O CONSUMO E A ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO.

Por Carlos Sena


 
Se alguém quiser saber o poder do capitalismo, não precisa ir muito distante. Antes disto, talvez precise da consciência consumista que o capitalismo tão bem desenvolve principalmente nos países latino-americanos. Nestes, pela exploração da juventude nem sempre crítica e geralmente mal informada politicamente. O capitalismo selvagem deita e rola nos países em que a educação funciona mais ou menos como no nosso país, com o agravante da classe política fraca e corruptível. É esse o cenário, grosso modo, em que o consumismo exagerado nos pega inescrupulosamente.  Por isto, se quisermos tirar a prova dos nove acerca disto, basta (se você não fez) fazer uma mudança de casa ou de apartamento.

No nosso cotidiano a gente pensa que não guarda muita coisa, porque a gente sempre acha um jeito de comprar coisas e guardar. Usa e guarda, usa e guarda. Guarda e esquece. Detalhe: os “apelos” ao consumo são tão intensos que logo a gente “gasta o dinheiro que não tem, para comprar coisas que não precisa e mostrar às pessoas que nem conhece” (não sei quem é o autor...). A prova da mudança de casa ou de apartamento sugerida é fantástica. Diante dela a gente vai ver o tanto de quinquilharia que a gente guarda sem precisar. Pior: não temos coragem de dar a quem precisa!  Com isto, a compulsão de comprar já virou uma patologia que os Psicólogos, via terapia, estão ganhando um bom dinheiro. Há pessoas que “babam” pra comprar. Conheço amigos que compram DVD em duplicata, sem sequer terem visto o primeiro. Assim os exemplos são diversos e, de certa forma, demonstra como o capitalismo “trabalhou” bem instituindo o vício do consumismo.

Há quem possa dizer que temos que viver nosso tempo. Também acho isto. Porém, a sociedade de consumo não pode execrar valores éticos e morais que sustentam as pessoas por dentro. Observem que o capitalismo no seu bojo trouxe a “frouxidão” da pedagogia dita “moderna” e o psicologismo QUE defende que tudo frustra a criança, tudo traumatiza. Uma palmada, um grito do pai, um nem sei mais o quê, tudo frustra. Resultado: há crianças por aí comandando gangs, pais às tontas sem saber o que fazer diante de tanta corrente de criação de filho conta e a à favor essa pedagogia que está aí posta e indisposta... Como se vê, o capitalismo é meio que uma dessas correntes pentecostais do mercado da fé: tudo é planejado em nome do lucro, maquiavelicamente planejado. Nós que nos fodamos (criei agora essa expressão) para conviver com essa sede de exploração dos mais fracos pelos mais fortes do capitalismo internacional...
Independente de ideologia, o capitalismo tai. O consumismo tai. Compete-nos uma “faxina” interior para que a gente se discipline e comece, por exemplo, a reciclar os moveis da casa; a reformar roupas novas; consertar sapatos bons; consertar móveis (a natureza agradece), etc. Na hora de uma mudança de residência a gente vê o monte de sapatos que a gente tem para ser usado por apenas dois pés. O monte de caças e camisas que a gente tem para ser usado por apenas um corpo. Vale a pena exercitar o controle diante dos apelos da mídia nos chamando às compras. Não estamos fazendo uma ode ao falso moralismo, porque consumir tem seu lado bom e prático, mas temos que ter cuidado pra não consumir o que não precisamos por puro modismo, ou porque a propaganda despertou em nós certa angústia. Neste sentido, uma dica: quando comprar uma calça nova, dê uma velha a alguém que precise e assim por diante. Dê os livros que não são da sua predileção para uma biblioteca itinerante do bairro pobre da sua cidade... Dê-se mais ouvindo quem precise ser ouvido. Compreendendo quem precisa ser compreendido, meio que a oração de São Francisco, pois é dando que se recebe e é perdoando que se é perdoado...