QUAL É A SUA COTA?

Dia desses, em que o Supremo aprovou por unanimidade as cotas raciais nas universidades brasileiras, muito se noticiou sobre as opiniões a respeito, tão divergentes no mérito mesmo entre os doutos das leis, que nos foi necessário o martelo do Supremo para finalizar a questão...e ponto final.

Havemos de lutar pelas minorias, inclusive pelas quais o Ministro qualificou de "pobres vítimas do sistema", que a cada dia crescem mais entre nós, vítimizados que somos todos, desta ou daquela raça.

Porém, conversando com as pessoas amigas e mesmo aqui no Recanto, um espaço de literatura democrática disponível para quem gosta de escrever sobre diversos assuntos, eu manifestei minha opinião em vários textos sobre o que sinto a respeito da condução da questão das tais cotas.

Claro que a causa é louvável principalmente se nós cidadãos dum mesmo solo de tantas raças, dum vasto e belo sincretismo de culturas, enxergássemos de fato, paralelamente às certas decisões ditas em prol da justiça social, um terreno propício de implementações sociais "de base" que realmente trabalhassem contra todo o cerne da gênese da injustiça social que nos norteia historicamente, como bem foi discursado pelos senhores lá da Justiça Maior.

Interessante que, ao mesmo tempo que se falava em cotas raciais e igualdade entre as minorias , a imprensa nos mostrava que lá no Congresso um irmão vermelho, originário da terra, se manifestava, mas foi imediatamente retirado do local, meio que sem direito à voz.

Eu sinceramente, no tudo que olho por aqui, não vejo muito resultado prático do tudo que se grita a ser implementado politicamente em benefício do nosso tão precário social, aliás, cada vez mais precário.

Não estou aqui falando em riqueza em espécie dinheiro, em crédito, em consumo, falo de outra moeda social que mede um riqueza mais nobre, daquela que tempo algum carcome, falo em justos tesouros de consciência e pensamento somente implementados com a educação de acesso igual para todos, precocemente, obviamente não só nas universidades através das cotas , porém em todo o ensino em igualdade de condição...desde o berço do nascimento, seja ele de que raça for!

Estamos muito, MAS MUITO longe disso que parece ser utopia entre nós e me parece que as cotas raciais nas universidades só vêm a constatar que falhamos muito como sociedade...mas desde o princípio de sempre até, inclusive, aos dias de hoje.

É UM PEDIDO DE DESCULPAS QUE SE FOSSEMOS ESTENDER A TODOS OS INJUSTIÇADOS FALTARIAM VAGAS!

Por que ninguém melhora o acesso e a qualidade da educação pública fundamental para que todos concorram em igualdade de condição nas vagas às universidades? Será que criamos dificuldades com a AMPLA "deseducação" de hoje em dia para depois nos valermos de concessões sociais com finalidade política populista aos que são carimbados como minoria?

Seria isso justiça social? Evidenciar desigualdades entre os constitucionalmente iguais só depois que elas já ocorreram?

Ou justiça social seria trabalhar na base implementada com vontade política verdadeira para que elas não mais ocorram?

Não, aqui não falo em tesouros que possam nos chegar com ações políticas como as da queda de juros, da correção monetária das poupanças, nem de aumento do PIB, nem de bolsa de valores, nem de balança comercial, nem de câmbio flutuante do Dólar ou do Euro, nem de economia em emergência mundial, nem de globalização, nem de dividendos, estou cansada de "lero- lero"!

Falo aqui de riqueza social sustentável!

Aquela que aparece na dinâmica do nosso dia a dia e dá dignidade real às pessoas!

Não está na moda falarmos em sustentabilidade?

Por que, então, não educamos TODAS as nossas crianças de verdade para que resolvamos todas as nossas dramáticas questões sociais, inclusive as ambientais que nos devastam?

Saibam, nossa cota de prejuízo social é para todos nós de todas as raças...todos os dias, cada vez mais.

Cada um de nós que identifique e rogue pela sua.

E então, uma querida amiga "afro- descendente" que gentilmente me leu, lá me perguntava num dos meus textos:

"Nem contra e nem a favor...mas o que fazer para diminuir a desigualdade? Então pensei e depois lhe respondi num resumo do meu pensamento:

***

É simples Nilamaria, mas nos falta vontade política verdadeira.

As diferenças sociais, todas e tantas!, sejam elas quais forem, sempre foram e serão plantadas pelos interesses de alguns em detrimento de muitos, e nenhuma delas se resolve com as canetas "cegas" dos gabinetes. Nem com palavras bonitas.

Seria preciso um trabalho de base que de fato priorizasse a educação, não apenas esse modelo de assistencialismo político sem grandes impactos sociais de justiça, mas sim, políticas que gerassem oportunidades iguais a todos sem promover mais diferenças entre nós.

Por exemplo, se TODAS as nossas crianças, todo o nosso belo colorido infantil de todas as raças, estivessem de fato nas escolas, com educação de primeira linha, com VALORIZAÇÃO dos professores e do conhecimento, decerto o "pensamento" da nação não seria tão ludibriado pelo populismo.

Justiça Social passa pelo respeito pela cidadania, coisa que ninguém tem por aqui: nem brancos, nem negros, e muitos menos os vermelhos que eram os donos autóctones desses país.

Veja por exemplo o que ocorreu com o episódio do índio lá no Congresso.Todavia nossas diferenças nunca serão resolvidas a medida que o pão, o circo e a corrupção desandam pelo país afora.

Hoje os jovens se formam e não há aonde trabalhar com satisfação pessoal.

Tudo com a régua nivelada na precariedade social do tudo.

É assim que vejo no dia a dia, é assim que sinto.

Infelizmente.

Sem educação NUNCA sairemos do lugar a não ser ...que esteja valendo caminhar para trás.