Que país é este?

Se existe uma cor que represente o Brasil, esta é o verde. Verde das matas, das infindas riquezas naturais que nosso país possui. Verde de esperança. É o verde e o amarelo que cobrem nosso povo, especialmente em momentos em que queremos demonstrar nossa alegria por pertencermos a esta Nação.

Entretanto foi este mesmo verde que me fez passar por uma situação extremamente vexatória na tarde do dia 10 de abril de 2012, no Instituto de Identificação, situado no Bairro Benfica, o qual se apresenta como o único lugar desta metrópole em que podemos tirar uma segunda via da Identidade. Munido de minha Certidão de Nascimento e de minha identidade antiga, além da identidade funcional (registro do CREA), dirigi-me a tal lugar, na certeza de que teria de passar pelo constrangimento de esperar algumas horas em um lugar quente, lotado, sentado ainda em bancos sem encosto. Como preciso viajar para o exterior, e é necessária uma identidade atual (não pode ser a identidade emitida pelo Conselho) e em boas condições, fui com a melhor das intenções. Ao chegar lá, fui surpreendido pela notícia de que não poderia completar o processo, pois minha certidão, segundo a funcionária que me atendeu (que percebi ser de uma empresa terceirizada), estava ilegível, graças à faixa verde, que cruza o documento de uma ponta à outra.

Fato é que esta certidão está comigo há 39 anos. E há 39 anos (sim, sou velho!) esta MESMA faixa esteve no MESMO lugar. O nome de meu pai, que ela alegava não poder visualizar com clareza, podia ser claramente confirmado na outra identidade de que eu estava de posse, mas, mesmo com essas alegações, a funcionária não quis saber e, em tom extremamente grosseiro, disse que eu teria que ir ao cartório (NO RIO DE JANEIRO!) para tirar outra certidão de nascimento. Isso depois de 39 ANOS, SIM, 39 ANOS, em que tenho esta mesma certidão, com esta mesma faixa verde, que nunca apresentou problema em nenhum momento.

Tendo tentado argumentar com a senhora, que se mostrava irredutível, mesmo em face da necessidade urgente de eu ter um novo RG, indaguei pela existência de uma ouvidoria, ao que fui interpelado com um “não há ouvidoria aqui”; pedi depois que ela me dissesse o seu nome, e ela avisou em tom rude que NÃO DIRIA SEU NOME. Diante de todos os maus-tratos que essa senhora me dispensou, soltei uma imprecação, motivo suficiente de ela me ameaçar de prisão e eu ter sido achacado por diversos homens que se acercaram de mim me ameaçando me prender.

SIM, SENHORES! EU IA SENDO PRESO POR TER EXIGIDO MEUS DIREITOS!

Um cidadão, inclusive, do qual (esse sim) estou de posse do nome, simplesmente arrancou a certidão de nascimento de minhas mãos para anotar meu nome e minha data de nascimento (como forma de coação e ameaça). Que interessante! A certidão que até então não servia para nada de repente passou a ser “legível”!

Meus amigos, QUE PAÍS É ESTE? Onde um cidadão é ameaçado, constrangido por aqueles a quem deveriam SERVIR O CIDADÃO? Que país é este onde o BOM SENSO não impera, onde a “burrocracia” é mais forte que a lógica, onde as pessoas de bem são obrigadas a conviver com ABUSO DE PODER, IMPUNIDADE E COAÇÃO?

QUE PAÍS É ESTE?... Em que sou privado do simples direito de EXISTIR legalmente. Em que o verde da esperança se transforma, a passos largos, em verde de enjoo, em verde de fastio... no verde escuro da minha certidão, que hoje não serve para nada... porque uma pessoa sem bom senso assim o acha?

Fortaleza, 12 de Abril de 2012

Mathias Moreno
Enviado por Mathias Moreno em 15/04/2012
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