EU- OUTRO - OUTRO - EU
EU- OUTRO - OUTRO - EU
Terêncio, poeta romano, escreveu: “homo sum: humani nihil a me alienum puto”, traduzindo:” sou homem e não posso me mostrar indiferente à coisa alguma que seja humana.”
Compartilho plenamente desse pensamento. Não posso ignorar o outro, não posso fingir que ele não existe, que as coisas que o afetam não me afetam.
Entristeço-me com a miséria, com as guerras, as injustiças que acontecem diariamente em nosso mundo, mas a maioria das pessoas também se compadece.
Mas e quando o assunto é algo pessoal?
Às vezes todo problema se resume a falta de informação, ou ao excesso de timidez, ou pela falta de tolerância ou de reflexão.
Quantas vezes nos justificamos com as frases “isso não é problema meu”, ou “não é da minha conta”?
Isentamos-nos de emitir uma opinião ou de darmos uma explicação porque temos medo de sermos interpretados como enxeridos ou talvez a “senhora sabe tudo” Essa última eu já ouvi várias vezes...
Sei que não sei tudo, mas já vivi muitas coisas boas e ruins e posso sim partilhar minhas experiências. O outro pode aceitar ou não meus conselhos. Isso cabe a ele escolher.
Não, não sou perfeita, nem tampouco exemplo de alteridade ou de abnegação. Sou na maioria das vezes insegura quanto à proporção de doação de mim ao outro, mas mesmo assim arrisco-me: dou conselhos. Mesmo que digam que se fossem bons seriam cobrados. Eu realmente os dou.
Não sou também exemplo de sabedoria. Meus conselhos são limitados pelo conhecimento que tenho sobre o assunto, e caso não o possua, aconselho a busca pela solução. Certamente ela existe e às vezes ofereço-me a ajudar na busca.
Acredito que não existe problema sem solução. Justamente por isso é um problema, pois é preciso encontrar um modo de se chegar a uma resposta. É um desafio para o crescimento e amadurecimento, mesmo que a resposta não nos agrade. Sei de problemas cujas respostas era o exercício da espera. Doutros, o exercício do silêncio. Aí entra a tal da sinceridade, no sentido de buscar a resposta sem mascará-la, “sem cera”.
Assim, sendo sincera comigo, não posso negar que quando faço algo em benefício de alguém, me faz um bem danado. Faz-me sentir capaz de entender e de dominar situações que para o outro eram problemas. Vaidade? Talvez. Como disse, estou longe da perfeição, mas não posso negar que melhora minha auto-estima e que me faz valorizar minha vida, pois é graças a cada um dos momentos vividos, bons ou ruins, que posso tirar exemplos para ajudar o outro.
Não consigo isentar-me do outro, pois também sou outro para alguém e muitas vezes recebi ajuda de gente que nem sabe que me ajudou, mas que não ignorou a sua capacidade de ajudar.
Às vezes a solução é tão fácil. Basta um gesto, uma gentileza, uma escuta, uma palavra, um sorriso...
Coisas simples.
Regina Roppa Evilásio.