Curiosidade sobre a transferência da nova Capital para a cidade de Brotas
Curiosidade sobre a transferência da nova Capital para a cidade de Brotas
Você sabia que Brotas quase foi a Capital do estado de São Paulo?
Em 17/09/1979, a cidade de Brotas foi manchete no Jornal da Tarde O Estado de S. Paulo com o título, A orgulhosa Brotas não tem dúvidas: será a Capital.
Em 1979, Brotas tinha 8.400 habitantes na área urbana e 5.600 na zona rural. Os boatos na época, aos poucos, foram transformando-se em certezas, e a população discutiam as vantagens e desvantagens. Muitos apontavam melhoramentos e mudanças, outros apontavam as implicações indesejáveis. A conclusão estava sendo mantida em segredo, mas era certo que muitos membros da Comissão Executiva de Estudos e Localização da Nova Capital já apontavam a região de Brotas como a mais favorável para a implantação do projeto.
Em 1979 existiam apenas dois partidos que comandavam a política no Brasil: ARENA Aliança Renovadora Nacional e o MDB, Movimento Democrático Brasileiro. Oficialmente, o Ato Institucional Número Dois (AI-2), decretado em 1965, permitia a fundação de outros partidos políticos, mas criava pré-requisitos (como a exigência de 20 senadores e 120 deputados federais para se fundar um novo partido), o que na prática impedia a existência de mais do que duas agremiações. Nesta época era certo que o MDB tinha fechado questão contra a mudança, e dizia ser assunto encerrado. Já que a reformulação partidária era favorável ao governador Paulo Maluf nesse sentido: ele esperava a reestruturação de partidos, e enviar à Assembleia Legislativa o projeto de trasnferência da Capital. Assim, estando diluída a posição contrária do MDB, o projeto teria maiores possibilidades para seu andamento.
Expectativa da População
Para o povo não havia mais o que discutir: é em Brotas que a Capital estará situada. A cidade fantástica, “redonda”, do governador Paulo Salim Maluf, que segundo eles, levará o progresso, o desenvolvimento e “muita coisa boa” para a região de Brotas, distante cerca de 250 quilometros de São Paulo. Alguns adimitiam que também receiavam a vinda de “coisas ruins”, por enquanto limitadas as duas preocupações: “poluição e trombadinhas”. – “A gente tá torcendo para a Capital vir para as nossas terras”. Afirmava Manoel Ramos 69 anos, motorista de caminhão aposentado. Sentado em um pequeno banco de madeira na porta de um bar, garantia que todo mundo estava gostando da ideia. Quem tinha terras acreditava que ia valorizar, quem tinha comércio pensava no aumento do movimento, e os jovens estavam contentes porque não precisariam mais sair da cidade para se promoverem.
Vidinha fácil
Em 1979 havia na Praça Amador Simões, bancos de madeira, iluminação a neon, muitas árvores e um lago construído em concreto, de formas modernas. Era na Praça que os casais se encontravam para namorar e as crianças se reuniam para as conhecidas brincadeiras de esconde-esconde, amarelinha, e bolinha de gude, ou para andar de bicicleta e pular corda. Do outro lado da avenida Rodolfho Guimarães, no bar do Camilo, os mais velhos jogavam truco ou bilhar, assistiam à televisão colorida instalada no balcão ou discutiam, em pequenos grupos, os problemas. – “Nossa vida é uma tranquilidade, uma vidinha fácil, que a gente vai levando por ai” – Dizia Natalicio Lázaro, com 72 anos na época, comerciante aposentado. Ao seu lado, Silvério Tessuti, 53 anos. “Trabalho vendendo galinhas e porcos para o açougue e aos moradores”. Ambos expressavam com receio a perda do sossego, a vinda da Capital para Brotas. “ – A gente sabe que em São Paulo a vida é uma loucura, poluição, atropelamento, trombadinhas. Uma bagunça que ninguém quer por aqui. A nossa cidade é tranquila, mesmo tendo aumentado o número de carros circulando. Mesmo assim, é difícil acontecer alguma coisa. Nunca há novidades. Outro dia uma bicicleta bateu em um cachorro e serviu de comentário para uma semana inteira”. Junto à praça ficava, ainda, o ponto de taxi da cidade: três Corcéis, um Opala, e um Ford 1929, de propriedade de senhor Miguel Osti, 78 anos, motorista há 60 anos. Ele tinha algumas dúvidas sobre a vinda da nova Capital – “De tanto que eu ouvi falar do assunto, e assim como muita gente, tem medo de que ela traga ladrões e criminosos. – Dai essa cidade vai ficar um horror e isso não vai ser nada bom”. Completa. “ – O serviço já não estava nada bom e agora ficou muito pior com o aumento do preço da gasolina. Será que vai aumentar ainda mais?” O menino Mário César Batista de Oliveira brincava durante a tarde, assistia televisão à noite e dormia cedo. –“ Tenho que acordar ás 6:30, pois tenho que ir na escola”. Foi pela televisão que ele ouviu dizer que: “ - A nova Capital vai trazer mais recursos para nós, mais dinheiro e escolas, para que a gente não tenha que sair daqui. Ouvi dizer ainda que poderá trazer poluição, e muitas outras coisas que a gente não vai gostar. Mas meu pai disse que vai ser bom assim mesmo.” Os boatos sobre a mudança da nova Capital para Brotas estavam quentes na época. Para muitos moradores seria um tanto bom a capital vir para cá. Só que então, Brotas nunca mais será como antes: tranquila, pacata, como nos tempos atrás, quando as ruas eram de terra e nos arredores só havia cafezais.
