A Hipocrisia dos Costumes.

“Sem liberdade de criticar, não existe elogio sincero”

(Pierre Beaumarchais)

Não assisto o BBB 12 nem torço para que o programa tenha sucesso, porque desejo, ardentemente, que o assoreamento do rio de dinheiro em torno do qual, seja a barreira de que necessito para que o povo brasileiro se veja livre desse instrumento de banalidades.

Entretanto, como todo brasileiro, sou navegante da internet e, como tal, não poderia ficar alheio aos inúmeros blogs e infindáveis noticiários sobre a primeira faceta da “Casa do Bial”, que tem causado perplexidade em nossa sociedade pseudomoralista. O paradoxo é tamanho porque a maioria das pessoas demonstra êxtase com o programa na esperança de ver pornografia, entretanto, em caminho inverso surge uma polêmica sobre a possível prática de estupro dentro da redoma global.

O mais estranho, é que está parecendo que, mesmo ante da indiferença demonstrada pela provável vítima, ao afirmar veementemente de que não houve o crime que estão querendo ‘plantar’, há uma insistência quase demente para que haja apuração e punição do eventual autor do crime contra os costumes. Aliás, a própria emissora adiantou-se na resposta a esses meios de repressão eliminando o participante que teria praticado o ‘ato desprezível’.

Confesso que a cada dia me surpreendo com a conduta humana. Todos são cientes de que muitos brasileiros ficam noite à dentro para poder flagrar atos de pura volúpia, diante dos supérfluos relacionamentos que são encaixados dentro do ambiente de clausura, com fins duvidosos, mas, que, notadamente, acabam surgindo quando os ‘brothers’ estão motivados pelo alto teor etílico, já que faz parte do show a distribuição de bebida alcoólica aos participantes.

Não vi a cena e nem acho necessário vê-la, para poder emitir um parecer e para expressar minha revolta com todo esse burburinho, como se isso também fizesse parte do script global. Até o acadêmico iniciante é capaz de compreender que o crime de estupro é de natureza condicionada. Ou seja, trata-se de ação pública condicionada que exige a vontade da vítima para poder processar seu algoz. O ato voluntário da ofendida é regulado pelo procedimento chamado de representação. Não haverá crime, caso a vítima diga que não se sentiu ofendida com o fato. Ora, como a moça (que eventualmente teria sofrido o estupro) tem se manifestado no sentido de que o acontecimento foi fruto de um momento lúdico, não demonstrando importância para o fato de ter sido bolinada. Por que alguns ficam pressionando a autoridade policial para apurar os fatos?

Cecília Meireles, poetisa brasileira, num momento de pura sapiência, disse: “O Escritor é a pessoa que diz o que muitos sentem e não sabem expressá-lo. Nossa responsabilidade é de dizer essas coisas com clareza. E há, também, essas coisas que nem todas as pessoas sentem, mas que o escritor ensina a sentir”.

Pois bem. Sinto-me na obrigação de manifestar minha opinião sobre o fato, porque pressinto que esse episódio é mais um embuste para que a Globo refaça sua audiência, já que o programa BBB está muito desacreditado no mundo dos críticos, especialmente daqueles que se preocupam com nossa cultura, já que nunca se viu tantas amenidades e tantas cretinices num só programa.

Caso o episódio não faça parte do script do programa, há alguém importante que abriu a porteira dessa hipócrita execução de um crime, já que não se concebe que um programa tão cheio de atos que atentam contra os costumes, venha, de uma hora para outra tornar-se alvo de moralismo por alguns.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 17/01/2012
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