O HOMEM FEIO
Todas as vezes em que eu passava em frente áquela casa, me assustava.
A figura do homem que estava sempre recostado ao portão era assustadora.
*Luis Paulo era feio! Não era uma feiura comum mas sim horripilante.
Não eram simples traços de um nariz avantajado ou um dente torto, talvez o cabelo em desalinhos que o tornavam feio. Sim, porque tudo isso se resolveria com um bom trato ou talvez uma cirurgia no orgão exuberante e tudo estaria solucionado, afinal, pessoas com esta espécie de descuido encontramos todos os dias. E não considero feiura o que pode ser considerado desleixo ou relaxamento do indivíduo.
Mas para Luis Paulo não havia solução. Fizesse ele as mais delicadas cirurgias, quantas fossem. Mesmo que existissem dois Pitanguis, nem assim. A sua causa era perdida. Luis Paulo tinha espessas sobrancelhas, dentes que saltavam para fora da boca, olhos enormes e um rosto cadavérico. Seus cabelos tinham enormes topetes. E o pior é que ele era todo peludo. Os pelos teimavam em sair por entre as aberturas da velha camisa amarelada que estava sempre vestido.
Ele mais parecia um lobisomem. Quando eu passava, o seu olhar me seguia lentamente, no mesmo passo em que sua cabeça com movimentos lentos ia em minha direção como se fosse em câmera lenta. Que espécie de homem seria aquele? Soube que não somente eu, mas muitas pessoas, principalmente crianças, mudavam o destino do seu caminho á não passar em frente aquela casa onde vivia o estranho homem.
Certa vez, a curiosidade foi mais forte em mim do que o medo. Criei coragem e decidí aproximar-me dele. Perguntei-lhe o nome e ele me respondeu como se soltasse um eco de sua voz ao mesmo tempo tão baixa e tenebrosa: Luis Paulo.
Descobrí que ele era um homem culto, muito culto. O cara entendia tudo de História, Geografia, Matemática e o assunto que mais dominava era as Múmias do Egito[ Nada Pessoal]! Logo fizemos amizade e descobrí nele alguém solitário e triste. Não tinha amigos. Os pais que eram muito velhos logo morreram. Passamos a ir juntos ás Bibliotecas e tive "aulas" com ele, que me tirava muitas dúvidas de determinados assuntos. Aquele homem era na verdade uma enciclopédia ambulante.
Luis Paulo disse-me que a casa em que morava era da irmã dele que o ameaçava mandá-lo ir embora logo que seus pais morressem. Pois ela o considerava um inútil, afinal Luis Paulo nunca havia trabalhado em nada, vivia ás custas dos pais. Havia dedicado toda a sua vida aos livros, somente a eles. Porém, ele tinha um problema grave - Não acreditava em Deus- Talvez tenha sido este, um dos grandes motivos de sua vida medíocre.
Depois que seus pais faleceram não o ví mais. Não sei mais nada do estranho Luis Paulo. Na velha casa agora moram pessoas diferentes, talvez sejam seus parentes. Não Sei! Ainda tenho muita curiosidade em saber por onde anda aquela estranha figura de vasta riqueza intelectual e tanta pobreza de espírito.
* O Nome do cidadão foi trocado para evitar conflitos com o próprio. Talvez ele tenha acesso ao RECANTO e como sabe que tenho uma página aqui, possa ler e ficar chateado comigo onde quer que se encontre agora.