O IMPASSE DA CRACOLÂNDIA DE SAMPA

OPINIÃO DE MUNÍCIPE PAULISTANA:

O assunto é delicado, polêmico, entristecedor, político, social e antigo.

Antigo porque decerto que não se faz uma cracolândia do tamanho da nossa da noite para o dia.

Faz muito tempo que, ao andar pelas ruas de São Paulo, principalmente nas imediações do centro velho, eu venho perguntando a mim mesma como conseguimos chegar aonde chegamos, posto que se chegar neste dramático estado social caótico, deveras, demanda por certo tempo de indiscutível negligência sócio-política.

Se partirmos do pressuposto de que a cidade tem uma Secretaria de Bem Estar Social e outra de Infra Estrutura Social, esta última que diz cuidar dos espaços públicos desordenadamente habitados, como é o caso dos vãos dos viadutos de Sampa, é de se deduzir que todos somos culpados, falhamos cronicamente como cidadãos eleitores e como gestores.

Triste conclusão.

E hoje o cenário pegou fogo: As Câmaras dos Vereadores e dos Deputados Estaduais entraram em erupção numa calorosa discussão entre situação e oposição governamental: em pauta os direitos humanos dos drogaditos.

Todos discursaram: os políticos e suas legendas idealistas nem sempre realistas, as ONGS, os padres, a polícia, o Ministério Público, OS ESPECIALISTAS EM SAÚDE , enfim, de súbito, todos MUITO preocupados ( e já era tempo!) em prol de se encontrar uma solução emergencial para o que há muito tempo já é emergência agonizante: o nosso grave problema das cracolândias volantes e perambulantes que crescem a cada dia aos olhos curtos de quem tem o poder e o dever de cuidar do social para a primordial finalidade do bem estar comum, em suma, para o bem estar de todos.

A drogadição está longe de ser apenas um grave problema de saúde pública, é uma sociopatia degradante que destrói tudo, o indivíduo e o seu meio.

O cenário de discussão que nos foi mostrado pela imprensa, para mim, me pareceu uma nítida e lamentável vitrine.

Num ano de interesse claramente político todos querem mostrar a cara, longe de nos mostrarem as soluções, aliás, fica muito difícil para qualquer gestor, seja ele de ontem ou de hoje, tentar nos explicar o inexplicável: o nível de descaso histórico e atual com o tudo de absurdo social que acontece solto nas ruas da maior cidade do Brasil.

Sou Paulistana de berço e de coração, amo minha cidade, mas também tenho um coração de mãe para com o berço em que nasci, um coração que obviamente reconhece o tudo de belo que temos aqui, a despeito de não cegar os olhos com as tristezas ocorridas na cidade, as que tocam profundamente o meu coração num inconformismo perene.

Dia vinte e cinco de Janeiro está aí, e digo que também cantarei Sampa como o Caetano...

Saibam: "alguma coisa também acontece no meu coração..."

E até a festa, decerto que só propagandas belíssimas irão ao ar para nos convencerem de que estamos num paraíso.

É assim aqui, é assim no Brasil.

Todas as piores mazelas para debaixo dos tapetes das duvidosas intenções. Até que as águas de Março, aquelas que vêm depois de todos os carnavais, soterrem as nossas esperanças nos dilúvios das ingerências, da incompetência alarmante e desmedida, do pouco caso com quem ainda tenta e acredita construir um país melhor: os cidadãos.

Sorte, São Paulo. Sorte, Brasil.

Quem sabe um dia façamos jus a tudo que somos, a tudo que nos é de Direito mais que legítimo: Uma Nação em Ordem e Progresso. Mas... "de verdade".