Pobres mulheres ricas

Pobres mulheres ricas!

UM SINCERO PEDIDO DE PERDÃO A TODAS AS MULHERES VERDADEIRAMENTE RICAS DO SISTEMA SOLAR!

Eu, Linda Lacerda, Brasileira, solteira, anônima em todos os sentidos, sem escola normal, sem ginasial, sem canudo, sem parente nem aderente, nem nada, mas nascida sob o signo do bom gosto, regida pela luz do bom senso, portadora do gene do discernimento, auto- didata, leitora contumaz de bons livros, telespectadora de ótimos documentários e consumidora assídua de toda boa poesia, prosa e verso, venho por meio desta, em meu nome e em nome de todas as pessoas cultas deste mundo de meu Deus do céu, mais precisamente deste país chamado Brasil - tão vasto em extensão territorial e belezas naturais, mas tão parco em cultura- fazer, reiterar e sacramentar meu pedido de perdão a todas as mulheres verdadeiramente ricas estejam elas vivas ou in memoriam, pela maculação da tv aberta ao termo" Mulheres ricas", que são delas por direito, mas que foi usurpado por pseudos "mulheres ricas" que se descabelam, se atracam nas redes sociais, vendem a alma ao diabo e se desfazem da única riqueza que têm, a saber, o dinheiro, para pagarem um pouco de visibilidade na mídia, para mostrarem toda a sua riqueza, que consiste unicamente em carros, joias e vestidos caros. Quero pedir perdão de joelhos às mulheres ricas deste país e estendo este pedido a todas as mulheres ricas do mundo, pois com advento da internet, muita m#$@% foi lançada no ventilador do planeta. Resolvi pedir perdão a elas, depois que, "en passant" pela calçada de um bar, pude ver e ouvir por dois minutos o tal “mulheres ricas” (e isso foi o suficiente para tirar minhas conclusões) sobre o assunto que se segue. Mudou-se o conceito sobre mulheres ricas. A Tv aberta no Brasil importou e lançou mais um pouco de ração barata, aos seus incautos e famintos telespectadores continuando a ceva e a alienação daqueles que a assistem por falta de opção, ou mesmo por falta de cultura. Acredito que mais pelo segundo motivo, pois existe aí uma gama de bibliotecas públicas e farta distribuição gratuita de livros que poderiam levar as pessoas a um patamar intelectual mais elevado. O problema é que a comodidade e a preguiça as impedem de fazê-lo, levando-as a deglutir, saborear e digerir esses farelos e bolotas que lhes são lançados, sem questionar o teor e o gosto e muitas vezes até gostando e discutindo a conteúdo bestial de tais programas e aclamando o nome de quem o idealizou... Haja falta de gosto! Uma rede de televisão acaba de acrescentar à sua grade um-não sei se diria programa-... Digamos um preenchimento de horário chamado (infrinjo aqui a regra gramatical, mas não escrevo com iniciais maiúsculas) “mulheres ricas"... Um deslumbramento consumista, um exibicionismo exacerbado e futilidades mil, como usar joias em cadelinha de estimação, ou fazer pic-nic regado a champanhe, onde até a ex- sem terra e sem teto, agora sem nexo, Débora Rodrigues, esquece-se que brotou do pântano e que as suas raízes são podres, fazendo teste drive em motocicletas de noventa mil reais... E não é por acaso que a mais “importante” participante do tal reality surreal se chama NARCISA... Melhor seria que usasse o seu rico dinheiro para despoluir as águas do rio Tietê e como narcisa que é, se jogar e de lá nunca mais submergir. Um show aberrante e caricato, nada mais... Meu Deus, o que tencionaram dizer com "mulheres ricas"? Ricas de que? Ricas de futilidade, de joias, de carros importados, ricas de vestidos, de sapatos e acessórios, ricas de insanidade mental, de egoísmo, ricas de ostentação, de falta de compaixão, ricas de necessidade premente de se exporem e mostrarem aos pobres telespectadores que se dão ao trabalho de assistirem o tal programa, de que têm, de que possuem, mas que nada são? Na minha humilde opinião, o tal preenchimento de horário, deveria se chamar, na verdade, "mulheres pobres”. Pobres de espírito, pobres de neurônios, pobres de sabedoria, pobres de alma, pobres de cultura, pobres de berço -(esse não se compra)! Deus manda lá do céu junto com a gente. (Aqui na terra, ele perde as asas e ganha balanço.) - pobres de humildade, pobres de alma... Se se atrevem a escrever sob a supervisão de mil colaboradores, o máximo que sai , são livros de etiquetas ou "Onde se encontram os melhores shoppings centers do mundo" e "Saiba tudo sobre Botox”. Primeiramente quero pedir perdão à nossa Eva, que ficou famosa pela posteridade usando uma única folha de parreira, depois, perdão a Cleópatra, que ostentou, mas com classe e sabedoria e até hoje continua no Google como a detentora-mor do esmalte vermelho, perdão a Helena, que agradou a Gregos e Troianos pela beleza e sensualidade, perdão a Maria Bonita, que domou a fera com graça e meiguice usando apenas vestidos de chita, perdão a Cora Coralina, perdão a Cecilia Meirelles, perdão a Clarice Lispector, perdão a Indira Gandhi, a Zilda Arns, e perdão a Dona Beija que teve milhares de homens aos seus pés, sem ter feito sequer uma lipoaspiração, perdão a Hilda Furacão, que com a sua formosura nata destruiu crenças e ideologias... Mulheres cujos sapatos as tais "mulheres ricas" não são dignas de abotoar. Essas, sim. Mulheres ricas que estão na história e que não tiveram a necessidade de pagar por visibilidade, por serem vistas, amadas, admiradas, lidas e veneradas pelo seu próprio mérito e não pelos seus pertences; Que nos deixaram de herança um legado que a ferrugem não corrói como vai corroer os carros importados das ditas "mulheres ricas", que o mofo não vai escurecer nem manchar, como vai fazer com sapatos e bolsas dessas pobres mulheres ricas. Meu Deus, a que ponto vai chegar à degradação da cultura pela mídia despudorada e pela necessidade que têm, de aparecer... Sinto pena das pessoas que gastam energia elétrica, tempo, assento de sofá, visão e audição... Talvez, quem sabe, para elas seja melhor ver e ouvir isso aí, que serem surdas ou cegas...Mesmo assim tenho minhas dúvidas...Pronto! Falei!

P.S: Antes que me esqueça, peço perdão também a todas as riquíssimas mulheres da minha família e a mim, que nesses termos, nunca fui pobre, modéstia à parte, graças a Deus!