Amar é também pensar!

Tenho visto um fenômeno estranho ocorrendo em nossos dias.

Talvez nem seja um fenômeno tão novo, mas a tecnologia tem colaborado para que ocorra com certa freqüência.

As pessoas estão carentes, carentes de contato humano, carentes de amor romântico, carentes de amor enfim.

Lutou-se pela quebra de tabus, pela liberdade de escolha, pela liberdade sexual e conseguiu-se se desfazer de laços tradicionalistas e moralistas que prendiam as pessoas em dogmas criados por uma sociedade hipócrita. Esse era o discurso que ouvi minha vida toda. E hoje assisto o resultado dessas lutas e suas “vitórias”. Seria mesmo vitória? Diziam que a moral e os bons costumes era fachada para orgias e que pessoas aparentemente bem “comportadas socialmente”, eram na verdade “falsos moralistas”.

Concordo que muitos hipócritas gritavam aos outros um discurso moralmente correto, mas as escondidas faziam o oposto.

E pergunto agora: Isso mudou? Respondo: Não, os hipócritas continuam na sua hipocrisia.

O que mudou foi que os verdadeiramente moralmente corretos estão sendo ridicularizados e a noção de certo e errado ficou seriamente prejudicada.

As mocinhas estão sendo usadas e jogadas fora como toalhas de papel e pensam estar exercendo sua liberdade sexual.

Voltando a intervenção da tecnologia, e mais especificamente a internet com suas opções de promessa de um contato humano; por estarem carentes e perdidas, as pessoas buscam em sites de relacionamento uma criatura especial e única. Em seus contatos de carne e osso não existe um ser humano normal e capaz de lhe preencher as lacunas da alma. Talvez porque falte a coragem necessária para exercer essa pretensa liberdade sexual. O mundo está maravilhosamente propício ao sexo casual, o problema é que o sexo casual não pode ser feito com pessoas que vemos de forma nada casual. E ter que encarar as pessoas nos olhos depois de um encontro casual fica complicado. E então alguns saem em busca desse anonimato, tão facilmente encontrado em chats. Lá as pessoas não tem olhos, e fica tão mais fácil imaginar as coisas sem a presença física. O grande problema é a decepção do encontro, pois invariavelmente o cérebro cria sempre uma imagem melhor que a realidade e a frustração é inevitável. O que não acontece com os relacionamentos começados da forma antiga, diga-se de passagem. Antigamente olhava-se uma pessoa na rua, na lanchonete ou na escola. O olho escaneava o outro e caso agradasse esse primeiro órgão do sentido, usava-se os outros. Nem sempre só os olhos eram suficientes para fazer a seleção e de vez em quando, nos surpreendíamos pela beleza interior de alguém depois de uma conversa, coisas que os olhos não tinham percebido. Porém o que ocorria era que decepções eram menos freqüentes. Não que não existissem, mas com certeza era mais fácil ir aos poucos descobrindo que a pessoa superava as expectativas do que ser frustrado.

O que acontece hoje em dia é que parte-se do fim para o começo e dessa forma a imagem mental se evapora na primeira olhadela.

Agora pense comigo. O que faz a pessoa pensar que lá do outro lado da tela do computador possa existir alguém que seja tão especial e maravilhoso, como sempre se sonhou e que nunca encontrou em seus contatos pessoais?

O que faz a pessoa pensar que uma outra igual a ela, solitária mal amada, perdida, frustrada seja especial e única mas está sozinha também?

E pior que isso, muitas vezes entabulam relacionamentos começados em torno de mentiras.

Veja, dizem estar fugindo de um relacionamento onde foram enganados, e começam outro com alguém que também está enganando outro alguém e esperam assim encontrar o ser humano perfeito e santo e separado por algum deus para ela. Tem cabimento?