Prefeito Lorival Joubert da Silva Braga não escondia seu enstusiasmo.
Naquela época, o prefeito Arenista, Lorival Joubert da Silva Braga não escondia seu entusiasmo e a certeza de que Brotas receberia mesmo a nova capital do Estado. Ele tinha muitos argumentos favoráveis à construção e rebatia com eles quaisquer críticas feitas sobre a mudança. Nenhuma pergunta ficava sem resposta, nenhuma dúvida sem um esclarecimento. Só uma coisa devia existir: um consenso em defesa do projeto. “– A mudança será benéfica para os dois lados: para o interior, a capital servirá como polo de desenvolvimento e São Paulo ficará mais desafogada, sem deixar de ser uma grande metrópole. Dizem que com os municípios vizinhos poderá ocorrer a mesma coisa que houve com as cidades satélites de Brasília: um centro de atração para favelados. Acho que não, pois com o planejamento e os cuidados que a comissão (Celcap) está tomando, irá ocorrer um desenvolvimento harmônico. Além disso, como na área onde foi construído Brasilia não havia nada, foi preciso levar material e mão-de-obra para lá. Isso não se dará aqui. Por Brotas estar no centro de cinco cidades, o governo estadual terá mais facilidade em encontrar o material necessário para a construção da Capital, e mão de obra é o que não falta na região. Muitos prefeitos da região que tinham dúvidas quanto às vantagens, agora são os maiores defensores do projeto que, pelo que se sente, é uma beleza, se for aplicado da maneira como foi estudado. O povo fala que a capital trará marginais, que acabarão com o nosso sossego. Nós não queremos sossego, queremos progresso; mas se vierem marginais, virá polícia. O prefeito Lorival Jouber, também citava muitos aspectos positivos de Brotas: “o que deve ter levado os membros da (Celcap) a optar pela região: água em abundância, um entrocamento rodoviário-ferroviário perto de Itirapina o aeroporto em São Carlos e o cinturão verde, bem de acordo com o projeto, que separará o polo onde ficarão concentrado três poderes da zona residêncial”. Mostra, inclusive, a área plana – a 900 metros de altitude – próximo do distrito do Patrimonio de São Sebastião da Serra ( a 50 km de Brotas), escolhida para a instalação da nova capital: “ servida pela bacia do Tiête, pela bacia do jacaré–guaçu, com terras favoráveis e muitos pontos de atração turística, que são as várias cascatas formadas por causa da serra.” Uma empolgação que transfere para os 300 habitantes da pequena vila, no Patrimonio, com 70 casas, uma igreja, uma escola, um centro comunitário, uma serraria e três bares. “O pessoal que depende de trabalho assalariado ficou muito animado com a vinda da nova Capital”. Falou o vereador Arenista Irineu Sgorlon, que era dono da maior mercearia e bar do distrito. Ele contava que só as pessoas de mais idade eram contrário ao progresso que o projeto traria. “Nós estamos precisando de dinheiro e fazer a rapaziada ficar por aqui, só gostaria que essa mudança viesse de uma vez, logo para não ficar nesta espectativa”.Finalizou Irineu Sgorlon. O senhor Sorri, enquanto arrumava na vitrine o balcão dos doces feitos por sua mulher, Ernestina, também era favorável à vinda da Capital para a Brotas. “vai ser uma coisa boa para todos”- Ele dizia ao mesmo tempo em que retirava da prateleira uma garrafa de pinga fabricada na região.
Tudo isso não passou de sonhos, projetos e espectativas. A Capital do estado de São Paulo continua em São Paulo. O político Paulo Salim Maluf queria fazer de Brotas a Capital do estado e hoje Brotas é considerada a Capital do Esporte de Aventura.
Depoimentos e trechos aqui redigidos foram pesquisados no Jornal da Tarde O Estado de São Paulo datado do dia 17/09/1979. Matéria de Regina Helena Teixeira.
Por: José Renato Bueno