Caso Eloá e o boi de piranha
Começou esta semana o julgamento de Lindemberg Alves Fernandes, jovem que no ano de 2008 matou a namorada Eloá Pimentel na cidade de Santo André (Grande SP), depois de mantê-la cinco dias encarcerada em seu apartamento. O fato teve grande repercussão na mídia e por meio da TV, jornais, revistas, rádio, etc. acompanha-mos as negociações feitas com o rapaz para libertá-la, o desespero da moça com a situação em que estava, até o trágico desfecho que foi a morte da mesma. Agora que o julgamento de Lindemberg começou, o caso Eloá voltou a ser noticia constante nos meios de comunicação.
Em minha opinião esta exposição excessiva de um caso em particular como o de Eloá, antes de ser algo que sirva de alerta contra algo reprovável que é a coisificação da mulher em uma sociedade machista, que leva o homem a achar que ela é propriedade sua e por conta disso pode puni-la fisicamente e mesmo matá-la, se torna um meio de mascarar esta realidade. Se a mídia em vez de somente mostrar Lindemberg como um rapaz de índole violenta que matou a namorada, mostrasse também que como ele há muitos e até mais cruéis, e que durante aqueles cinco dias em que Eloá esteve presa, quase 15.000 outras mulheres foram agredidas por seus companheiros e pessoas próximas, pois no Brasil a cada 15 segundos uma mulher é agredida, o que dá umas 2.900 por dia aproximadamente, e que também ao menos 50 mulheres foram mortas por seus companheiros, pois em média 10 mulheres morrem por dia no Brasil em razão de violência doméstica, sendo uma a cada duas horas, estaríamos colocando o dedo na ferida, e começaríamos um debate com toda a sociedade sobre o que leva os homens a agirem assim, buscando saídas para que outros casos de agressão a mulher deixassem de acontecer, porque estes números que já existiam em 2008, infelizmente continuam atuais hoje, 2012.
Como não há um debate aprofundado sobre o machismo no Brasil, sendo ele discutido praticamente só por grupos de mulheres e militantes sociais, no frigir dos avos Lindemberg Alves acaba sendo um “boi de piranha”, pois enquanto se enxovalha o rapaz – a meu ver merecidamente – deixa-se de se discutir uma questão maior, que é a falta de respeito com as mulheres e suas necessidades. No fim das contas, o povo se dará por satisfeito em ver condenado aquele rapaz que matou a namorada.
Conseguimos um grande avanço na proteção da mulher com a Lei Maria da Penha, principalmente agora que outras pessoas podem denunciar um caso de agressão além da vítima, mas isso não basta. O machismo e suas diversas expressões é algo cultural, que pode deixar de existir quando for jogada luz sobre o assunto. Precisamos ver punido Lindemberg Alves sim, mas só isto não basta.