Vou ser mais específica, pois vejo que esse é um caso que se repete todos os dias aos milhares. Preste atenção nesse caso:

Uma pessoa casa mal, faz uma péssima escolha e acaba num casamento infeliz. Está casada mas o marido é frio, distante, indiferente e tal... Invariavelmente essa pessoa é traída, e descobre várias e várias traições do homem com quem está convivendo. Está infeliz com a auto estima em baixa, mas, e talvez justamente por isso, não quer se separar. Então tem a feliz idéia de procurar alguém especial na internet. Entra num chat pornô (erro número 1, príncipes não estarão em chat pornô), encontra um homem com um nome interessante (erro numero 2, você só viu o nome, não se compra livro pela capa), e começa uma conversinha fiada. Vai dando corda e contando a cada dia um pouco mais de si, claro que floreando muito bem os detalhes, não se espera num primeiro momento que serão checadas as informações. A conversa vai fluindo e ficando interessante.

Cada um passa a melhor versão de si mesmo ( se a pessoa é tão boa em fazer seu currículo amoroso, porque não coloca o currículo em prática? Se fizesse isso quem sabe não teria um romance de verdade?), mas na verdade ninguém é tão bom na prática quanto na teoria, e essa é a droga de se começar um romance teórico. A decepção joga a pessoa lá das alturas. E a pobre criatura se esborracha toda. E aquela que investiu mais por estar mais desesperada é a que sai mais machucada.

Voltando a nossa personagem, essa mulher desesperada por atenção não percebe os sinais que a outra está passando, pois quer desesperadamente ser amada e ter um espaço significativo na vida de um homem, uma vez que seu marido a trata com desprezo. Embora o outro diga: sou “casado e bem casado”,” não quero um romance com você”, “na verdade nem sei o quero”, “ talvez apenas alguém desconhecido para poder contar tudo” , mas a carente entende: “quero você”, “ preciso de você”, “você é quem busquei a vida toda”, “você é única” ...

E tudo o mais que a vontade cria na cabeça. Essa pessoa começa então a querer comprar o afeto desse ser maravilhoso e único. Ela enche ele de presentes, conversas, promessas. Esquece que o lugar onde ele foi encontrado era suspeito já desde o início.

Gasta todas as suas energias e força um encontro. Depois que a realidade bate na cara de forma grotesca, fica se sentindo uma vítima de um crápula mentiroso. Mas analisemos:

De onde a pessoa tira a idéia de que um homem bom, de caráter, que seja romântico, sincero, diferente do “crápula do seu marido”, seja encontrado numa sala de bate papo pornô, numa madrugada dessas qualquer, que não faz nenhum esforço para estar com você, que diz que não quer romance, que é casado e está enganando a esposa, que aceita que você faça todo o serviço e que a única atitude desse homem é ir até onde você está com as pernas abertas esperando?

Conheço uma que o homem, disse que não tinha como criar e-mails sem ser descoberto, ela se propôs a criar um para ele ( você não é bom em mentir, te ensino), ele disse que não tinha como ligar para ela, ela comprou-lhe um celular, ele disse que gostava de dar presente para agradar a esposa, ela então se propôs a lhe mandar presentes caros, ele disse que não teria como ir até ela, ela comprou passagem de avião e foi até a cidade dele, ele não foi sequer buscá-la no aeroporto e ela nem desconfiou, ele deixou ela lá no hotel cinco dias a espera e ele só apareceu duas manhãs e por apenas 2 horas, deixou a pobre ir embora sem uma despedida e a imbecil queria continuar o que ela chamou de uma amizade bonita. Como é possível alguém não perceber tantos sinais claros de “ eu estou só usando você” ? Como deixar mais claro a mensagem de que talvez eu seja um crápula pior que o crápula que está na sua casa? Ou talvez o cara nem seja crápula, é você mesmo que é crapularizante. Lembre-se, princesas transformam sapos em príncipes, bruxas transformam príncipes em sapos.

Essa mulher tomou todas as iniciativas para favorecer a formação de um sapo, e recebeu um sapo.

Começar um romance assim é o mesmo que procurar comida na lata de lixo e reclamar que lá não tinha nada que preste.

Como diz a velha tia do meu marido:

“Gente, presta atenção!!!”

Rosahoney
Enviado por Rosahoney em 24/04/2012
Reeditado em 24/04/2012
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