Brasil/Espanha/Brasil/Espanha
Para não remexer na ferida, prefiro não republicar textos em prosa e verso que escrevi quando da minha denegação na Espanha. Minha e de meu neto. Agora, a Espanha volta aos noticiários, porque ela e o seu Governo continuam fazendo o mesmo de há algum bom tempo, humilhando não apenas os brasileiros, mas pessoas de vários países.
Desde crianças a senhores e senhoras, loiros ou negros, de aspecto considerado agradável socialmente ou não, foram tantos os que vi serem enxotados daquele país, representado pelas autoridades fardadas, em Bajaras, sob pretextos os mais absurdos.
São inúmeros os casos, mas a dor só doi quando em nós. Lamento por cada cidadão do planeta por aquelas cenas deprimentes, dignas do antigo circo romano. Não consigo compreender que se tenha a petulância de cinicamente mandar voltar para casa, no primeiro voo, pessoas que saem de seus lares, atravessam o Atlântico e chegam ao aeroporto com o coração cheio de sonhos, como eu, cujo maior desejo era abraçar minhas filhas e meu neto nascido em Madrid.
Não quero ser vingativa, mas quero firmemente acreditar que a injustiça que me fizeram de até hoje sentir meus braços sedentos de abraços, meus olhos sedentos de meu neto tenha agora um retorno para a administração daquele país.
Sei que espanhois inocentes serão atingidos pela aplicação rigorosa da lei (dura lex, sed lex), mas, por outro lado, há de se considerar não ser possível que o Brasil se mantenha inerte, anestesiado, quando os seus filhos são tripudiados e o próprio país chamado de “mierda”. Somos tão civilizados e naturalmente bons, ó terra de Cervantes, que jamais dissemos ou diremos o mesmo com a sua pátria. Vê que elegantes nós somos?
Faço até questão de dizer o quanto amo a terra espanhola e que não tomarei a medida de todo o seu povo pelas atitudes impensadas de um grupo que envergonha a nação de tanta história.
Recebi, no segundo semestre de 2011, a visita de dois genros espanhois que mal conseguiam olhar nos meus olhos, envergonhados que se sentiam pelo que aconteceu. No meu caso, nem poderia criar sentimentos negativos, mesmo porque minha carne e meu sangue lá estão representados por minhas filhas e meus netos.
Pouco tempo depois do meu retorno ao Brasil, pós infausto evento em Bajaras, acompanhei nos noticiários o fato de haver um homem bomba promovido um atentado no interior de um aeroporto da Rússia. Então, naquela oportunidade, fiquei refletindo com a minha blusa sobre como pode acontecer de competentes policiais europeus não reconhecerem um terrorista; ou como devolvem ao país de origem, com a cara mais lavada deste mundo, uma professora. Uma mulher e um pré-adolescente escoltados até a porta de entrada da aeronave. Difícil de entender!