DA ZONA DE CONVERGÊNCIA DUM PAÍS EM RESCALDO

O meu presente título, infelizmente não tão figurativo, foi inspirado na dura realidade da nossa mais recente tragédia, o desmoronamento dum edifício no Rio de Janeiro.

Quem acompanha meus textos talvez se pergunte se eu não teria assuntos mais contagiantes para movimentar minhas letras, e deveras, eu também tenho me feito a mesma pergunta.

Tenho me questionado se não seria melhor tapar nossos sustos e medos com as peneiras das ilusões tão "comercializadas" entre nós.

Fato é inegável: nossas tragédias sociais estão numa crescente...assustadora, é só observar, e qual uma febre orgânica que denuncia que algo não vai bem no todo, assim somos nós, cujas tragédias sociais mais recentes são nada menos do que um SENSÍVEL termômetro social a nos indicar que a febre é alta, a doença é mais perigosa do que possamos acreditar...e avança rapidamente sem controle algum.

O que mais grita: muito do que sofremos poderia ser evitado, a exemplo das chuvas de verão que todos os anos assolam o país a rescaldar um caos sem tamanho, de altíssimo custo sócio-financeiro.

Não há impostos que supram tanto "descontrole" político (sempre opto por um eufemismo).

As Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, e também o sul do país, todos os verões contam suas explosivas epidemias de Dengue, todavia, sequer conseguem enxugar seus solos inundados a tempo das próximas enchentes...

Lembremos do cenário postal da região serrana do Rio de Janeiro, e o que lá ocorreu (e gerencialmente não ocorreu!) depois de um ano da tragédia das chuvas.

Somos criadouros a céu aberto do vetor da Dengue, aqui em Sampa por exemplo, atualmente se tenta o inusitado: enxugar o JARDIM PANTANAL, encharcado todos os anos, com uma sonda de aspiração de água. Saibam, desde do ano passado a sonda tenta aspirar as águas, mas é que... a chuva não deixa.

Parece brincadeira...é como aspirar o mar com mangueira, e o nosso douto prefeito, que é engenheiro civil, ainda pede calma a prometer pronta solução tecnológica para dois mil e dezoito com a construção do parque da várzea do Tietê.

A construção deverá ocorrer bem depois do apocalipse, com certeza, aquele que já começou por aqui.

Enquanto isso as pessoas navegam de bote pelas suas suadas ruínas, matam os ratos das águas, e usam repelentes.

Parece que já constroem uma ARCA DE NOEL, com as falácias políticas e com rescaldo do que sobrou da natureza aviltada pelos descaso social das grandes cidades.

Mas, dizem os políticos, a culpa é DA CHUVA, dos RATOS, DOS MOSQUITOS, e mais modernamente culpa também é do fenômeno da "zona de convergência do atlântico sul", uma forma mais bonita de de aclimatar e se desculpar do tudo que deveria ter sido feito e não foi.

A culpa pela "zona" realmente é do povo também, não resta dúvidas.

Esse é apenas um pedacinho do espaço geográfico das tragédias visíveis, aquelas que movimentam as notícias da imprensa e os corações altruístas dos políticos das horas difíceis.

Já as tragédias dos bastidores é algo que não se vê às claras, mas se sente literalmente na pele, nas frágeis peles nossas que tudo contam, desse nosso "sofrido povo nosso" de cada dia de trabalho duro...

Se sente também no ENEM, nas letras, na tabuada do nove, nas bolas nas traves, nos ideais de consumo da nossa juventude sempre tão brother e tão perdida, se sente nos latrocínios das calçadas, na drogadição das esquinas, no enriquecimento fictício financiado por suaves prestações a se perder de vista, nas esmolas sociais que nada mudam, nas inadimplências dos carnês que financiam a vida, no desemprego...no desrespeito à dignidade das pessaos.

Tantos bastidores se sente BEM ANTES da queda "em cascata" dos tantos ministeriáveis que sequer esquentaram suas cadeiras por uma causa MAIOR...mas a cada dia esfriam a sociedade e as conscientes esperanças dum país melhor.

É certo: um dia a casa cai, muitas vezes para sempre.

Depois, é só contar nossos mortos, resignadamente torcendo para que sempre haja um a menos das tragédias anteriores, e assim comemorar nossos "pequenos lucros" dentre as ruínas da nossa mais recente História.

Sinto que somos, a cada dia, um rescaldo calado e resignado.

Aqui, sinto que ainda tenho o direito de tão somente sentir e escrever, e saibam, a liberdade de sentir e de se expressar talvez seja uma das nossas maiores vitórias...quiçá de contados dias.

Cuidemos para que não seja ela o alvo dos nossos futuros rescaldos.