É TERNA A IDADE

Por Carlos Sena



O principio da vida é a morte. Até ela não chegar a gente vive na plenitude, obedecendo sempre a princípios naturais dela sob os mais diversos aspectos. Viver é um ato complexo que cada pessoa o desenvolve da sua maneira, sob o manto dos ditames da sociedade e seus rigores e suas permissões.

Há quem diga que viver é fácil, mas não é. Se fosse fácil a morte seria difícil e não é. Pra morrer só precisamos estar vivos e, desta forma, pra viver mais nada é preciso além do fato de estar vivo. Podemos, no muito, dizer que a vida é cheia de mistérios. O princípio dessa compreensão se estabelece na grande contradição que é ter certeza da morte e não perder a vontade de viver. Dentro de cada pessoa em condições normais, mora um mundo de sonhos. Para realizá-los precisa-se de “futuro”. Este nem sempre espera por nós, posto que é relativo e não se permite aos nossos desejos, mas aos desígnios misteriosos da vida que convém à morte. A esta nada convém, posto que silenciosamente é definidora de tudo, independente do que cada um planejou para sua vida. Não convém à morte que sejamos velhos ou jovens, pobres ou ricos, homem ou mulher, peões ou famosidades.

A construção dos nossos sonhos parece passar pela proximidade dos pesadelos que se tem em vida. Isto talvez contribua para que entendamos que não somos eternos como gostaríamos, nem tão passageiros como supõe nossa vá filosofia. A construção do dia e da noite pode servir como metáfora da vida e da morte. Viver é esse ato contínuo que descortinamos entre nossas “noites” e nossos “dias”, pela possibilidade oscilante de sempre sermos felizes e, nesse sentimento, nos tornarmos etenos, mesmo que por instantes, como nos instantes do amor.

Discorrer sobre a morte deveria ser, entre nós, mais normal do que de fato não é. A sociedade não se interessa em passar pra nós valores sobre a vida em sua transitoriedade. As próprias igrejas se recusam a isto na forma mais libertadora. Elas elaboram com seus fiéis acerca da vida enquanto passagem, mas não raro, submetem os fiéis a processos de medo e subordinação, talvez por conta da “caixinha” que tem que ter dinheiro no final do mês. Esse medo que as igrejas se utilizam dele é conduzido por imagens fictícias do DEMO, do SATANÁS do INFERNO, do CÉU, LUCIFER, CADEIRUDO, ALMA PENADA, CEMITÉRIO, ENCOMENDAÇÃO DE CORPO, MISSA DE SÉTIMO DIA, ETC. Fato é que a morte e a vida não deveriam nos aprisionarem em medos. Medo de cemitério, medo de sexta-feira 13, medo de caixão, medo de alma, medo... Só não se tem medo dos políticos que matam a população. O diferencial é a forma. Eles, os políticos, matam a prestação, enquanto a morte mata no grosso, de uma vez só e priu! Nessa psicologia do medo a instalação do medo se configura no patrulhamento aos gays e a todos os que, de alguma maneira, não “rezarem” nas suas bíblias salgadas. Porque é um preço muito salgado que a gente paga quando cai na desgraça dessa corriola de pastores pentecostais e de padrecos católicos que fazem melhor sexo com garotos do que celebram missas como deveriam...

Sendo a vida tão passageira e a morte certa, por que é que o egoísmo toma conta das gerações? A modernidade que está aí deslumbrando a todos com suas benesses de consumo não tem dado respostas, por exemplo, para as causas existenciais... Nesse contexto os humanos continuam se achando meio deuses, meio ídolos de pano... O pano que encobre a vida morrida em vida nas grandes cidades. O pano que não cobre a falta de vergonha dos nossos políticos que colaboram na abreviação da morte na medida em que não cuidam da saúde e de outras cositas mais às quais a população vive submissa. Nesse contexto de suposta modernidade, nossos jovens da chamada geração “Y” estão aí se achando o cão do terceiro livro, a bala que matou Getulio, as polegadas de Marta Rocha, as pregas de Odete... Pior: só descobrem que nada são quando os pais morrem e que eles, os filhos, têm que ir a luta sem papai nem mamãe por perto. Hoje poucos são os pais que tem consciência de que já pariram os filhos e não devem parir seus destinos.

A geração “Y”, no geral, nos dá a impressão que não morre. A vida pra eles é passada com tanto surrealismo que seus valores mesmo não valendo nada, os nutrem de perspectivas futuras de vida eterna e inúmeras contribuições éticas e morais para a humanidade. Pode haver exagero, até porque há jovens de excelência convivência, mas que infelizmente se resumem a pequenos grupos. Mesmo não concordando IN TOTUM, acho que a culpa não é da geração deles, mas a de antes, ou seja, dos seus pais que vivem querendo lhes parir os destinos como já o dissemos. O que há de alvissareiro, nesses casos, é que os meninos que conseguem fazer tanta coisa ao mesmo tempo não conseguem completar quase nenhuma delas. Quando descobrem isto, a maioria deles vai buscar recuperar o tempo perdido e muitos conseguem. Quem não consegue vai vier a vida de “bico em bico ou de bar em bar ou de cheiro em cheiro”... Quando a vida se lhes apresenta pra nós eles pouco tem a nos presentear de concreto, mas é assim que a vida põe e poucos dispõem...
Independente, repensar a vida e o viver, a morte e o morrer são fundamentais. Ora, se a vida estiver posta, certamente a morte será imposta. Quem de moço não morre de velho não escapara. Afinal vai fazer três mil anos depois que Cristo veio pregar o amor que morre gente e nasce gente. Mesmo assim, nossa geração metida a sabida não convive bem com a ideia da morte. Bate-se logo na madeira, isolando essa possibilidade.