A gravida de Taubaté
Tem algo de belo no comportamento da Sra. Maria Veronica Vieira, a professora de Taubaté que simulou uma gravidez de quadrigêmeos. Também tem algo de estúpido nesta sociedade que vai se acostumando a transformar tudo em mero caso de polícia. Idos os tempos em que os acontecimentos viravam folclore e eram tratados com mais leveza. Aqui, a mídia satura o fato até que ele vire um produto moldado segundo a sua necessidade: que se consuma a notícia. Pior que a atuação de Maria Verônica e seu marido que, de mãos dadas, saíram pelas ruas a levar a público sua “boa nova”, é a atuação da mídia com a polícia que, de mãos dadas, saíram a campo para transformar tudo em lixo regurgitado.
A priori, uma gravidez é sempre o evento mais bonito, sobretudo se for desejada e planejada, como foi este o caso. Não deixo de lembrar o poema de Pessoa “O poeta é um fingidor, e finge tão completamente, que às vezes finge ser dor a dor que deveras sente”.
Bonita também foi a atitude do sr. Kleber que assumiu logo o seu lugar de pai, sobretudo, porque, diante da dúvida (se o filho era dele ou não, e não se ela estava grávida), tomou a sua decisão. Mulher de sorte essa Maria.
Por que simular uma gravidez? Para dar um golpe financeiro ou coisa que o valha? A mulher estava feliz “grávida”. Ela queria crescer junto com a barriga. Ver tudo em harmonia. Por mais que se trate de uma simulação, não consigo deixar de ver no gesto de Maria Verônica uma ato de poesia pura, e no corpo, simulada ou não. Afinal, não somos todos, em algum grau, poetas fingidores do que deveras sentimos?
SP 23/01/2012