A COPA E A CASA DE NOCA

Por Carlos Sena

 
Eu juro que gosto de futebol. Detesto o “futilbol”. Eu juro que torço pelo Náutico – Clube Náutico Capibaribe, vice-campeão brasileiro e seis vezes consecutivas campeão pernambucano. Isto lhe rende o título até hoje imbatível de Hexa Campeão... Juro: torço por esse time por escolha própria, jamais por ser branco e ter os olhos verdes como se dizia serem, no passado, os seus torcedores. Talvez porque o tenha nas veias posto que o sangue de todos contém glóbulos brancos e vermelhos e essas são as cores do meu Náutico Capibaribe. Juro que meu signo é de Aquário, mas sem nenhuma ilação com meu Náutico em sua simbologia das águas. Como se vê, o meu juramento não é de quem não entende de futebol. Mas o meu entendimento é enquanto esporte, jamais enquanto idolatria como se fazem por ai sem parcimônia. Talvez por isto eu não entenda muito bem o frisson que a copa de 2014 está causando, principalmente, como a cumplicidade da mídia. Mas em função disto eu continuo sem entender muita coisa: a idolatria por times como o Flamengo, o Sport Recife, o Corinthians, o Santa Cruz, etc. Nesse conjunto de fanatismo e idolatria, torcidas organizadas matam, roubam, depredam, fazem de tudo pelo seu time. No meu íntimo de falador, fico pensando: será que um torcedor fanático dariá o “fiofó” se isto implicasse em ganhar campeonato? Aposto que dariam sim, e sem KY, com areia e tudo mais.

Continuo com frisson. Ante o exposto esse frenesi aumenta por conta do que se divulga que será a copa do mundo em nosso país. Distante de mim, querer que o país não cresça, mas entregar seu crescimento a uma copa quase que totalmente bancada pelos poderes públicos, é pra se lascar. Poderão dizer que não é bem assim. Acredito, mas será bem assada essa copa pelos fornos dos poderes constituídos. Nesse bojo me pergunto: não houvesse copa não se melhorariam jamais as nossas rodovias, os nossos aeroportos, as nossas infraestruturas urbanas? Acredito que não, pois leis importantes da segurança pública, bem como PECS importantes, inclusive para melhoria da saúde e do SUS estão lá, mofando. Os lobbies não deixam, mas pra copa deixam. Outra grande contradição é que quando se quer, por exemplo, construir um hospital, geralmente não se tem dinheiro, nem se busca essa verba. Pra copa tem dinheiro, pra copa tem interesse, pra copa tem de tudo, pra copa... Na copa da corrupção somos campeões; na copa da violência, somos campeões; na copa da dengue, somos campeões; na copa da injustiça somos campeões; na copa do descaso com a natureza somos campeões; na copa contra o desmatamento, somos campeões, etc. Se já somos tantas vezes campeões, inclusive cinco vezes campeões do mundo do futebol propriamente dito, pra que mais?

Assim, 2014 vem aí. O país vai parar por completo por conta da copa. Quando ela se for, queira Deus que os elefantes brancos da construção civil sirvam para alguma coisa como dizem. Na verdade neste país em que os que fazem nunca dizem e os que dizem permanecem dizendo, CONFIAR em quem? Prefiro a COPA das árvores do parque de Dois Irmãos em Casa Forte. Prefiro a COPA da minha casa porque junto dela tem a cozinha que me refestela de iguarias. Prefiro a COPA que se fecha em si na expressão “FECHADO EM COPAS”; prefiro a semente de copaíba e necas de pitibiribas. Até o ÁS de copas prefiro – melhor que o dois de paus – erótico, exótico, apoteótico... Pra que servirá a apoteose da copa? Venham pra casa de Noca que lá é bom e tem tudo que se quer... Venham pra casa de Noca, pra seus governos só tem uma mulher. Noca é meu país que a copa de 2014 sedia.

Portanto, torço pelo Náutico, juro! Desconjuro esse frisson, esse ôba ôba que se faz em função da copa, enquanto o povo continua sem segurança, sem saúde, sem educação; enquanto a roubalheira dos “pralamentares” está todo dia na mídia nos deixando perplexos, beirando a falta de esperança que isto um dia vire um país sério, além da Casa de Noca.