela”... Virar estrela bem que poderia ter sido a forma dos homens se referirem aos semelhantes quando eles se fossem pro outro dado da eternidade. Foi com esse sentimento que fui ao encerro do marido da minha amiga. Encerrar alguém é triste porque não é quem está “indo” quem toma a iniciativa. A “sentença” de encerro é misteriosa e nem sempre a gente alcança seus motivos... Certo é que tudo que tem início tem fim. Todo início do existir convém risos, comemorações, festas. Assim é quando uma criança nasce. Encerrar uma vida implica ruptura de sentimentos, símbolos compartilhados entre os entes queridos. Por isto, a gente chora, mas, prefiro acreditar que é por nós mesmos que a gente o faz. Algo como: “chorando pelos outros é por nós que choramos, principalmente pelo encerro da vida”.
Interessante é que a “plateia” que se acotovelava diante do caixão, comportava-se como se aquilo ali fosse uma coisa distante da realidade deles. É o que me passou na mente, pois se percebia a clara definição de um cumprimento de obrigação social por parte da maioria que ali estava. Fato é que para o falecido ou o encerrado nada mais lhe restava dessa existência, exceto os filhos, esposa e os sentimentos constituídos coletivamente entre eles.
Retirei-me antes da lápide ser completamente coberta de terra (“Tu és pó e ao pó retornarás, lembrei”), mas imaginei que a solidão estava a tiracolo mesmo era na família. Retornar do encerro é dos piores momentos desse ritual. É quando a roupa, a cama, a vida reclamam sem mais sombras de existência. Os amigos, os parentes, os conhecidos seguem suas vidas. Poucos aproveitam o ritual do encerro para se melhorarem, para diminuírem o orgulho e as vaidades interiores. Saí pensando nisto. Saí inclusive imaginando se alguns daqueles que foram se despedir do marido da minha amiga se imaginaram sendo encerrados... Isola, isola (betem três vezes na madeira), como se isto fosse coisa que só acontecesse com os outros. Engano bobo de quem pensa ser eterno numa vida passageira.
É assim a vida. Irônica, ao nascermos nossos pais comemoram. Ao morrermos, nossos filhos choram. Quem nos ama chora. Porque quando choramos pelo outro que se vai é por nós que choramos...