MERDA AOS HOMENS DE BOA VONTADE

Por Carlos Sena

 
As empresas de telefonia móvel brasileiras são, em sua grande maioria, uma MERDA. Como MERDA são alguns outros serviços públicos; como MERDA é a prática capitalista na América Latina, especialmente no Brasil. Diferente de muitos outros países, aqui o capitalismo se expressa pela falta de qualidade nos serviços prestados e ainda por cima deixam nas entrelinhas: “Achou ruim? Vá reclamar ao bispo!”. Os bancos deitam e rolam, os supermercados deitam e rolam, os planos de saúde deitam e rolam, as escolas e universidades deitam e rolam, dentre outras. Dito diferente: nós rolamos mais do que deitamos diante disto, pois os serviços só visam ao lucro fácil e o consumidor que se exploda. Um consumidor esclarecido sofre, pois não consegue a contento exercitar sua cidadania, pois os órgãos de defesa do consumidor são limitadíssimos em suas ações e contam, no geral, com o "conluio" de outros poderes para o não cumprimento das leis. A lei! Eis um tema instigante neste país. Lá na minha terra (Bom Conselho-PE) o coronel Zé Abílio (coronel à antiga) era useiro e vezeiro da expressão “as leis brasileiras são como uma cerca: se muito altas o povo passa por baixo; se muito baixas o povo passa por cima”... Sempre o povo como forma: ora de ação ora de reação. Merda pro povo, bem no sentido escatológico mesmo! O problema é que o povo já está cansando de cheiro de caca, de cheiro de bosta, de cheiro de merda. Mas, vai demorar um tempão para que possamos ter uma nação depurada, livre de empresas que praticam o capitalismo selvagem. Esse tempo talvez perrdure um pouco mais porque nossos jovens só querem saber de ficar, de balada, de computador pra ver ídolos de pano. Parte deles não gosta de caminhar sozinha, são super dependentes dos pais que acham que são super pais porque super protegem suas crias. Em surdina, esses filhos fumam maconha, incendeiam índios, dirigem embriagados, fazem sexo sem caminsinha, graduam-se em cursos superiores fajutos e, raramente,  desenvolvem algum raciocínio crítico acerca da vida e do mundo. Certo que há exceções, mas não é delas que estamos falando. Estamos nos reportanto a uma geração de merda que fede mais do que aquela outra (A BOSTA) que nós depositamos na latrina e que, de certa maneira, nos impedem de avançar politicamente contra o capitalismo selvagem que assola e nos massacra. Essa geração que tem muitas exceções, repetimos, é a mesma que incendeia índios, que comete homofobia, que discrimina negro e mulheres. Pior: por serem jovens continuam querendo “levar vantagem em tudo” – a chamada Lei de Gerson tão usada pelas gerações mais velhas, mas muito cultuada ainda nesta geração chamada “Y”...

Talvez seja mesmo por isto que a gente fique meio sem esperanças de ver essas empresas capitalistas no cabresto curto. Faxina? Talvez. Mas teria que ser uma faxina estrutural que talvez os filhos dos filhos da geração “Y” não venham a conhecê-la.
Contudo, enquanto a faxina moral não vem dos poderes constituídos, a gente bem que poderia estar exercitando, via voto, a nossa faxina. O VOTO é, no meu entender, o mais fiel construtor de reformas do mundo moderno. Mas esse voto ainda é veto. Esse veto acontece toda vez que os nossos jovens discriminam, não têm objetivos concretos de vida, não respeitam os mais velhos, furam filas, tomam drogas, trocam amar por ficar, endeusam atores e cantores fabricados pela mídia, etc... Como se não bastasse, ficam o tempo todo na internet "batendo dedo" dizendo-se no "bate-papo"...

Assim, meio assado, nesta terça feira meio sem graça, recupero meu senso de humor para fazer ESTA ode ao cotidiano. Falar de bosta em forma de crônica é sem duvidas falar do cotidiano de muitos brasileiros que levam uma vida de merda: sem saúde, sem educação, sem cidadania. Por isto, neste final de prosa desejo MERDA a todos os homens e mulheres e jovens e adultos deste país que ralam para ser honestos. Que não se drogam exceto pela contaminação da droga dos políticos; que não se dobram à corrupção; que ganham pouco, mas dormem sossegados. Aos que, ganhando salário mínimo, não deixam os filhos fora da escola.
MERDA, francesamente MERDA! É como se, no teatro da vida, todos os brasileiros de boa vontade estivessem entrando em cena e eu de longe (do meu Recife) dizendo MERDA, até que um dia a gente nem precise mais de tanta MERDA, de tanta empresa de bosta que nos surrupiam as esperanças...

PS.: "MERDA" é uma expressão que na França significa SORTE. Lá, quando se quer desejar sucesso a um ator que vai entrar em cena, deseja-se "MERDA". A palavra em si tem o mesmo significado escatológico do Brasil, mas houve um fato envolvendo um ator de teatro que gerou a expressão na forma como citamos.