Envelhecendo sem envelhecer

Há pouco tempo atrás assisti a um programa de televisão que aconselhava aos mais jovens a cultivar a leitura desde cedo, pois na maturidade, época em que se tem mais estabilidade profissional, financeira, dentre outras, isto viria a ser um grande apoio, para se evitar o ócio.

Interessante tal conselho, mas eu iria mais além, não somente a leitura, mas outros hábitos tendem a enriquecer as pessoas espiritualmente, o que é justamente o que se busca nesta vida.

Assim, música, gastronomia, artes em geral denotam que o ser humano está em uma fase mais espiritualizada da sua vida e que já deixou de lado aquela idéia de que somente os “prazeres mundanos” podem nos satisfazer.

Pois bem, há pouco tempo eu estava na minha cidade, lendo uma revista que falava sobre os “dançarinos personais”, ou seja, pessoas que são remuneradas para dançar com outras em casas voltadas a este fim.

Nada contra a atividade, muito pelo contrário, o fato de uma companhia ser remunerada financeiramente não quer dizer que ela não seja verdadeira, muitas vezes o dinheiro em si trás também um simbolismo de gratidão, reconhecimento, afeto.

Mas o que me intrigou era que o público que buscava este serviço era em sua maioria mulheres de mais idade, ( na flor da idade espiritualmente falando), o que me fez constatar que nós os homens estamos esquecendo de envelhecer.

Isto mesmo, porque estas mulheres não conseguem companhias com homens da sua idade que queiram algo mais espirituoso como dançar, ouvir uma boa música, dentre outros hábitos que denotam mais maturidade mental e espiritual?

O fato é que os homens estão envelhecendo e trazendo consigo os hábitos da adolescência, estamos envelhecendo, mas com uma terrível dor de ter que abandonar aquilo que nos satisfazia quando éramos jovens, e ai o resultado não pode ser outro senão a frustração.

Homens estão envelhecendo desejando ter mulheres novas, aparentar jovialidade, freqüentar bares e locais da moda, ao invés de aproveitarem o que a maturidade tem de melhor que é capacidade de ver as coisas com outros olhos, a capacidade de saber ver as coisas que ocorrem a sua volta com outros pontos de vista.

Não há mais a busca pela espiritualização dos fatos, e a abstração pelo que o mundo nos impõe como o que é belo. Estamos simplesmente envelhecendo por fora, e permanecendo jovens por dentro, no sentido ruim da juventude, que é buscar a realização fora de nós mesmos; buscar de meios externos e não em uma interiorização individual das questões existenciais, tal, tarefa que por si só é um aprendizado difícil e trabalhoso, mas que está sendo encarado por cada vez menos pelas pessoas.

Encarar a si mesmo é difícil e o simples fato de ser deste mundo não nos supre a necessidade espiritual, quantos não são os atores e atrizes famosos que vivem em depressão, sem dizer os ricos e abastados que não se contentam nunca com o que tem, e sempre querem mais e mais, pensam que naquilo que vêem como o que é o motivo de sua felicidade esteja a própria felicidade, põem em tudo a felicidade, exceto na espiritualidade e no crescimento interior.

Crescimento interior é alargar horizontes e conceitos e toda forma de preconceito, aceitando em plenitude as diferenças do outro. Mas como isso não é difícil?

Quem deveria mostrar aos jovens que a beleza e virtude não é isto que o mundo nos impõe como tal, que o que importa não são as aparências; que é preciso amadurecer e aprender a fazer a vida melhor a cada dia através de atos virtuosos e do enriquecimento espiritual, está simplesmente disputando espaço com os jovens na fila em busca dos “prazeres mundanos”., estes por sua vez que já andavam sem referencial, ficam mais perdidos ainda.

A ditadura do comportamento tem feito da nossa comunidade meros seguidores, sem nenhum espírito crítico e sem a mínima capacidade de contestar; e ninguém tem interesse em sair do que é o comum, pois isto é cada vez mais trabalhoso, gera rejeição, críticas, piadas.

Por outro lado, quem o poderia fazer, devido a experiência de vida, prefere se omitir e seguir junto com “ a boiada” em direção á superficialidade e a vulgaridade que nos parece muito atraente quando somos adolescentes, mas que irremediavelmente perderá seu brilho na medida em vamos adquirindo mais idade e mais experiência de vida.

Virtudes como fidelidade, respeito, discrição, tem sido apenas detalhes, pois o “trabalho” a força que nos é exigida para agir com elas não têm valido a pena, tem sido mais fácil seguir com o mundo pelo caminho da idéia tão proclamada nos botecos da vida: “ ...muié passou de trinta já num serve, eu gosto é de trem bão, sô...”

O que ocorre é que tal fato tem sido cada vez mais comum pois a zona de conforto está na ausência de contestação e de abertura de caminhos próprios, que se choquem com o que se tem pregado no corpo social, e isto tem sido cada vez mais raro.

Isaias João
Enviado por Isaias João em 20/03/2012
Código do texto: T3565238
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